Esperada alta no preço trigo pode chegar às prateleirasA incerteza no abastecimento, causada pela queda na produção argentina de trigo, é o grande motivo para o encarecimento dos grãos

Clecius Campos
Repórter
22/2/2010

A alta no preço do grão do trigo, esperada pela Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abritrigo), pode chegar às prateleiras de supermercados e padarias de Juiz de Fora em março. O vice-presidente da entidade, Antenor Barros Leal, não tem dúvida de que o encarecimento da matéria-prima será repassado para o consumidor. "Imagino que o reajuste nos preços finais deve ser influenciado unicamente pela alta do trigo, já que a inflação está sob controle", opina.

De acordo com Leal, é difícil apontar um possível índice de ajuste no preço do grão, por ser produto primário de exportação, conhecido como commodity internacional. No entanto, ele acredita que o aumento virá. "O reajuste é eminente diante da incerteza no abastecimento, causada pela queda na produção argentina do trigo, nossa principal fornecedora."

O presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Massas Alimentícias (Abima), Cláudio Zanão, crê que um aumento no preço final do macarrão deve ocorrer caso o reajuste no trigo seja permanente. "As commodities podem variar para cima ou para baixo, mas o mercado não costuma acompanhar essa ondulação. Caso ocorra um aumento fraco, a indústria pode absorvê-lo, para que não haja aumento no preço. Se a situação for de um encarecimento persistente, o aumento do macarrão será inevitável."

A farinha de trigo representa 60% da matéria-prima para a produção das massas comestíveis. Segundo Zanão, caso a commodity tenha reajuste de 10%, por exemplo, o macarrão terá aumento de até 6%. "Se a commodity subir 5%, as massas sobem 3%. Teremos que esperar a definição desse ajuste." Em 2009, o preço médio de massas secas no Brasil era de R$ 3,78 por quilo. No mesmo ano, as massas instantâneas custavam R$ 9,62, enquanto as massas frescas saíam a R$ 9,83.

Foto de macarrão Foto de pão

O gerente de compras de uma padaria no centro de Juiz de Fora, Alex Alves, acredita que a alta no valor do pão será inevitável com um aumento no preço do trigo. "Se não repassarmos a diferença para o consumidor, não teremos condições de comprar novamente. É uma situação normal." No entanto, Alves informa ter notado queda no preço da farinha de trigo. "Compramos cada saco de 25 quilos por R$ 26,50* esse mês, R$ 1 a menos que no mês passado. O ajuste do trigo é muito variável."

O proprietário de outra padaria, Alberto Gonçalves, afirma que mesmo que haja reajuste, o preço do pão em seu estabelecimento não será alterado. "Não vou repassar a diferença para o consumidor, mesmo que tenha que lucrar menos", garante.

Brasil precisará buscar novos mercados

Leal culpa o governo Kirchner pela retração da produção argentina de 18 milhões de toneladas/ano em 2008 para 8 milhões toneladas/ano em 2009, sendo 5 milhões de toneladas/ano destinados ao abastecimento interno. Como o Brasil produz, no Rio Grande do Sul e no Paraná, apenas 50% das 10 milhões de toneladas anuais que consome, a busca pelo alimento em outros mercados é essencial. "O Estado de Minas Gerais, por exemplo, importa 100% do trigo que consome. Sem o trigo da Argentina, o Brasil terá que comercializar com os Estados Unidos, Canadá, Europa e França."

Tais fornecedores, além de oferecer o produto a preços mais caros que o país vizinho, estão mais longe e os encargos que envolvem o transporte dos grãos tornam o trigo ainda mais oneroso. "Mesmo assim, é mais interessante fazer as importações. O trigo brasileiro não é de qualidade excepcional e, muitas vezes, o transporte rodoviário do interior do Paraná até o Porto de Paranaguá é mais caro que toda a viagem do trigo do Canadá até o Brasil, passando pelo canal do Panamá." Segundo dados da Abritrigo, em 2009, a tonelada do trigo produzido no Paraná custava em média R$ 509, enquanto o alimento argentino saía a R$ 476 a tonelada.

Os textos são revisados por Madalena Fernandes