Victória Mello pretende governar para os trabalhadores e acabar com as privatizações em JF

Candidata pelo PSTU, a professora, ao lado do vice Waldir Giacomo, acredita que o gerenciamento da saúde, educação e transporte deve ser realizado pela Prefeitura

Nathália Carvalho
Repórter
10/9/2012

Dando continuidade à sequência de matérias especiais com os candidatos à Prefeitura de Juiz de Fora nas eleições municipais deste ano, o Portal ACESSA.com abre espaço para a candidata do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), Victória Mello, da frente de esquerda Juiz de Fora para os trabalhadores. Aos 56 anos, Victória atua politicamente desde os anos 1990, quando filiou-se ao PT. Foi candidata a vereadora nas eleições municipais de 2000 e permaneceu no partido até 2005. Victória tem três filhos e é professora da educação básica nas redes municipal e estadual. Já atuou como dirigente do Sindicato dos Professores de Juiz de Fora (Sinpro-JF), da Central Única dos Trabalhadores regional (CUT) e, atualmente, compõe o Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG).

A ordem alfabética foi estipulada como parâmetro para a sequência das matérias publicadas no Portal, entretanto, devido à solicitação de mudança na data de entrevistas com três candidatos, a publicação de Victória foi antecipada para esta segunda-feira, 10 de setembro.

As perguntas feitas aos candidatos foram realizadas com base no caderno especial sobre eleições da ACESSA.com. Confira, abaixo, o bate-papo realizado com Victória e com o candidato a vice-prefeito, Waldir Giacomo, pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL). Assista, ainda, ao vídeo acima gravado com a candidata.

ACESSA.com – Qual é a sua proposta para melhorar a questão do transporte para a cidade?

Victória - A nossa proposta é a municipalização do transporte ou, em outras palavras, a estatização. Temos que tirar a gestão do transporte das mãos da iniciativa privada e passar para o comando da gestão pública. O modelo de concessão pública utilizado há décadas em Juiz de Fora tem resultado em problemas muito graves para os trabalhadores. Há 30 anos que eu moro na cidade e, como trabalhadora, percebo os mesmos gargalos: imensa espera nos pontos de ônibus, ficar em pé dentro dos coletivos e ainda pagar um alto preço pelas passagens. Isto acontece porque, se a gestão é privada, o objetivo é o lucro e, com isso, cinco ou seis famílias da cidade estão tornando-se ricas com base na exploração do transporte coletivo. O nosso objetivo durante os quatro anos é de municipalizar o transporte e, de imediato, vamos abaixar a tarifa e analisar as questões jurídicas que envolvem a realização de todo o processo em médio prazo.

ACESSA.com – O que você pensa da implantação de sistema troncalizado? Haveria essa possibilidade?

Victória – Sim, haveria essa possibilidade se nós concluirmos, diante de estudos e análises, que esse sistema é importante para melhorar a qualidade do transporte para o trabalhador. Isto já foi tentado em outra gestão e não deu certo, acarretou em um problema gravíssimo na Zona Norte, inclusive tenho colegas que vivenciaram a situação. O projeto foi suspenso, a Prefeitura gastou um porte considerável de dinheiro público para construir e ele não foi utilizado, certamente porque não houve um planejamento adequado para instalar esse sistema.

ACESSA.com – Juiz de Fora conta com projetos para a implantação de ciclovias, principalmente na região Norte. Seria uma solução para o problema do trânsito?

Victória – Somos favoráveis à implantação de ciclovias, mas não acredito que seja uma solução para o problema, até porque a maior parte dos trabalhadores não anda de bicicleta. Mas, certamente, o nosso objetivo é estimular o transporte alternativo, principalmente para quem quer ir trabalhar, gosta do esporte, cuida da saúde ou por outras razões.

ACESSA.com – O que falta para a melhoria da educação na cidade?

Victória – O que falta para melhorar a educação na cidade é aumentar o investimento neste setor. Nós, trabalhadores em educação, temos uma luta histórica em nosso país que é a reivindicação do investimento de 10% do PIB [Produto Interno Bruto] nacional para a educação pública no país inteiro. Certamente, essa reivindicação aumenta o aporte de repasse federal para os municípios, o que melhoraria a situação na cidade.

