Leite materno protege contra a dengue Em tempos de epidemia, bebês saem ganhando se forem amamentados. O leite humano tem um fator anti-dengue na parte gordurosa que protege a criança
*Colaboração
25/04/2008
Todo mundo sabe que amamentar faz bem para a saúde tanto da mãe quanto para a do bebê, mas o que poucos sabem é que o leite materno protege a criança contra a dengue.
O coordenador da Rede Brasileira de Banco de Leite Humano, João Aprígio,
explica que o leite humano tem um fator anti-dengue na parte gordurosa e isso protege
a criança de uma maneira muito eficaz. "Não é exatamente uma vacina, mas são
fatores que evitam a manifestação da doença enquanto a criança estiver sendo amamentada,
mesmo que seja picada pelo mosquito"
, diz.
A descoberta, feita há três décadas, não é muito conhecida devido, entre outras
deficiências, ao fato de, naquela época, a doença não ser ainda uma epidemia. Retomado
no final da década de 1980, o estudo revelou ainda outros fatores não descritos
anteriormente e comprovou que em situações de dengue a mãe pode e deve continuar
amamentando. "Pesquisas realizadas há mais ou menos dez anos no nordeste brasileiro
em fase de surto de dengue, encontraram núcleos familiares em que todas as pessoas
contraíram a doença, menos a criança em aleitamento exclusivo. O que veio comprovar
a proteção"
, comenta.
A proteção se dá porque a substância lipídica do leite (ésteres) entre na corrente
sanguínea, circula e depois é eliminada pelo organismo humano, tendo uma ação
farmacológica, ou seja, a proteção só se dá durante o tempo em que a criança está
sendo amamentada. O grau de proteção depende da quantidade de mamadas, mas o médico
adverte que não existe um número certo de mamadas para prevenir a doença porque
isso depende de cada criança.
"Temos uma tendência a matematizar todas as questões para tornar a vida mais prática,
mas quase a totalidade do leite que a criança ingere está sendo produzida no momento
da mamada, portanto, depende muito da sincronia entre mãe e filho. Uma mesma quantidade
de leite pode ser ingerida em cinco minutos por um bebê e em 20 minutos por outro"
,
explica.
Sistema imunológico
A pediatra homeopata, especialista em aleitamento materno, Eliana Martins,
reforça a capacidade imunológica do leite humano. A partir do sexto mês de gravidez
até os primeiros meses de vida do bebê, a mãe produz o colostro, que é uma substância
rica em imunoglobulina. "É a imunoglobulina que protege a criança contra todas as
doenças que a mãe já teve"
.
Aprígio acrescenta que existem outras substâncias de natureza química que também
atuam na defesa do organismo do recém-nascido. "São substâncias protetoras específicas,
que protegem contra um tipo específico de doença como a dengue, a cólera, a caxumba
e outras. Um outro tipo de proteção que o leite traz, são as substâncias inespecíficas
que agem contra uma gama variada de bactérias"
, explica.
Segundo Eliana, o aconselhável é que a criança seja alimentada exclusivamente
pelo leite materno até os seis meses de idade. A partir daí ele pode ser associado
com frutas e papinhas e a proteção é proporcional ao número de mamadas feitas durante
o dia. A médica destaca, ainda, a importância do aleitamento materno para os bebês
prematuros. "As mães dessas crianças produzem o colostro por mais tempo e isso
é fundamental para o combate à infecções. O colostro age como uma vacina e faz uma
limpeza do organismo"
, afirma.
Leite e paladar
Entre os benefícios do leite pouco conhecidos do grande público está a sua influência no paladar do futuro adulto. Isso mesmo, é durante a amamentação que a criança aprende a identificar os sabores. Está aí a explicação para a rejeição que algumas crianças fazem a determinados alimentos.
Antes de obrigar o pequeno a comer verduras e legumes, a mãe deve se lembrar de
como era a sua alimentação durante o período em que amamentava porque foi o que
ela comeu que ensinou o filho a comer.
"O leite humano produz uma substância,
denominada flavor que dá gosto e cheiro ao leite. Essa substância varia de acordo
com o que a mãe come"
, justifica. Segundo a nutricionista, ao longo do dia
o leite apresenta coloração e cheiro diferente, logo, o sabor que o bebê sente ao
ingeri-lo é também diferente.
A quantidade de carboidrato se mantém constante, já as de gordura e vitamina depende
da alimentação da mãe. Para que a criança cresça saudável e com bons hábitos
alimentares, é fundamental que a mãe se alimente bem durante o período da amamentação.
"Uma substância que não pode faltar no cardápio é o ácido fólico e as do complexo
B, presentes nos vegetais verde escuro como couve, brócolis e agrião. Essa
substância é importante para o desenvolvimento do cérebro do bebê"
, explica.
*Marinella Souza é estudante de Comunicação Social na UFJF