Especial

 

Laqueadura e vasectomia
Os dois métodos são irreversíveis e recomendados para casos de alto risco ou para mulheres e homens com, no mínimo, dois filhos

Sílvia Zoche
Repórter
30/09/2005

Ouça o que as ginecologistas Rosângela Nascimento e Meiry Terra falam sobre a laqueadura e o que o urologista diz sobre a vasectomia ouça! ouça! ouça! Participe!

 

Ter mais de dois filhos, hoje em dia, não é mais uma vontade tão natural entre casais, por vários motivos, inclusive o financeiro. Por isso, os métodos contraceptivos são grandes aliados no controle da natalidade e alguns recorrem até pela esterilização: laqueadura (na mulher) e vasectomia (no homem).

Mas quem pensa que só porque tem dois ou mais filhos pode optar pela laqueadura ou vasectomia a hora que quiser, está enganado! Antes, o paciente deve receber esclarecimentos sobre o método.


Apesar da Lei 9.263, do Ministério da Saúde, informar que para fazer este tipo de anticoncepção é preciso ter, no mínimo, dois filhos vivos e mais de 25 anos, o paciente é alertado que a anticoncepção cirúrgica é irreversível e que existem outros métodos contraceptivos eficientes para serem usados sem apelar pela esterilização.

Assim acontece no departamento de Saúde da Mulher, da prefeitura de Juiz de Fora. "Algumas mulheres pedem a laqueadura sem ter o perfil. Às vezes, tem 22 anos com quatro filhos e quer fazer esterilização e não possui problema de saúde. Ela recebe, então, esclarecimentos para que desista da cirurgia e use outros métodos anticoncepcionais", conta a chefe do Departamento de Saúde da Mulher, Meiry Aparecida da Silva Terra.

O urologista, Tomaz Jacinto de Fraga Filho (foto ao lado), diz que a primeira coisa que ele pergunta ao homem é se ele é casado e tem dois filhos, no mínimo. "É importante saber se possui, pelo menos, cinco anos de casado. Considero, também, que fazer a cirurgia com 25 anos é cedo. Acredito que 30 anos seja uma idade mais apropriada", comenta o médico.

Se a decisão é pela cirurgia, a pessoa assina um termo de responsabilidade juntamente com o companheiro. "Homem separado, solteiro ou que não venha com a mulher eu não faço a cirurgia, seja pelo SUS ou pelo consultório particular", afirma o urologista.

A data da cirurgia, tanto a laqueadura quanto a vasectomia, é marcada 60 dias depois de assinado o termo. "Esse prazo é para pessoa pensar bem se é isso mesmo que ela deseja. É importante destacar que o objetivo é conscientizar o casal para outros métodos anticoncepcionais", diz a médica ginecologista do Departamento de Saúde da Mulher, Rosângela de Fátima do Nascimento e Silva (foto abaixo, à esquerda).

Em caso de risco para a saúde da mulher - como hipertensão grave, diabete grave, tromboembolismo, anemia falciforme, aneurisma -, a lei permite que ela seja avaliada por dois médicos , dentro de um comitê ético, para dizer se realmente ela precisa da cirurgia, mesmo com menos de 25 anos.

Gestantes que já passaram por duas ou mais cesarianas ou são pacientes de alto risco também podem pedir a laqueadura, mas antes passam pelo grupo de esclarecimento. "Se a cesariana estiver próxima, a orientação é feita da mesma forma, só que em um prazo menor", esclarece Meiry (foto acima, à direita).

Os métodos através da cirurgia
Tanto a vasectomia quanto a laqueadura são métodos cirúrgicos. Antes da cirurgia, são pedidos exames pré-operatórios de urina, sangue e risco cirúrgico. Como toda cirurgia, é preciso estar em jejum.

O tempo cirúrgico da vasectomia, sem contar a preparação, é de 30 minutos e é feito um pequeno corte na bolsa escrotal para cortar os canais deferentes por onde passam os espermatozóides. É importante lembrar que o homem continua ejaculando, produzindo hormônio masculino, líquido seminal e secreção prostática, só que sem presença de espermatozóide. "A diferença entre o esperma de um homem esterilizado e um não esterilizado só é possível de ver no microscópio", explica Fraga.

O homem é liberado logo em seguida e precisa ficar de repouso. Se ele faz muito esforço físico, serviço braçal, como pedreiro ou fica muito tempo sentado, como motoboy, deve ter descanso de sete dias. "Isso para evitar riscos de ter infecção, hematomas e edemas", diz Fraga. Já para quem trabalha com serviços mais leves, como em escritórios, deve repousar por dois ou três dias.

O tempo de operação de uma laqueadura é em torno de 40 minutos e o procedimento é parecido com o da cesariana. Por isso, a mulher precisa ficar internada por um ou dois dias no hospital. Para evitar o contato do óvulo com o espermatozóide, as trompas de Falópio são cortadas. O tempo de repouso da mulher é sempre o mesmo, independente do tipo de trabalho: 10 dias.

Quanto a menstruação, o ciclo normalmente não é afetado. "Se a cirurgia for realizada de acordo com os padrões, fica tudo normal. Dificilmente, acontece da mulher ter uma disfunção hormonal", diz Meiry.

Os casos de reversão espontânea de laqueadura e vasectomia são pequenos, mas podem acontecer. No caso da vasectomia, os livros falam que a cada 2 mil vasectomias, pode haver um caso de recanalização espontânea. Já a reversão a pedido do paciente também pode ser feita no hospital, mas a porcentagem de gravidez pós recanalização é baixa.

Os cuidados
Quem já foi instruído por médicos e está certo sobre fazer a cirurgia precisa tomar alguns cuidados. Assim que marcar a cirurgia, não significa que se está protegido. Usar um método contraceptivo, como a camisinha, por exemplo, é imprescindível. "Existe caso de mulheres que fizeram a cirurgia e oito meses depois estava grávida, porque tiveram relação sexual sem proteção antes da laqueadura", conta Rosângela.

Os homens também devem ser cautelosos, porque depois de feita a vasectomia, ele ainda precisa zerar o espermograma e isso só acontece, em média, depois de 25 ejaculações. Isso, porque ainda restam espermatozóides no canal deferente. "Em torno de três meses pós-cirurgia, cerca de 25 ejaculações, recomendamos que o homem faça um espermograma para saber se realmente não há presenças de espermatozóides", alerta Fraga. Portanto, a indicação é a mesma: use métodos contraceptivos.

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