JOÃO PEDRO PITOMBO
SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) - A Justiça do Ceará suspendeu nesta sexta-feira (10) a intervenção do comando nacional do PDT no diretório estadual, em um novo capítulo da disputa interna que opõe os irmãos Cid e Ciro Gomes.
A decisão em caráter liminar foi proferida pelo juiz Cid Peixoto do Amaral Neto, que atendeu a um pedido do diretório do Ceará liderado por Cid Gomes. O magistrado acolheu o argumento de que a intervenção afrontou os princípios do contraditório e da ampla defesa.
Procurado neste domingo (12), o deputado federal e presidente nacional interino do PDT, André Figueiredo, não atendeu aos contatos da reportagem.
A intervenção no PDT do Ceará foi aprovada em 27 de outubro, em um encontro da executiva nacional do partido no Rio de Janeiro. Derrotado na ocasião após uma reunião tensa, que teve bate-boca e dedo em riste entre aliados dos dois irmãos, Cid ameaçou deixar o partido.
Cid e seus aliados acusam o atual presidente do partido, André Figueiredo, de romper acordo que havia sido firmado em julho sobre a direção do braço cearense do PDT. Ele havia se licenciado do cargo e cedido a presidência para Cid, com o compromisso de ser reconduzido em dezembro.
No entanto, Figueiredo decidiu antecipar a volta da licença após a divergência sobre os rumos do diretório, o que desencadeou a briga judicial. Para resolver o impasse, o presidente chamou a reunião da executiva que decidiu pela intervenção no diretório local.
A disputa entre os dois grupos já havia registrado novos embates ao longo da semana. Em uma reunião conduzida pelo senador Cid Gomes na quarta-feira (8), o PDT do Ceará concedeu cartas de anuência para 23 filiados deixarem o partido, incluindo deputados federais e estaduais. As cartas foram anuladas no mesmo dia pelo comando nacional do PDT.
Dias antes, Ciro Gomes decidiu elevar o tom durante discurso na convenção estadual do PSDB no Ceará e disse que o estado está sendo destruído "pela traição".
"O nosso estado do Ceará está sendo destruído daquele caminho que nós trilhamos. Está sendo destruído pela traição. Está sendo destruído pelo descompromisso", afirmou Ciro, no palanque tucano.
O centro da divergência entre as duas alas do partido no Ceará é o alinhamento do PDT com o governador Elmano de Freitas (PT) e possíveis alianças com o PT nas eleições municipais de 2024.
De um lado, Cid Gomes tem costurado parcerias com PT e defende a manutenção da aliança com o governador. Seu principal temor é que o rompimento resulte em uma possível revoada de prefeitos e possíveis candidatos nos municípios, causando uma desidratação do PDT antes mesmo das eleições.
A ala ligada a Ciro Gomes e André Figueiredo, por sua vez, defende que o PDT mantenha uma postura de independência frente ao governo do PT. Nacionalmente, os dois partidos são aliados -o presidente licenciado da legenda, Carlos Lupi, é ministro da Previdência do governo Lula.
No cenário atual, a maioria dos deputados estaduais e federais pedetistas são favoráveis à aliança com o PT no Ceará. Na contracorrente, contudo, estão nomes de peso do partido, caso de Ciro Gomes e do ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio, derrotado na disputa pelo governo de 2022.
Em julho, quando assumiu o comando do diretório do PDT no Ceará, Cid Gomes falou em "virar a página" do rompimento com o PT em 2022 e indicou que iria, dentro das instâncias partidárias, fazer enfrentamento interno aos dissidentes, incluindo o seu irmão e ex-governador Ciro Gomes.
Cid traçou um plano de trabalho para os próximos meses que inclui três frentes: organizar uma comissão para conversar com legendas aliadas, levantar potenciais candidaturas a prefeituras nos municípios cearenses e solidificar a organização interna do partido.
Um dos principais imbróglios está em Fortaleza. O prefeito Sarto Nogueira (PDT), que é mais próximo a Ciro, quer disputar a reeleição, mas não tem o apoio do PT nem da ala pedetista ligada a Cid Gomes.
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