Ana Stuart Ana Stuart 01/07/2008

Deformidades Emocionais

Ilustração de homem babando por bala Fala-se muito, ultimamente, das deformidades físicas, acrescidas das correções plásticas. Fala-se muito também das deformidades sociais, imbuídas de críticas veementes, proibições, leis e tal...

Mas e as deformidades emocionais? Comecei a procurar nas doenças mentais e psíquicas e acabei não encontrando... Procurei nas deformidades morais e encontrei tantas que um simples artigo não comportaria, principalmente porque as minhas me impediram.

Enfim, fui encontrá-las citadas de forma peculiar no 4° passo dos A.A. (Alcoólicos Anônimos), que é o "Inventário Pessoal", criterioso, investigativo e que vai de encontro a qualquer um de nós. Percebi que é dificílimo, penoso mesmo, levantar estes dados sobre nós mesmos. Percebi também que a partir daí nos deparamos com o nosso maior inimigo: NÓS MESMOS. E então as críticas maldosas diminuem, as compulsões, estes monstros indomáveis, sossegam, pelo menos só por hoje e, a partir daí, nossa auto-estima dá uma erguida tão significativa que até o ESPELHO passa a ficar interessante de se deparar.

Vou citar alguns termos que me deixaram "pré-ocupada", como: instintos desenfreados, que seriam as fissuras responsáveis pela quebra de propósito; perversão doentia da alma, que mostra que esta deformidade provém da alma e daí ser tão difícil de lidar; desajuste frio, que traz antipatia pessoal e alheia, até se detectar que se trata de doença também da alma; revolução ardente, que dispensa comentários...; prazer doloroso e deformado, que são aqueles em que desloco minhas compulsões desenfreadamente;

Prosseguimos morbidamente nesta melancólica atividade, que é a força dentro de nós, maior que nós, levando-nos para o abismo; auto repugnância, que é uma constante, é quando evitamos o espelho; carregar pedra ao invés de carregar a pena, que é escolher viver carregando pedra por achar difícil ter que deslocar todo o tempo atrás da pena "por ser tão leve"; trinca nas paredes construídas pelo seu ego, que fragiliza a caminhada sendo um dos maiores responsáveis pela baixa auto-estima; bebedeira seca, que são os defeitos de caráter do alcoólico que encontra-se em abstinência do álcool, mas com os mesmos costumes deformados da ativa.

Troque-se a palavra bebedeira seca por drogadição seca ou abstêmio, comprador compulsivo, dependente emocional (MADA'S e HADA'S), cyber-woliks (dependentes do computador), work-woliks (compulsivos por trabalho), comedor compulsivo, compulsivo da fofoca, compulsivo do sexo, do chocolate, da musculação, dos anabolizantes, do açúcar, das drogas sintéticas, das anfetaminas, cleptomaníaco, da mentira contumaz, do fumo, da religião, e até do serial killer e por aí vai.

Instintos agitados que impedem a investigação, que é a ansiedade nos impedindo de entrar em recuperação, aliás, o fator que considero o principal fator desencadeante das dependências em geral, como também os maiores bloqueadores da evolução humana quando desenfreadas.

Enfim, são muitos termos, mas vou parar por aqui e dizer que as pessoas que mais admiro são aquelas que se encontram em recuperação das suas deformidades emocionais, pois nas deformidades físicas os médicos cirurgiões dão jeito, as mentais os psiquiatras mantêm sob controle, as morais o poder dos homens tenta controlar, mas as emocionais só dependem de nós mesmos.

Um grande atleta me disse certa vez no consultório que "vence quem sofre mais", portanto, sem querer ser ateniense ou espartana vou deixar registrado aqui minha enorme admiração pelos indivíduos que se encontram em recuperação, mesmo a custa de sofrimento, afinal reforma íntima e reeducação só se consegue lutando ferozmente consigo mesmo - só por hoje!


Ana Stuart
é psicóloga e terapeuta familiar

Sobre quais temas (da área de psicologia) você quer ler novos artigos nesta seção? A psicóloga Ana Stuart aguarda suas sugestões no e-mail viver_psique@acessa.com.