Terça-feira, 11 de janeiro de 2011, atualizada às 16h52

Usuários denunciam precariedade no serviço de Tratamento Fora de Domicílio

Clecius Campos
Repórter
Foto da audiência pública

Usuários do Departamento de Tratamento Fora de Domicílio (TFD) da Secretaria Municipal de Saúde de Juiz de Fora denunciaram a precariedade do serviço, em audiência pública ocorrida nesta terça-feira, 11 de janeiro, na Câmara Municipal. Familiares de pacientes que necessitam ser levados para outras cidades, devido à inexistência de atendimento em algumas especialidades em Juiz de Fora, reclamaram de irregularidades no transporte, dificuldade em obter o serviço e pouco apoio financeiro em casos de auxílio alimentação e hospedagem.

A moradora do bairro Solidariedade, Ana Maria Procópio Silva, diz que utilizar o serviço tem sido difícil. Ela tem uma filha com síndrome de down e paralisia cerebral. "Desde que a Justiça percebeu algumas irregularidades, por causa de denúncias que chegaram à Ouvidoria, tenho que escrever um relatório, informando que tratamento minha filha teve que fazer em São Paulo. Se o médico já passa o atestado, dizendo que o tratamento só pode ser feito em São Paulo, por que tenho que provar, a cada viagem, que estive lá para cuidar da saúde da minha filha?" Ela refere-se a denúncias de coleta de dinheiro dos usuários para ajudar a pagar a gasolina dos carros de transporte e de casos em que usuários foram deixados em outra cidade, esquecidos pelos motoristas. O serviço é terceirizado pela Prefeitura.

Além dessas dificuldades, Ana Maria mencionou a falta de cintos de segurança em alguns carros e a inexistência da cadeirinha especial para pessoas com deficiências. "Tive que comprar uma cadeirinha para a minha filha e quando fui ver, o carro não tinha o cinto. Não dava nem para prender a cadeirinha."

A burocracia também foi criticada pela moradora do Milho Branco, Ana Ângela Guedes. Ela leva um filho a São Paulo de três em três meses para exames de acompanhamento. "Toda vez que eu for, tenho que mostrar o tal documento dizendo que meu filho fez o exame." Sobre a precariedade do transporte, ela disse que prefere ir de ônibus. "Vou ao TFD e faço o pedido do valor da passagem. Não dá para confiar no motorista. Teve vez de mandarem um motorista bêbado conosco", denunciou.

A moradora do bairro Nova Era, Cátia Aparecida Lima, leva um filho para fazer tratamento em São Paulo há dez anos. De seis em seis meses, ele passa pela substituição de uma prótese ocular. Todo o procedimento, da internação à recuperação, leva cinco dias. "Preciso do auxílio alimentação e de hospedagem, mas o dinheiro é pouco e não dá. Tenho que ficar na casa de conhecidos e contar com a solidariedade dos outros." A ouvidora da Saúde, Samantha Borchear, endossa as reclamações, comumente recebidas no órgão. Ela informa que a diária paga pelo município é de R$ 30. "Esse valor não paga nem o táxi." A vereadora Ana Rossignoli (Ana do Padre Frederico - PDT) afirma que recebeu denúncias de que, certa vez, usuários tiveram que dividir a despesa do combustível para um dos veículos, pois a gasolina havia acabado. "É um absurdo uma coisa dessa."

A subsecretária de Regulação, Débora Lonnez, afirma que muitos dos problemas relatados foram solucionados com a realização de uma nova licitação, que escolheu a atual empresa para realizar o serviço. Ela informa que o departamento faz 80 transportes por mês e que a exigência de documentação e a demora no agendamento de algumas viagens devem-se ao "andamento dos processos." Ela revela que o baixo valor disponibilizado para auxílio alimentação e moradia é o destinado pelo Ministério da Saúde, sendo o município incapaz de revê-lo. Sobre os problemas de transporte, ela afirma que a Secretaria de Saúde solicitou a inclusão de um veículo doblô para o deslocamento de passageiros com necessidades especiais, que não necessitam obrigatoriamente de serem transportados por ambulâncias.

O advogado da locadora de veículos que opera o serviço atualmente, Samuel Esteves dos Reis, diz que a empresa cumpre integralmente o contrato e com a melhor qualidade possível. Ele destaca que os todos os veículos possuem cinto de segurança, mas que é impossível transportar pacientes deitados. Reis informou que as necessidades especiais devem ser repassadas à SS que fica responsável por providenciar as adaptações ou o transporte em ambulâncias.

Os textos são revisados por Thaísa Hosken