Caça a pokémons gera novas amizades e estimula jogadores a caminharem
Psicóloga alerta sobre o risco de ficar muito tempo conectado ao mundo virtual
*Colaboração
24/08/2016
Eles estão por todas as partes. Para encontrá-los, basta consultar o mapa do jogo: onde houver um Pokéstop (gráfico, abaixo), um ginásio ou um Pokémon raro nas proximidades, lá estará um grupo de treinadores, celulares nas mãos, transitando entre o mundo real e o virtual.
Pokémon Go, a febre mundial que já ultrapassou 130 milhões de downloads no planeta, não se resume à tela do celular. O jogo requer constante movimentação do usuário no mundo real – seja para capturar novas criaturas, reabastecer a mochila de pokébolas ou percorrer a distância necessária para "chocar" ovos Pokémon –, o que tem incentivado treinadores a sair mais de casa, frequentar pontos de encontro de jogadores e conhecer pessoas novas.
A atendente de consultório, Amanda de Souza, 23, relata que joga desde o lançamento oficial do app no Brasil, no dia 3 de agosto e, desde então, tem caminhado pelas ruas da cidade com mais frequência. "Passei a andar consideravelmente mais. Às vezes, vou para casa a pé depois do trabalho, ao invés de pegar o ônibus", explica. Ela recorda de um episódio na capital paulista, onde a caça por Pokémons a levou a explorar partes desconhecidas da cidade. "Viajo muito para São Paulo, mas não costumo sair da área onde fico hospedada. Na última viagem, ao invés de pegar ônibus, fui andando da Zona Sul até a Zona Leste. Acabei conhecendo lugares interessantes, como parques e um estádio que estava em reformas. O jogo deixou a viagem melhor do que já era", declara.
Interação e novas amizades
Amanda também destaca um outro aspecto do jogo: a socialização entre os treinadores. "Criei novos contatos, conheci gente diferente e com certeza fortaleci amizades", afirma. "Até o namoro melhorou, pois é uma diversão saudável e sai um pouco da rotina".
Na opinião da jornalista e analista de marketing digital Larissa Duarte, 26, a novidade teve efeito positivo na vida social dos jogadores. Larissa é criadora da página do Facebook Pokémon GO – Juiz de Fora, atualmente com mais de mil curtidas, que reúne informações sobre o jogo e promove encontros entre os jogadores. Ela observa que a interação entre treinadores é constante, tanto nos grupos e páginas virtuais quanto pessoalmente. "Os jogadores enviam imagens e dicas diariamente para a página, informando onde capturaram um Pokémon raro, mostrando suas conquistas e pedindo ajuda e dicas", esclarece. "Já fiz novos amigos e retomei contato com conhecidos de longa data, vi muitas pessoas se reunindo e criando amizades."
Enquanto jogadora, Larissa também presenciou conversas e interações facilitadas pelo app, até mesmo no âmbito familiar. "No Parque Halfeld, fui abordada por uma mãe preocupada, que pediu que eu explicasse se era seguro deixar as filhas dela jogarem. Mostrei como o jogo funcionava e ela saiu dizendo que ia instalar no celular dela também, para brincar junto com as filhas. Também presenciei um casal de idosos levando o neto para jogar, comentando que era a primeira vez em anos que eles saíam juntos, com um sorriso no rosto", comemora.
O estudante universitário, Rodrigo Varandas, 22, também alterou sua rotina em virtude do jogo, e acredita que essa interação produz bons resultados. "Muitas vezes, alterei minha rota para passar por PokéStops, como o do Museu Murilo Mendes (MAMM). Eu e minha sobrinha já saímos juntos algumas vezes para jogar, e sinto que foi produtivo para o nosso relacionamento. Além de estimular o ato de sair de casa, ele [o app] também incentiva interação para aprender algumas mecânicas do jogo que não são explicadas de forma explícita, e é um tópico em comum para as pessoas iniciarem conversas na rua".
Pontos de encontro
Segundo Larissa, os treinadores geralmente se reúnem em locais com maior incidência de Pokéstops, onde se pode coletar itens essenciais, como as pokébolas – e ginásios – "arenas" onde o jogador enfrenta Pokémons de alto nível para conquistar a liderança. Alguns pontos de encontro na cidade são o Parque Halfeld, a UFJF, a praça do Bom Pastor, o Parque da Lajinha e a praça Antônio Carlos.
A página administrada por ela também organiza encontros de jogadores, geralmente aos fins de semana. Já foram realizados três eventos: um encontro no Parque Halfeld, um Pokénic (piquenique com os treinadores) na UFJF e outro no Parque da Lajinha.
Real x virtual
Além dos encontros pessoais, a crescente interação no ambiente virtual dos grupos de WhatsApp e Facebook facilita a comunicação e formação de amizades entre os jogadores. "Para algumas pessoas, essa comunicação pela internet pode ser mais fácil do que a pessoal, que a gente chama de face a face", explica a psicóloga Carolina Dittz. "Pensando num ansioso social, por exemplo: o interlocutor não vai perceber se ele está tremendo, com o rosto avermelhado, suando... o contato pela internet passa a ser, de alguma forma, mais confortável", esclarece.
Entretanto, a psicóloga alerta para os riscos de uso excessivo da internet e de jogos virtuais. "É preciso tomar cuidado pra que a comunicação virtual não seja utilizada como um refúgio do contato presencial", alerta. Além disso, a dependência da internet é um perigo real e pode trazer prejuízos, por exemplo, no rendimento escolar ou profissional. "É preciso observar não só por quanto tempo a pessoa utiliza a internet, mas o quanto ela passa a negligenciar algumas atividades cotidianas em função das virtuais", afirma. "Quando pais ou familiares do usuário observarem essa situação, é interessante procurar um profissional de saúde para avaliar a existência do vício e pensar num possível tratamento."
*Bruno Caniato é estudante do 10º período de Jornalismo da UFJF
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