BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Parlamentares e dirigentes do PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), apontaram perseguição na operação da Polícia Federal que mirou o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), nesta quinta-feira (25).
Aliados do presidente Lula (PT) e integrantes do governo, por sua vez, veem gravidade na investigação que mirou funcionários da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) por suposta espionagem ilegal e buscam atrelar a responsabilidade dos fatos ao ex-mandatário, uma vez que o esquema de arapongagem seria para benefício dele e de seu entorno.
O caso de Ramagem, segundo aliados de Bolsonaro, reforça a perspectiva de que há perseguição contra o bolsonarismo por parte do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). Eles citam como fato para reforçar essa tese a recente operação contra o deputado federal Carlos Jordy (PL-RJ), na semana passada. Jordy também foi alvo de buscas pela PF na apuração que busca identificar pessoas que planejaram, financiaram e incitaram os ataques do 8 de janeiro de 2023 às sedes dos três Poderes.
As duas ações foram autorizadas pelo STF, onde as apurações tramitam sob a relatoria de Moraes.
Tanto Jordy como Ramagem são bolsonaristas raiz, sendo o ex-diretor da Abin considerado ainda mais próximo e da confiança da família. Os dois também são pré-candidatos do partido em Niterói e no Rio de Janeiro, respectivamente. Bolsonaristas afirmam que as investigações são uma forma de prejudicá-los eleitoralmente.
Nas redes sociais, Jordy disse nesta quinta que "nem no regime militar houve tantas perseguições".
"A Justiça tirou a venda, jogou fora a balança e sobrou apenas a espada. Se não houver uma reação do Congresso Nacional para restabelecer as prerrogativas e o equilíbrio, a ditadura chegará a todos, até naqueles que aplaudem a tirania", afirmou.
Já o líder do partido no Senado, Rogério Marinho (RN), cobrou uma ação do Congresso Nacional, assim como outros integrantes do partido o fizeram ao longo do dia.
"A operação de hoje envolvendo o deputado Ramagem estabelece um padrão de excepcionalidades contra a oposição no Brasil. E reforça a urgência de o Congresso agir para proteger as prerrogativas do Parlamento e reafirmar o nosso compromisso com o reequilíbrio entre os Poderes e a retomada da normalidade democrática", afirmou.
Reservadamente, as operações reforçaram o entendimento entre deputados e senadores bolsonaristas de que é necessário eleger o maior número possível de senadores em 2026, com o objetivo de poder conseguir levar adiante propostas que cercam o STF, como o impeachment de ministros.
À Folha, Valdemar Costa Neto, presidente do partido, chamou de "frouxo" o presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), por avaliar que ele não atua pelos interesses do Parlamento. A resposta veio poucas horas depois, quando o senador disse que o dirigente "passa pano" nos bastidores para a corte.
Bolsonaro não se manifestou, mas republicou um vídeo de Ramagem, nas redes sociais, em que ele fala sobre a ferramenta de espionagem e se defende. O mesmo fez o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro, que está atuando na pré-campanha de Ramagem e deve deixar o Republicanos para presidir o diretório municipal do PL.
Em outra frente, integrantes do governo e aliados do presidente Lula (PT) buscam fazer o elo entre a operação sobre espionagem ilegal e o ex-presidente Bolsonaro.
O ministro Flávio Dino (Justiça) destacou que não teve acesso ao inquérito, mas afirmou que se trata de uma "modalidade de corrupção" a informação de que pessoas e autoridades foram espionadas ilegalmente.
"Quando uma instituição comete uma ilegalidade, quando membros dessa instituição se apropriam indevidamente dela para praticarem ilegalidades, é algo realmente que merece reprovação, observado o devido processo legal."
Para ele, a Polícia Federal, o STF e o Ministério Público Federal têm agido com prudência para "separar o joio do trigo" e para preservar o direito de defesa.
"Acho que o Brasil vive a plenitude democrática, amadurecimento das instituições da Constituição, e por isso mesmo não pode ser banalizada uma invasão de privacidade, uma espionagem política, como se fosse algo próprio da política."
A declaração de Dino ocorreu no Ministério da Justiça, depois de o ministro receber uma homenagem de entidades que representam forças de segurança.
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, por sua vez, buscou atrelar Bolsonaro às práticas cometidas pela Abin e defendeu punição ao caso.
"O inquérito da Policia Federal e do STF sobre a espionagem ilegal da Abin é um dos maiores escândalos da história da República. Comprova que Jair Bolsonaro e seus cúmplices nunca tiveram limites para grampear, perseguir e usar instituições de estado contra seus adversários", afirmou Gleisi.
"O que foi revelado, atingindo parlamentares, governador de estado, tribunais superiores, é apenas a ponta de um novelo que envolveu dezenas de milhares de pessoas espionadas pelo pior presidente de todos os tempos".
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