SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Polícia Federal cumpre nesta segunda-feira (29) novos mandados de busca e apreensão na investigação envolvendo a chamada "Abin Paralela" do governo Bolsonaro. Está entre os alvos da nova etapa da operação o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Além da residência e gabinete do vereador no Rio de Janeiro, foram cumpridos mandados em Angra dos Reis (RJ), Brasília (DF), Formosa (GO) e Salvador (BA).

Segundo a PF, o objetivo da nova fase é mirar pessoas que teriam sido destinatárias de informações produzidas ilegalmente pela agência. Carlos teria recebido ilegalmente informações e materiais clandestinos da Abin, segundo a apuração da PF.

De acordo com as investigações, o CIN (Centro de Inteligência Nacional) usava ilegalmente o software israelense FirstMile para monitorar a geolocalização de adversários do ex-presidente.

A agência também teria feito relatórios de alguns adversários. Alguns dos alvos seriam o ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), e Camilo Santana, atual ministro da Educação e então governador do Ceará.

A suposta realização de atividades ilegais na Abin já foi comentada por Gustavo Bebianno, ex-ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência no governo Bolsonaro.

O próprio ex-presidente já falou, em reunião ministerial de abril de 2020 depois divulgada, que teria um sistema de inteligência "particular".

Além de Carlos, Flávio e Jair Renan, outros dois filhos do ex-presidente também teriam sido beneficiados com ações da agência.

A Abin teria levantado informações contra auditores da Receita Federal para beneficiar Flávio em investigações envolvendo um suposto esquema de rachadinha em seu gabinete na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) à época.

Já Jair Renan teria sido beneficiado com o uso da agência para atrapalhar investigações envolvendo ele e empresas que tinham ou tentavam ter contratos com o governo federal.

IDEIA DA ABIN PARALELA

Em entrevista em março de 2020 ao programa Roda Viva, da TV Cultura, Gustavo Bebianno, ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência no governo Bolsonaro, afirmou que circulava no governo um plano para monitorar adversários políticos.

Bebianno afirmou que a ideia foi de Carlos Bolsonaro e que ele, Augusto Heleno (GSI) e Carlos Alberto Santos Cruz (Secretaria de Governo) tiveram ciência do plano.

"Um belo dia o Carlos me aparece com o nome de um delegado federal e de três agentes que seriam uma Abin paralela porque ele não confiava na Abin ", afirmou.

Segundo Bebiano, Jair Bolsonaro foi aconselhado a não colocar o plano em prática.

"Muito pior que o Gabinete do ódio, aquilo também seria motivo para o impeachment", afirmou. Bebianno disse não saber se a ideia de Carlos teria sido implementada ou não.

SISTEMA DE INTELIGÊNCIA PARTICULAR

Em reunião ministerial em abril de 2020, o então presidente Jair Bolsonaro afirmou que tinha um sistema de inteligência particular.

Ele também fez críticas à atuação do sistema de inteligência brasileiro e disse que ele desinformava.

" Eu tenho a PF que não me dá informações, eu tenho as inteligências das Forças Armadas que não têm informações. A Abin tem seus problemas, tem algumas informações. Só não tem mais porque está faltando realmente... temos problemas. Aparelhamento, etc.", afirmou.

Sobre um sistema de inteligência particular, disse: "O meu particular funciona. Os outros que têm oficialmente desinformam. E voltando ao tema: Prefiro não ter informação do que ser desinformado por sistema de informações que eu tenho".

Em live no YouTube neste domingo (28), Jair Bolsonaro negou a existência de uma "Abin paralela" para monitorar adversários.

Ele relativizou a fala da reunião ministerial em que disse ter um sistema de inteligência particular e disse que fazia referência a contatos que fazia com autoridades para entender situações que acometiam o país, sem a ocorrência de ações ilegais.

CIÊNCIA DO MONITORAMENTO

Joice Hasselmann, ex-deputada pelo PSDB de São Paulo, afirmou, em entrevista ao Uol no último dia 25 de janeiro, que chegou a ouvir rumores sobre a Abin paralela quando era aliada do ex-presidente.

Segundo a investigação da PF, ela teria sido um dos alvos monitorados ilegalmente pela agência.

"Eu sabia desse monitoramento desde o final de 2019. O próprio Bebianno enquanto era vivo já tinha falado dessa Abin paralela comandada pelo Ramagem. Era uma das coisas que preocupavam bastante o Bebianno", disse na entrevista.

Hasselmann disse que, na época, Bebianno chegou a comentar com ela a existência da Abin Paralela, mas que ela não levou "tão a sério".

A ex-deputada disse ainda que teria ouvido uma conversa sobre o assunto entre o ex-presidente e o General Heleno, em uma ocasião em que entrou na sala da presidência da República sem ser anunciada.

Hasselmann afirmou ter, na época, conseguido confirmar a existência da Abin paralela. Ela também teria identificado que estava sendo seguida depois de ter rompido com o governo.

Na entrevista, Hasselmann também afirmou que acredita que a PF ainda vai descobrir a existência de grampos ilegais feitos pelo governo.


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