Quinta-feira, 22 de janeiro de 2009, atualizada às 16h45
Criadores de cães estão preocupados após confirmação de dois casos de leishmaniose em Juiz de Fora
Repórter

Os criadores de cães em Juiz de Fora estão preocupados com as consequências dos dois casos de leishmaniose confirmados este mês, na cidade. O receio é que a falta de informação leve ao abandono e, até mesmo, à matança de cães pelos donos dos animais.
O presidente do núcleo juizforano de criadores de cães pastores alemães, Antônio Augusto Gomes Pereira, defende que houve falta de políticas públicas para evitar que Juiz de Fora registrasse casos autóctones da doença. Para o presidente, o foco das campanhas governamentais apenas no combate à raiva deixou de lado outras doenças importantes, como a erliquiose e a badesiose, além da própria leishmaniose.
"Eu trabalho há 30 anos com cães e nunca vi um cachorro com raiva, porque tem vacinação
todo ano. Há mais de dez anos, a nossa luta é contra as doenças causadas por carrapato,
responsáveis por muitas das perdas de cães. Mas nunca foi feito nada para se combater.
Agora surge a leishmaniose e, mais uma vez, nada é feito."
Antônio Agusto acredita que os cães e os mosquitos não podem ser considerados os principais
causadores da leishamniose, já que a doença é originária dos animais silvestres.
"O mosquito que transmite essa doença é um animal que vive na mata. Se o homem causa
o desmatamento e as queimadas, é claro que o mosquito vai chegar até a cidade."
De acordo com o chefe do setor de Zoonoses da Secretaria de Saúde de Juiz de Fora,
José Geraldo de Castro Júnior, ainda é cedo para fazer um diagnóstico
da situação na cidade. Quase 200 cães das proximidades do bairro Tiguera, onde foram confirmados
os dois casos, foram submetidos a exames de sangue, que ainda
estão sendo analisados em Belo Horizonte. "Após os resultados é que teremos uma
idéia da situação da doença aqui em Juiz de Fora"
, explica.
A vacina para o combate à leishmaniose em cães ainda passa por fase de testes no Brasil e
não foi autorizada pelo governo. A melhor maneira de prevenir a doença, segundo
José Geraldo, ainda é o cuidado com a limpeza, principalmente nos quintais.
"A
característica do transmissor, conhecido como mosquito palha, é se reproduzir em locais
com muita matéria orgânica. Por isso é importante cuidar desses terrenos."
A presidente da Sociedade Juizforana de Proteção aos Animais e ao Meio Ambiente,
Maria Elisa de Souza, também acredita que não há motivos para o pânico,
mas ressalta que ações preventivas devem ser tomadas. "Temos que lembrar que essas
doenças são causadas pela ação do homem. A capacidade que o ser humano teve de tirar
as matas das periferias fez com que a mosca se adaptasse ao perímetro urbano. Então,
agora nos resta ter calma. Temos que começar a retirar toda a possibilidade de procriação
desse mosquito"
, explica.
A melhor prevenção, de acordo com ela, é eliminar locais de possível abrigo para os mosquitos, como as folhas secas que caem nos quintais e o lixo acumulado. Algumas coleiras vendidas nos pet shops também podem ajudar o cão a manter distância do mosquito transmissor.
"Quando o dono abandona o animal e o retira dos cuidados básicos da residência, aí
sim ele está propiciando o foco da doença. O 'jogar fora' não vai fazer com que a
leishmaniose pare. O correto é manter o animal e o quintal higienizados e, com isso, nós
vamos conseguir combater, não só a leishimaniose, como todas as outras doenças causadas
pelo erro do humano no acúmulo de lixo."