Mas, tratando especificamente de JF, nós temos a proposta de investir, no mínimo, 30% do orçamento da Prefeitura em educação pública. Milhares de crianças de 0 a 5 anos estão fora das creches na cidade porque não há vaga nem número de creches suficientes. Este investimento será importante para que possamos construir mais creches, mais escolas e melhorar as que já existem. Além disso, o nosso projeto para educação está baseado na concepção de escola em tempo integral, mas não nos moldes que existem hoje na rede estadual e municipal, que baseia-se em um depósito de crianças. Isto porque, se não tiver equipamento, espaço físico adequado e pessoal preparado e bem remunerado para ficar o dia inteiro com as crianças, não será ideal. Precisamos de escolas públicas com espaço e ensino adequado para que as crianças e jovens tenham acesso ao conhecimento, mas possam vivenciar também a cultura, o lazer, o esporte, a dança e a capoeira, baseado em algo realizado ao longo de um período inteiro, desde a manhã até o final do dia.

A outra questão da educação é a valorização dos trabalhadores na educação, com absoluta certeza. Existe uma lei federal que traz o piso salarial nacional e que ainda não é cumprida na cidade, precisamos que a Prefeitura assuma esse compromisso. Há também a previsão de redução do tempo em que o professor deve permanecer em sala de aula, até para que ele possa ter mais disponibilidade para preparar suas aulas, corrigir provas, trabalhos, estudar, ler, enfim, preparar-se para ser um trabalhador mais completo. E isso acarretaria, até mesmo, na geração de mais empregos para o magistério local.

ACESSA.com – Como fazer da cidade um polo integrado de desenvolvimento econômico? Visto que temos, por exemplo, o Expominas, distante e com infraestrutura precária.

Victória – Quando o Expominas foi construído, nós não entendemos o porquê de realizar aquela estrutura enorme naquele lugar e ainda com investimento público. Quanto dinheiro foi gasto naquele elefante branco. E quem usa aquilo? Qual a melhoria que aquela estrutura trouxe para os trabalhadores de Juiz de Fora? Nenhuma. Mas a estrutura está lá e, obviamente, temos que trazer funcionalidade para o espaço, no sentido em que consigamos trazer melhorias econômicas para a cidade.

Mas, falando da economia em Juiz de Fora, sabemos que a cidade tem um forte potencial para prestação de serviços e para o turismo, o que é muito pouco explorado de uma forma geral. Recentemente, fiquei sabendo que a cidade tem 22 museus e percebo que a população também não sabe dessa informação e muito menos conhece esses locais. Temos uma universidade pública, que produz muitas soluções na área tecnológica, objeto importante para o desenvolvimento na cidade. O nosso projeto é fazer um grande plano de obras públicas, que deverão ser realizadas por empresas ligadas ao Estado e não pelas empresas privadas. Esse dinheiro que os empresários embolsam como lucro ao fazer obras deve ser direcionado para o investimento social e construção de mais obras públicas.

O nosso plano de obras públicas é baseado na construção de moradias, que não seja feita por empreiteiras que constroem coisas ruins; na melhoria das escolas que já existem para torná-las adequadas; construção de centenas de creches, escolas e unidades de saúde espalhadas pela cidade. Além disso, vamos construir centros de cultura e lazer, para que os jovens tenham locais com segurança e condições dignas para se encontrarem quando não estão na escola. Este conjunto de obras certamente irá dinamizar a economia da cidade.

ACESSA.com – Como explorar a possibilidade de crescimento do comércio para além da área central? Temos casos de bairros que desenvolveram essa atividade, como São Mateus, Benfica e Manoel Honório, mas que já registram fechamentos devido à falta de segurança e ao preço elevado dos aluguéis, por exemplo.

