BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) chamou os inquéritos que tramitam no STF (Supremo Tribunal Federal) sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes de "brinquedinhos" que o magistrado usa para "perseguir quem bem entender".
A declaração ocorre poucos dias depois de a PF (Polícia Federal) realizar uma operação contra seu filho Carlos Bolsonaro, por suspeita de existência de uma "Abin paralela" durante o seu governo.
À reportagem o ex-chefe do Executivo disse que Carlos está chateado, mas que busca e apreensão não é novidade para sua família e afirmou que não está preocupado.
Além do inquérito sobre a Abin, o segundo filho do ex-presidente é alvo de outras duas investigações no STF: das fake news e das milícias digitais. O próprio Bolsonaro, seus filhos e aliados também estão na mira de diferentes apurações na corte que estão sob relatoria de Moraes.
"Chateado todo mundo fica, né, mas está tranquilo. Para nós, isso não é novidade, uma busca e apreensão como fizeram comigo ano passado. Não é novidade isso aí, chegar PF aqui com papel na mão, 'por ordem do senhor excelentíssimo ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito tal'. Inquérito dele, né, brinquedinho dele lá é os inquéritos que ele tem para perseguir quem bem entender", disse Bolsonaro.
Durante a conversa, o ex-presidente relembrou da operação desta semana, repetiu que é vítima de perseguição e que estão fazendo pescaria probatória, como disse à coluna Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo. Bolsonaro falou ainda ter havido abuso de autoridade por parte do órgão executor, no caso, a PF (Polícia Federal), mas questionado, disse que não daria mais detalhes.
Ele se queixou de terem revirado sua casa em Angra (RJ) ?o mandado era para busca e apreensão de itens do vereador que estava na casa de veraneio do pai.
Bolsonaro chamou o episódio de "operação esculacho" e não mencionou o adversário presidente Lula (PT) diretamente, mas se queixou de tratamento diferenciado aos filhos do petista, a quem chama de "ladrão". "Por que vem para cima da minha família o tempo todo? Não é de hoje, né", afirmou.
A investigação busca averiguar se havia um sistema paralelo de inteligência na Abin com intuito de espionar adversários políticos. A agência, à época, estava sob o comando de Alexandre Ramagem, hoje deputado federal e pré-candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro.
Na decisão em que autorizou as buscas, o ministro Alexandre de Moraes relata que o objetivo da PF foi "avançar no núcleo político, identificando os principais destinatários e beneficiários das informações produzidas ilegalmente no âmbito da Abin [Agência Brasileira de Inteligência]".
À Folha de S.Paulo Bolsonaro negou saber da existência do software israelense FirstMile, que faz rastreio por geolocalização de telefones celulares. Ele ainda desdenhou da tecnologia: "De que vale? Não grampeia, não fotografa, não faz nada. Gastaram dinheiro com algo inútil".
A Abin adquiriu sem licitação um software de monitoramento de localização de celulares em 2018, no fim da gestão de Michel Temer, por R$ 5,7 milhões. Mas o sistema só foi usado por servidores da agência nos três primeiros anos do governo Bolsonaro.
O FirstMile permite realizar consultas de até 10 mil celulares a cada 12 meses. Era possível, ainda, criar alertas em tempo real, para informar quando um dos alvos se movia para outros locais.
Bolsonaro disse ainda que não confiava em informações de inteligência da Abin e das Forças Armadas e que sequer via relatórios de inteligência, desde o segundo mês de governo, num argumento que deve ser explorado pela sua defesa.
"No segundo mês de governo, já falei para o general [Augusto] Heleno que não queria mais relatório da Abin. Desde o segundo mês de governo, eu não tive na minha frente nenhum relatório da Abin, nenhum", afirmou. Heleno vai depor na próxima semana na PF a respeito da suspeita da "Abin paralela".
Ele voltou a dizer que seu sistema de inteligência "particular" era seus "amigos pelo Brasil".
Questionado se estaria preocupado com eventuais desdobramentos da operação, Bolsonaro negou. "Eu tinha que ficar preocupado se eu tivesse roubado alguma coisa, se tem algo fora da lei. Não tive nada de errado. Qual problema deles? É minha popularidade", disse.
"Acabei de decidir que, apesar de não ter mais depoimento dia 7 [no caso da importunação à baleia], vamos fazer um ato para a população. Você está convidada a comparecer para ver se o povo gosta de mim ou não", completou.
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