SÃO PAULO, SP, E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Em recentes depoimentos à Polícia Federal, os ex-comandantes Marco Antônio Freire Gomes (Exército) e Carlos Baptista Júnior (Aeronáutica) implicaram ainda mais o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) com a trama golpista preparada em 2022 para impedir a posse do hoje presidente Lula (PT).

A Folha de S.Paulo obteve acesso à íntegra dos depoimentos dos ex-comandantes à Polícia Federal.

O ex-presidente já foi condenado pelo TSE por ataques e mentiras sobre o sistema eleitoral, por exemplo, e é alvo de diferentes outras investigações no STF. Neste momento, ele está inelegível ao menos até 2030.

Caso seja processado e condenado pelos crimes de tentativa de golpe de Estado, tentativa de abolição do Estado democrático de Direito e associação criminosa, o ex-presidente poderá pegar uma pena de até 23 anos de prisão e ficar inelegível por mais de 30 anos.

Bolsonaro ainda não foi indiciado por esses delitos, mas as suspeitas sobre esses crimes levaram a Polícia Federal a deflagrar uma operação que mirou seus aliados em fevereiro.

Veja a seguir um resumo do que os ex-comandantes disseram à Polícia Federal.

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1) REUNIÃO NA DEFESA SOB TENSÃO

Freire Gomes (Exército) e Baptista Júnior (Aeronáutica) contaram à PF que o ministro da Defesa do governo Bolsonaro, general Paulo Sérgio Nogueira, convocou os chefes militares para apresentar proposta para um golpe.

A reunião foi tensa e, segundo os relatos feitos à PF, o comandante da Aeronáutica deixou o gabinete do ministro da Defesa antes do término do encontro. Eles afirmaram que a reunião ocorreu no dia 14 de dezembro de 2022.

2) MINUTA LIGADA A BOLSONARO

O ex-comandante Freire Gomes (Exército) disse à PF que a minuta golpista encontrada na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres é a mesma versão que foi apresentada por Bolsonaro aos chefes das Forças Armadas em reunião em dezembro de 2022.

No depoimento, o general afirmou que o documento foi apresentado por Bolsonaro em uma segunda reunião entre os chefes militares e o então presidente da República.

3) TROPAS DA MARINHA À DISPOSIÇÃO

O ex-comandante Baptista Júnior (Aeronáutica) afirmou à PF que o ex-comandante da Marinha Almir Garnier Santos colocou tropas à disposição de Bolsonaro ao discutir planos para tentar impedir a posse de Lula.

"Que em uma das reuniões com os comandantes das Forças após o segundo turno das eleições, dentro do contexto apresentado pelo então presidente Jair Bolsonaro, de utilização dos institutos, de GLO e defesa, o então comandante da Marinha, Almir Garnier, afirmou que colocaria suas tropas à disposição de Jair Bolsonaro", diz trecho do depoimento de Baptista Júnior ao qual a Folha teve acesso.

4) PRISÃO DE BOLSONARO

Baptista Júnior (Aeronáutica) afirmou à PF que Freire Gomes (Exército) chegou a comunicar que prenderia Bolsonaro caso ele tentasse colocar em prática um golpe de Estado.

"Depois de o presidente da República, Jair Bolsonaro, aventar a hipótese de atentar contra o regime democrático, por meio de alguns institutos previsto na Constituição (GLO ou estado de defesa ou estado de sítio), o então comandante do Exército, general Freire Gomes, afirmou que caso tentasse tal ato teria que prender o presidente da República", disse o ex-comandante da FAB.

5) GOLPE POR UM FIO

No depoimento, Baptista Júnior (Aeronáutica) disse que, se o então comandante do Exército, general Freire Gomes, tivesse concordado, um golpe teria sido consumado para impedir a posse de Lula.

"Indagado se o posicionamento do general Freire Gomes foi determinante para que uma minuta de decreto que viabilizasse um golpe de Estado não fosse adiante respondeu: que sim, que caso o comandante tivesse anuído, possivelmente, a tentativa de golpe de Estado teria se consumado", diz trecho do depoimento de Baptista Júnior à PF.


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