SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Enfraquecido após a eleição de 2022, o PSDB de São Paulo elege um novo comando neste domingo (25) com o objetivo de construir unidade, mas com o primeiro desafio de definir um rumo na eleição da capital, que divide o partido entre os que defendem uma candidatura própria e os que querem apoiar a reeleição de Ricardo Nunes (MDB).
A convenção estadual será realizada na Assembleia Legislativa, com a presença do governador do Rio Grande do Sul e presidenciável, Eduardo Leite, e do presidente do PSDB, Marconi Perillo.
No caminho para superar desavenças passadas entre os grupos ligados a João Doria (que deixou o PSDB em outubro de 2022) ou Leite, os tucanos paulistas conseguiram montar uma chapa única para a eleição do novo diretório estadual.
Falta, porém, definir os nomes que vão ocupar postos-chave na executiva, algo que deve ser decidido por consenso até domingo.
A escolha do presidente está entre o ex-deputado Miguel Haddad, o prefeito de Ribeirão Preto, Duarte Nogueira, o ex-presidente Marco Vinholi e o atual, Paulo Serra, que é prefeito de Santo André. Quem acompanha as tratativas diz que não há brigas e sim esforço de convergência.
Procurados pela reportagem, no entanto, Paulo e Duarte dizem que não pleiteiam presidir o partido, e os demais dizem não ter colocado seus próprios nomes.
Os cotados para comandar a sigla no estado dizem à Folha de S.Paulo estar alinhados com a diretriz da executiva nacional de lançar um candidato na capital. Mais do que isso, defendem a candidatura de Leite para a Presidência em 2026, e portanto seria importante ter um tucano concorrendo em São Paulo --pleito que funciona como vitrine para projetar a sigla.
A tese da candidatura própria tem um obstáculo de ordem prática: a falta de nomes competitivos no partido. São cogitados o ex-vereador Andrea Matarazzo (que sairia do PSD), o ex-deputado Ricardo Tripoli, o ex-vereador Mario Covas Neto, o secretário Carlos Bezerra Jr. e o ex-senador José Aníbal.
Boa parte dos tucanos, no entanto, incluindo a bancada de vereadores, vai apoiar Nunes, já que sua gestão é a de Bruno Covas (PSDB), eleito em 2020 e morto no ano seguinte. O PSDB está entranhado na prefeitura com uma série de cargos, o que direciona o partido a apoiar a reeleição, na opinião de alguns líderes da sigla.
Há, inclusive, uma ameaça de debandada dos 8 vereadores na capital, seja para retaliar o partido por eventualmente não apoiar Nunes seja pelo atraso e falta de planejamento da legenda para a eleição municipal, o que pode prejudicá-los. A rejeição e a perda de força eleitoral do PSDB também contribuem para a avaliação de que em outros partidos eles têm mais chances de reeleição.
Alguns tucanos defendem ainda que, caso a candidatura própria naufrague, o partido apoie Nunes, mas com a condição de ocupar a vice na chapa, posto já previsto para o PL e cobiçado por outras siglas.
A primeira missão da nova executiva estadual a partir de domingo será justamente organizar o diretório municipal da capital, que está sem liderança desde que o então presidente, Orlando Faria, deixou o posto e embarcou na pré-campanha de Tabata Amaral (PSB). O apoio à deputada na eleição é outra opção aventada em parte do tucanato, mas com menor adesão.
Nesse ponto há divergência entre os potenciais presidentes do PSDB-SP entre realizar uma convenção municipal ou nomear uma executiva provisória, diante do calendário apertado. A janela partidária vai de 7 de março a 6 de abril.
Caso seja feita a convenção municipal, o ex-presidente municipal Fernando Alfredo, que foi substituído por Orlando por decisão de Leite, poderia voltar ao posto --e ele prega o apoio à reeleição de Nunes, contrariando a orientação da candidatura própria.
No caso de São Paulo, no entanto, a decisão final a respeito do rumo na eleição municipal depende da direção nacional.
Antes da convenção deste domingo, Perillo atuou para que a ala de Doria não tivesse uma maioria tão grande na chapa. A convenção estadual foi marcada pelo presidente nacional em meio a um impasse com Paulo, que queria realizar a convenção apenas mais adiante.
Perillo pediu que o novo presidente seja atuante e tenha dedicação total ao partido, critério que os prefeitos Paulo e Duarte não conseguiriam cumprir. Paulo, no entanto, pode seguir à frente da presidência estadual da federação PSDB-Cidadania.
Paulo compõe o grupo que defendeu Leite nas prévias presidenciais do PSDB de 2021 e que conta com o apoio de outro importante cacique, Aécio Neves (MG). Ele passou a controlar o partido no estado a partir da intervenção do gaúcho, que assumiu o PSDB nacional em 2023, o que representou a derrocada do grupo ligado a Doria, que inclui Vinholi e Duarte, além de Fernando Alfredo.
A escolha do novo presidente esbarra ainda nos projetos pessoais de cada um --Paulo e Duarte vislumbram a candidatura ao governo em 2026, enquanto Vinholi mira a Câmara dos Deputados.
Já experimentados no posto de presidente estadual, Vinholi e Paulo teriam menos apoio devido a insatisfações com a gestão de ambos. Aliados de Vinholi dizem que ele tem maioria na chapa, mas detratores afirmam que sua rejeição é alta na militância.
Vinholi rebate e diz que sua gestão elegeu um recorde de prefeitos. "Defendo que a gente possa retomar esse protagonismo. O clima é bom, com uma unidade que há muito tempo não se via no partido." Ao Painel ele disse não haver mais "grupo de A e grupo de B" e afirmou que o PSDB-SP vai trabalhar pela campanha de Leite em 2026.
Paulo, por sua vez, diz que sua gestão construiu diálogos que levaram a essa chapa única. "Estamos conscientes da importância da união para a reconstrução do PSDB e estamos conectados pelo projeto de eleger Leite em 2026", diz.
"Não vejo como uma disputa, o partido precisa de harmonia. Não pode haver vencedores e vencidos, ou todos ganham ou todos perdem", afirma Duarte. Para Miguel, "o diretório estadual tem a missão de resgatar a história do PSDB".
Partido que dominou o Governo de São Paulo por quase 30 anos, o PSDB encolheu no estado. Em 2020, elegeu 172 prefeitos, chegou a 238 em 2022 e hoje tem cerca de 30.
O cenário de terra arrasada se explica pela série de reveses e ausência de líderes --João Doria motivou uma série de atritos e a sigla não teve candidato a presidente em 2022; Rodrigo Garcia perdeu a reeleição e se afastou do dia a dia do partido; Geraldo Alckmin migrou para o PSB e se aliou a Lula (PT); José Serra e Fernando Henrique Cardoso estão aposentados; e Bruno Covas morreu de câncer.
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