Não é um setor muito conhecido, mas já pensou no que acontece quando um banco, companhia de seguros ou outra instituição financeira perdem contato com os proprietários dos bens que eles gerem? Passado algum tempo, a lei obriga que esses bens sejam dados como abandonados e entregues a uma entidade terceira onde permanecem, por vezes, durante décadas, até serem reclamados por quem provar ser seu legítimo proprietário. É este o fascinante mundo da Reclamação de Fundos.
Quem trabalha nesta área, tem ao seu dispor bases de dados internacionais com informação pública sobre esses bens abandonados e seus proprietários de todo o mundo, cada um deles representando uma história para contar. Obviamente, os motivos por que alguém deixa valores abandonados são tão numerosos quanto os seus donos ou seus herdeiros.
Só um leigo pode pensar que esta atividade é fácil: não é só ser capaz de encontrar as pessoas certas com um mínimo de informação e propor-lhes, mediante o pagamento de uma comissão, a reclamação de fundos que elas, muitas vezes, pensam que nem existem. É preciso ser capaz de concluir um longo processo burocrático, meticuloso, quase sempre envolvendo diferentes línguas e países.
No entanto, o atual panorama pós-pandémico do mundo laboral, com a sua revolução do teletrabalho, aliado à crescente digitalização da pesquisa e das fontes históricas nas várias plataformas de história familiar e genealogia, têm, sem dúvida, beneficiado os profissionais deste setor.
Por isso, Ângela Campos, historiadora portuguesa radicada no Reino Unido, e Gerard Gallagher, advogado norte-americano de origem escocesa, pensaram, no início de 2022, que estavam criadas as condições ideais para avançarem com uma colaboração no âmbito da Living History Solutions, um projeto que oferece uma alternativa verdadeiramente internacional e multilíngue a um setor dominado pela preponderância da língua inglesa – prejudicando beneficiários que não sejam fluentes –, e frequentemente por pessoas sem formação em investigação.
Foi esta equipe que surpreendeu o próprio Jornal do Brasil ao encontrar nos EUA fundos não reclamados pelo jornal há quase vinte anos, daí queremos compreender melhor a questão e partilhar com nossos leitores.
O mercado brasileiro surgiu naturalmente para a Living History Solutions devido ao facto de Ângela Campos ser bilíngue. Desde o início deste ano, já foram contatadas no nosso país dezenas de pessoas e empresas que têm fundos a receber nos EUA, fonte da maioria dos casos desta equipe. Entre cidadãos anônimos e empresários, há músicos, compositores, e atores famosos, muitos deles, tal como o Jornal do Brasil, resolveram avançar com estes processos de reclamação, agora em curso. A seu tempo, haverá muitas histórias a contar. O objetivo é sempre o mesmo: entregar os fundos a quem eles realmente pertencem no Brasil.
Um dos méritos da Living History Solutions é ter conseguido mobilizar uma rede internacional de historiadores e outros pesquisadores profissionais espalhados por vários países, muitos com doutorado, com o intuito de trazer maior rigor e princípios éticos a este setor da reclamação de fundos, aprimorando as práticas não só da reunificação de ativos, como da investigação sucessória e genealogia forense em geral. Isto porque a atividade deste grupo não se esgota nestes casos de reclamação de fundos e inclui também outras áreas da pesquisa genealógica, tais como documentação de processos de nacionalidade, investigação da história familiar, acesso a fontes primárias noutros países, entre muitas outras possibilidades. O lema aqui é perguntar “em que é que a História pode ajudar você no seu dia a dia?”
Ângela Campos esclarece:
"O tipo de pesquisa que desenvolvemos é “cirúrgico” e entusiasmante, um verdadeiro puzzle que se completa até encontrarmos as pessoas certas e avançarmos com os processos jurídicos – a burocracia que quase toda a gente detesta! -, passo a passo, até concluir uma matéria.
É frequente começarmos um caso num dado país e língua e acabarmos do outro lado do Globo num contexto e língua completamente diferentes.
Trabalhamos com titulares dos fundos ou seus herdeiros, e, neste último caso, é muito gratificante poder, por vezes, devolver a história familiar às pessoas.
Claro que este é um setor relativamente pouco conhecido, e é natural que haja alguma desconfiança por parte de quem abordamos. Felizmente, a maioria das pessoas sabem distinguir um profissional de um golpista, até porque nós damos todas as ferramentas aos nossos potenciais clientes para verificarem as nossas credenciais.
O porquê de trabalhar neste setor é simples: a minha paixão é a História. Sempre tive a ambição de trazer a História para a vida quotidiana das pessoas, e esta foi uma das plataformas que encontrei para isso. Sinto-me privilegiada por poder contatar e trabalhar diariamente com tantas pessoas maravilhosas em vários países, e esta experiência no Brasil está a ser simplesmente fenomenal.
Vejo este trabalho também como um certo ato de justiça, de “entregar o seu a seu dono,” e confesso que gosto particularmente de resolver os casos mais antigos!"
Para Gerard Gallagher, veterano do ramo, as prioridades são bem claras:
"Já trabalho neste setor há praticamente trinta anos, e sempre com o mesmo lema: profissionalismo total. O meu melhor cartão de visita são as centenas de clientes satisfeitos que acumulei pelos quatro cantos do mundo. Para além dos processos jurídicos inerentes à minha profissão, sempre fui fascinado pelas histórias humanas por detrás de cada reclamação de fundos. Foi isso que me levou a perceber que uma parceria com historiadores e genealogistas de vários países e línguas poderia expandir enormemente o meu campo de atuação. O Brasil, por exemplo, é para mim um novo mercado no qual teria sido muito difícil de entrar sem este tipo de colaboração. O aprendizado é diário, e queremos continuar em frente, não só aumentando o alcance da nossa equipe, como também contribuindo para melhorar os padrões de qualidade do setor. Muita gente não vê as coisas por essa perspectiva, mas a devolução de fundos abandonados é também uma questão ética, e nós levamos isso muito a sério!"
Quanto ao Jornal do Brasil, gostamos de conhecer melhor este tipo de trabalho, e ficámos curiosos para saber mais histórias. Para os leitores que queiram saber mais, podem “googlar” Living History Solutions ou enviar email para info@livinghistorysolutions.com.
E se você for contatado inesperadamente, pense duas vezes antes de ignorar achando que é golpe: quem sabe se a equipe da Living History Solutions não está tentando ajudá-lo a recuperar aquilo que é seu!
Texto redigido por Ângela Campos, 21/06/2022 | acampos@livinghistorysolutions.com
Os autores dos artigos assumem inteira responsabilidade pelo conteúdo dos textos de sua autoria. A opinião dos autores não necessariamente expressa a linha editorial e a visão do Portal ACESSA.com
Entre na comunidade de notícias clicando aqui no Portal Acessa.com e saiba de tudo que acontece na Cidade, Região, Brasil e Mundo!