SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O presidente Lula (PT) iniciou sua atuação como cabo eleitoral de Guilherme Boulos (PSOL) ao colocar o aliado no palco de uma cerimônia do governo federal, neste sábado (16), em Itaquera (zona leste). A eleição do deputado federal à Prefeitura de São Paulo é uma das prioridades do petista para 2024.

A solenidade que marca a estreia do presidente na pré-campanha foi escolhida a dedo para favorecer Boulos, que atua na pauta de habitação. Lula anuncia as obras de um empreendimento a ser construído em parceria com o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), liderado pelo parlamentar.

Políticos do PT, do PSOL e de outras legendas da coligação também participam do evento, o primeiro a reunir Lula e Boulos na capital desde que o PT oficializou o apoio à pré-candidatura, em agosto. Entre os presentes estavam os ministros Fernando Haddad, Marina Silva, Paulo Teixeira, Alexandre Padilha e Jader Filho.

Lula destacou que os empreendimentos também terão recursos do governo estadual e municipal e lamentou a ausência do prefeito Ricardo Nunes (MDB) e do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). "Eles foram convidados e não vieram, mas se viessem seriam tratado com respeito, porque educação a gente aprende em casa."

Líder nas pesquisas de intenção de voto, Boulos vê como um trunfo o envolvimento de Lula na campanha. Ele cita os índices de popularidade do presidente na cidade e o resultado da eleição de 2022, quando Lula teve mais votos no município do que o então presidente Jair Bolsonaro (PL).

No palco do evento neste sábado, Lula acompanhou de pé o vídeo institucional sobre o lançamento do programa e recebeu das mãos de uma beneficiária do programa uma bandeira do MTST.

Boulos afirmou que não foi lançada antes, apesar de o local estar pronto desde 2019, porque havia na Presidência "alguém que não olhava para o povo, que governava com ódio". Destacou o fato de Lula, a quem chamou de o "melhor presidente que o Brasil já teve", lançar a iniciativa ainda em seu primeiro ano de governo, antes do Natal.

"Daqui um ano, um ano e meio, vamos voltar aqui para entregar as chaves e fazer um churrasco para esse povo. Obrigado, presidente Lula, por devolver a esperança para o povo pobre desse país."

A estreia de Lula na eleição paulistana ocorre em meio às articulações que ele está fazendo para atrair de volta ao PT a ex-prefeita Marta Suplicy e torná-la candidata a vice. A proposta, revelada pela Folha de S.Paulo, ganhou corpo nos últimos dias com um telefonema do presidente para a ex-petista.

A operação é complexa não só porque Marta saiu rompida do partido, mas também porque ela é secretária de Relações Internacionais da gestão Ricardo Nunes (MDB), que tentará a reeleição. Lula deve aproveitar a passagem por São Paulo para conversar pessoalmente com ela e tentar sacramentar a costura.

Neste sábado, o ministro Alexandre Padilha disse que a decisão sobre Marta cabe à campanha de Boulos, mas elogiou o nome da ex-petista.

"A Marta Suplicy tem uma grande experiência por ter sido prefeita de São Paulo. Você anda na periferia de São Paulo e houve saudades muito grandes, o povo gosta muito da Marta, então é uma pessoa que certamente vai ter uma influência sobre o destino da cidade de São Paulo."

Marta tem desafetos no PT por ter votado a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) e virado uma crítica do partido em que militou por 33 anos até se desfiliar, em 2015, rumo ao MDB. Apesar das arestas a serem aparadas, a avaliação é que a presença dela ampliaria as chances de Boulos.

Lula assina o contrato para o início das obras do empreendimento Copa do Povo, que fará parte do programa Minha Casa, Minha Vida - Empreendimentos. As unidades habitacionais serão erguidas em uma área invadida em protesto pelo MTST às vésperas da Copa do Mundo de 2014.

O terreno reivindicado pelo movimento fica perto da Neo Química Arena, uma das sedes da Copa. Segundo o MTST, o projeto das construções foi aprovado em 2017, mas ficou travado pelo governo federal, sobretudo no período Bolsonaro.

O movimento atribui à gestão Lula a retomada do diálogo entre as esferas federal, estadual e municipal para a autorização das obras. O empreendimento com 2.650 apartamentos será tocado pelo MTST.

Na quinta-feira (14), durante evento para anunciar os colaboradores de seu futuro programa de governo, o deputado disse a jornalistas que a atividade ao lado de Lula é "muito simbólica" para ele.

"Para aqueles que gostam muito de atacar movimento sem-teto e ficam fazendo caricaturas de invasão, de ataques, de preconceito ao movimento, [mostraremos que] a Copa do Povo é nada mais, nada menos que o maior programa de habitação popular da cidade, gerido pelo MTST", afirmou.

Boulos vem adotando uma estratégia para rebater as pechas de radical e extremista exploradas por adversários como Nunes, que se refere a ele como invasor de propriedades. O psolista tenta suavizar a imagem defendendo o papel de movimentos sociais e sinalizando disposição ao diálogo.

LULA ESTARÁ EM ATOS NA CAPITAL EM 2024

Lula prometeu a Boulos uma participação ativa na campanha. Segundo aliados, o presidente vai conciliar o papel institucional com as atividades de militante partidário. A expectativa é que ele intensifique a presença na cidade ao longo do próximo semestre para solenidades do governo.

Além de ter agido para pacificar a situação no PT e dissipar a resistência de alas da legenda à aliança com o PSOL, Lula determinou que o governo aumente o ritmo de anúncios e medidas na cidade para impulsionar Boulos e promover uma identificação de seu nome com agendas positivas.

Desde que tomou posse, Lula teve uma agenda escassa de compromissos na capital. O ato deste sábado é um dos primeiros que o presidente fez na cidade com presença de público e tom festivo. Nos meses iniciais de seu terceiro mandato no Planalto, o petista priorizou viagens internacionais.

Nos últimos dias, o próprio Boulos e outros líderes do PSOL e PT fizeram convocações para que suas bases comparecessem à solenidade.

A eleição do ano que vem será a primeira desde a redemocratização em que o PT não terá candidato próprio na capital paulista. Lula fechou em 2022 um acordo com Boulos em que ele, em troca da aliança em 2024, abriu mão de concorrer ao governo estadual para apoiar Fernando Haddad (PT).

O PT já governou a cidade três vezes, com Luiza Erundina (hoje no PSOL), Marta e Haddad. Em 2020, Boulos chegou ao segundo turno e foi derrotada por Bruno Covas, de quem Nunes herdou a cadeira. O psolista foi eleito com 1 milhão de votos em 2022 para seu primeiro mandato como deputado federal.

Reprodução | Agência Brasil - Lula põe Boulos em palanque e inaugura agenda de cabo eleitoral em SP

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