Victória – Esta é uma questão muito importante porque o nosso projeto se preocupa muito com os bairros periféricos da cidade. As administrações anteriores têm trazido muito investimento para o Centro da cidade apenas, o que causa um congestionamento de pedestres e carros nestes locais. Este acúmulo de pessoas é sufocante e traz à tona a necessidade de mobilidade urbana para os trabalhadores. É importante realizarmos um projeto em que as pessoas possam vir ao Centro apenas caso precisem e que, no cotidiano, elas possam vivenciar seu próprio bairro, fazendo consultas médicas, estudando, realizando o lazer e a cultura. É necessário estimular essas questões, mas oferecendo também condições de segurança e tranquilidade, que sejam coordenadas pela Prefeitura.

ACESSA.com – A saúde é apontada como um dos principais problemas da cidade. Qual é a sua visão a respeito desse segmento?

Victória – Realmente, as pessoas têm reclamado constantemente e sabemos que isso acontece, até porque somos trabalhadores e vivenciamos esta situação. Isto acontece pelo baixo investimento na saúde e também porque as gestões anteriores da Prefeitura de Juiz de Fora têm utilizado o método de privatização da saúde, por meio das terceirizações, nas quais os prédios e equipamentos que foram comprados com dinheiro público vão para a gestão privada, o que acaba causando a precarização do serviço oferecido. Precisamos desprivatizar a saúde para que esse dinheiro seja investido no próprio setor, ao mesmo tempo em que pressionarmos o governo federal para também investir no mínimo 6% do PIB na saúde.

Outro problema é o baixo salário dos profissionais da saúde. Sabemos que não adianta construir clínicas e hospitais se não houver médico e medicamento adequado. E falta médico porque o salário é baixo e não há condições de trabalho. Por exemplo, muitas vezes o médico tem que decidir se atende a um idoso ou uma criança, porque não dá para fazer os dois, o que é uma coisa terrível. Como está tudo muito precarizado, os trabalhadores da saúde saem extremamente prejudicados porque não há concurso público e transparência com relação aos trabalhadores terceirizados.

ACESSA.com – Quais seriam as medidas necessárias para a melhoria da segurança em Juiz de Fora?

Victória – Nesta questão, temos clareza que o aumento da violência que tem ocorrido em Juiz de Fora e no Brasil como um todo é decorrente da desigualdade social. Mas na cidade, nós achamos que se tivermos escola em tempo integral, onde as crianças fiquem lá o dia todo, sendo assistidas por profissionais capacitados e valorizados; se construirmos centros de cultura e lazer espalhados pela cidade e se nós conseguirmos um conceito de segurança e policiamento na cidade que seja baseado na coletividade, ou seja, a população participando e dizendo como deve ser a segurança nos seus bairros, aí sim entendemos que é possível melhorar significativamente a segurança.

E, para que o juiz-forano possa se sentir mais seguro, é necessário que a Prefeitura discuta seriamente uma integração das polícias na cidade, e isso precisa acontecer em todo o lugar. O poder público é o responsável por esse papel, pela segurança nos locais e da população, que paga os impostos. Este orçamento deve ser investido nas questões da segurança, e os moradores devem ser ouvidos e considerados nesta questão, já que são parte integrante e fundamental neste processo.

Luta conjunta

Candidato a vice-prefeito pela chapa de Victória Mello, o professor da rede estadual, Waldir Giacomo, de 51 anos, diz que pretende trabalhar em conjunto com a prefeita na luta diária, em busca de defender os direitos dos trabalhadores, com uma parceria de ação nas ruas. Giacomo, que também foi filiado ao PT por muitos anos, é o fundador do PSOL em Juiz de Fora, onde é presidente, e foi ainda o primeiro filiado do mesmo partido em Minas Gerais, onde exerce o cargo de secretário.

O candidato explica que o grande diferencial desta coligação é que não haverá diferenças nem preferências políticas. "Vamos governar pelo município, atuando a favor da classe trabalhadora. Não temos compromisso com a elite que domina a cidade há tanto tempo e por isso faremos um governo que não deve nada a nenhuma classe", explica. Além disso, Giacomo garante que a população estará à frente das decisões como peça fundamental na construção do governo.

Os textos são revisados por Mariana Benicá

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