SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Depois de episódios de afastamento, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) selou o apoio de Tarcísio de Freitas (Republicanos) e esteve ao lado do governador em dois compromissos consecutivos, o que é visto pela equipe do emedebista como um ativo na busca pela reeleição.
O anúncio público da aliança veio logo após o revés sofrido com a migração da agora ex-aliada Marta Suplicy para a chapa do principal adversário, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL).
Nunes esteve com Tarcísio em evento no Palácio dos Bandeirantes nesta terça-feira (16), quando o governador anunciou publicamente que o apoia na eleição, e novamente nesta quarta-feira (17), na inauguração de uma usina fotovoltaica flutuante na zona sul de São Paulo. Aliados dizem que a repetição da agenda conjunta foi coincidência.
Estrategistas que cercam o prefeito afirmam, contudo, que a grande maioria dos eleitores dele têm uma imagem positiva de Tarcísio e que o governador é um apoio de peso na campanha eleitoral.
Interlocutores de ambos os lados afirmam que os projetos conjuntos, sobretudo na segurança pública e na revitalização do centro, serão explorados como trunfos para Nunes e como contraponto a Boulos, que é opositor de Tarcísio.
"O paulistano gosta de ver prefeito e governador trabalhando juntos", afirmou o secretário de Governo da gestão Tarcísio, Gilberto Kassab, que como presidente do PSD declarou apoio a Nunes no mês passado.
A pouco mais de oito meses da eleição municipal, auxiliares de Nunes pregam que o foco do prefeito deve estar totalmente nas entregas e demandas do município e, nesse sentido, os compromissos públicos com Tarcísio reforçam os feitos da gestão.
Na terça, ao lado do governador, Nunes disse que ficou muito feliz com o apoio --que, de certa forma, alivia a perda de Marta e cria uma pauta positiva para o prefeito.
Tratado como certo nos bastidores, o embarque de Tarcísio na campanha do emedebista chegou a ser colocado em dúvida depois que o governador declarou, em 19 de dezembro, que não se envolveria em campanhas em que houvesse "bola dividida" e não iria "se colocar contra" o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em "decisão nenhuma".
Naquele momento, Bolsonaro, com quem Nunes também conta no palanque, havia feito um gesto de apoio à pré-candidatura de Ricardo Salles (PL). Dias depois, no entanto, Tarcísio, Bolsonaro e Valdemar Costa Neto, pactuaram, segundo o presidente do PL, o apoio a Nunes.
Por isso, como mostrou a Folha de S.Paulo, a recente desavença entre Valdemar e Bolsonaro poderia afetar a eleição em São Paulo. Há receio de que o ex-presidente não entre de cabeça na campanha de Nunes e ainda incentive Salles a ser candidato.
Aliados de Nunes minimizam a instabilidade com Bolsonaro e veem o apoio público de Tarcísio como um sinal de que o ex-presidente estará no mesmo projeto.
Na opinião de bolsonaristas, é o apoio do ex-presidente, e não de Tarcísio, que vai agregar votos a Nunes. Eles lembram que o governador só anunciou seu apoio ao prefeito de forma mais clara depois que Valdemar declarou que o PL e Bolsonaro estariam com o emedebista.
Entre aliados de Tarcísio, a avaliação é a de que a parceria entre o governador e o prefeito é natural e tende a se ampliar com a proximidade do pleito, mas é preciso ter cuidado para demarcar a separação entre gestão e campanha.
Eles ponderam que a aliança estava colocada desde o ano passado, embora tenha havido momentos de estranhamento.
Nos bastidores, esses aliados afirmam que a declaração pública de apoio desta terça já era esperada dado o nível de colaboração entre eles e as sinalizações anteriores, mas não havia sido previamente combinada.
Na cerimônia para anunciar crédito subsidiado para moradias, Tarcísio foi questionado por jornalistas se o eleitor poderia entender que ele apoiaria a reeleição do emedebista. "Acho que o eleitor pode entender, sim", respondeu.
"O que a gente tem aqui é uma grande parceria, uma parceria de trabalho", disse Tarcísio, acrescentando que Nunes era "muito parceiro" e isso dava "um grande conforto".
Quem acompanha a relação entre Nunes e Tarcísio diz que eles se dão bem --seria uma dupla que "deu match", segundo um aliado.
Ao longo de 2023, prefeito e governador demonstraram alinhamento, por exemplo, ao condenarem as greves no transporte público. Em outubro, eles atuaram em dobradinha para tachar Boulos de radical e baderneiro a partir da paralisação.
Já no episódio da tarifa zero aos domingos e do reajuste da tarifa, em dezembro, Nunes e Tarcísio ficaram em campos opostos. O governador chegou a criticar a tarifa zero e não abriu mão do aumento no fim do ano, enfraquecendo a agenda positiva do emedebista.
Mesmo naquela ocasião, porém, auxiliares de Nunes e Tarcísio afirmaram que o apoio do governador à reeleição não havia sido abalado. Tarcísio chegou a dizer que tinha "zero atrito" com Nunes, e o prefeito disse à Folha de S.Paulo que estava "tudo ótimo" e que a relação era de amizade.
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