Crise política e econômica pode desencadear casos de transtorno de ansiedade
A ansiedade patológica é resultante de preocupações excessivas que geralmente interferem no funcionamento psicossocial, com prejuízo na vida pessoal e no trabalho
Repórter
24/12/2016
Marcado por crises políticas, econômica e social, o ano de 2016 encerra turbulento no país. A situação vivenciada nos últimos meses provoca uma ansiedade natural diante do quadro de grande instabilidade. Mas nos casos de ansiedade patológica as preocupações são excessivas e geralmente interferem de forma significativa no funcionamento psicossocial, provocando prejuízo na vida pessoal e no trabalho. Para entender melhor sobre este problema e como enfrentá-lo da melhor forma, a ACESSA.com conversou com a psicóloga especialista em terapia cognitivo-comportamental Thainara Lopes.
Thainara afirma que o momento difícil vivenciado no Brasil gera preocupações e ansiedades a respeito do futuro que se mostra imprevisível, até mesmo pelo medo do desemprego, de dívidas e de necessários cortes no orçamento, por exemplo. No entanto, pensamentos desagradáveis aumentam essa insegurança. “Geralmente são catastróficos, sem evidências que podem realmente acontecer, aumentando sua ansiedade e incapacitando para as atividades diárias. Outros pensamentos que causam estagnação são os gerados por emoções como tristeza e desesperança e podem evoluir para depressão”, destaca.
As crises de ansiedade podem evoluir para um quadro de transtorno que envolvem sintomas como preocupação excessiva e dificuldade de controlá-la. Além disso, o paciente pode apresentar reações físicas como, dores de estômago, enjoo, coração acelerado, respiração ofegante ou falta de ar, tensão muscular, dores pelo corpo, sensação de estar com os nervos à flor da pele, cansaço, irritabilidade, dificuldade de concentração e dificuldade para dormir ou manter o sono.
O desconhecimento dos sintomas associados ao transtorno pode fazer com que as pessoas achem que o problema possa estar relacionado a algo mais grave. Situação vivida por uma professora universitária, que preferiu não se identificar. “Comecei a sentir uma falta de ar e respiração que não se completava, como se estivesse com problema respiratório. No início, não percebi que o fato estivesse relacionado aos problemas da política no país. Mas, com o tempo, percebi que minha frequência às redes sociais e aos sites noticiosos me deixavam angustiada com tanta confusão e notícia ruim”, conta.
A professora chegou a procurar um especialista em otorrinolaringologia, que diagnosticou uma sinusite. Ela tomou antibiótico por 14 dias que não resolveu o problema. “Como continuei com os sintomas, resolvi procurar uma pneumologista. No exame clínico, ela me disse que não observava nada de errado. Muito provavelmente, eu estava sofrendo de dispnéia psicogênica, um distúrbio relacionado à ansiedade. Fez um laudo e me encaminhou a um psiquiatra. Depois da consulta, como fiquei mais calma e percebi que minha frequência aos noticiários estava me prejudicando, diminui o acesso e tentei manter uma distância crítica. Os sintomas desapareceram”.
Como minimizar a ansiedade
A psicóloga orienta as pessoas questionarem sempre aquilo que estão pensando, procurar evidências que comprovem o pensamento negativo excessivo a respeito do futuro. Na maioria das vezes eles são exagerados e só atrapalham.
“A ansiedade também aumenta quando tentamos controlar tudo e existem coisas que não podem ser controladas. Portanto, a melhor reação é se perguntar: “Isso está ao meu alcance? O que posso efetivamente fazer para que a situação melhore?” Se não estiver sob sua responsabilidade e ou de alguém com quem possa negociar, desvie o pensamento e tente procurar atividades que aliviem seu estresse e sua ansiedade como atividade física, passeios com a família e os amigos ou atividades que lhe dê prazer”, destaca.
Outras dicas de Thainara é praticar uma alimentação adequada e atividades relacionadas a espiritualidade, que podem ajudar. A psicoterapia também auxilia a entender, analisar e reconstruir as emoções, pensamentos e comportamentos relacionados a esse momento e “ajuda a desenvolver resiliência, ou seja, para que você crie possibilidades, enxergue e desenvolva potencialidades e consiga passar pela crise com mais resistência, força e ânimo”.
Estudos apontam aumento de casos em meio à crise
Um estudo feito em Portugal analisou a forma como a recessão econômica afeta a saúde mental das pessoas. Os dados da pesquisa revelaram que quando a satisfação com a economia diminui, aumenta a sensação de depressão, tristeza, ansiedade e agravamento da vida e diminui e a sensação de calma, paz e felicidade. Esse estudo ainda afirma que os períodos de crise econômica são propensos ao aparecimento de diversas doenças mentais.
Os constrangimentos associados aos períodos de crise, tais como, a perda de emprego, incapacidade para atingir objetivos profissionais, o endividamento, a contenção de despesas e as privações econômicas estão associados à violência familiar ou social, a elevados níveis de estresse, à diminuição da autoestima, ao aumento da ansiedade, depressão e suicídio e ao aumento de comportamentos de risco, como o consumo de álcool e drogas. Essa pesquisa usou dados de 2008 a 2012.
Outro estudo descreveu os efeitos do estresse sobre a saúde do trabalhador, em consequência das incertezas da crise, ou seja, analisando “as questões da crise econômica mundial, globalização, trabalho e estresse” e constatou-se que houve impactos na saúde psíquica dos trabalhadores e que a crise financeira global pode provocar uma onda de problemas mentais e suicídios. Essa pesquisa analisou dados de 1998 a 2009.
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