Cine-Theatro Central
Tradição e história no maior palco da cultura em Juiz de Fora


 

*Guilherme Arêas
Colaboração
06/07/2007

 

O ano era 1929. O mundo vivia uma grande depressão, considerada a pior crise de recessão econômica do século XX. Em Juiz de Fora, um gigante surgia bem no coração da cidade. No dia 30 de março os juizforanos ganhavam um espaço com o objetivo de ser uma casa de espetáculos à altura do município. Nascia o Cine-Theatro Central.

O Central surgiu numa época em que Juiz de Fora já era destaque na política, comércio e indústria em Minas Gerais. A idéia da construção foi de Diogo Rocha e Chimico Corrêa, com a colaboração de Francisco Valadares, Pantaleone Arcuri, Gomes Nogueira, entre outros.

A empresa responsável pela construção do Cine-Thearo Central iria criar, também, o Cine Palace, Rex e São Mateus. O arquiteto Raphael Arcuri assinou a planta arquitetônica do novo teatro, que tinha como destaque o teto suspenso por uma estrutura metálica vinda da Inglaterra, fosso para orquestra, e lustres de cristal. O trabalho de decoração interna foi realizado pelo pintor italiano Ângelo Biggi, que morava em Juiz de Fora na época.

As obras do, até então, edifício mais alto da cidade, duraram um ano e quatro meses. Na inauguração, a alta sociedade juizforana conferiu a apresentação da Orquesta de Teatro e a exibição do filme "Esposa Alheia". Começava uma época áurea na vida cultural de Juiz de Fora.

 

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A época de ouro

Nas décadas de 30 e 40, o Central passou pela principal fase como cinema. Antes do filme principal, o público assistia a um jornal nacional, a uma comédia ou desenho de Walt Disney e a dois traillers. Às quartas-feiras, as mulheres pagam meia-entrada em sessões exclusivas: a "soirée feminina", com romances, dramas e musicais. Nas décadas de 30 a 50, as crianças ganharam espaço com as "Matinês Mickey". A partir da década de 70, sessões masculinas com filmes picantes passavam à meia-noite.

Durante as décadas de 40 e 50, o Central abrigou os programas de auditório da Rádio Industrial, garantindo casa lotada aos sábados. De meados de 1950 a início dos anos 70, o Central sediou concertos líricos do Teatro Experimental de Ópera de Juiz de Fora. A partir daí, o teatro integrou o "Circuito Universitário", trazendo artistas da MPB como Gonzaguinha, Milton Nascimento e Chico Buarque.

 

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Do abandono resurge o novo gigante

Aos poucos o abandono e o descaso vigoraram no Cine-Theatro Central, o que durou algumas décadas. Todo o glamour e o requinte do grande templo cultural de Juiz de Fora estavam se perdendo, juntamente com as pinturas de Ângelo Biggi.

No início da década de 80, as autoridades e sociedade em geral viram a necessidade da recuperação do maior símbolo cultural de Juiz de Fora. Em 1983, o Cine-Theatro Central foi tombado pelo Município como patrimônio histórico. Começou aí um grande esforço do Ministério da Cultura, Governo Federal, Universidade Federal de Juiz de Fora e artistas, pela reestruturação do Central.

Em 1994 o Central teve seu valor novamente reconhecido, sendo tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (IPHAN). No mesmo ano, uma ação do ex-presidente Itamar Franco possibilitou a compra do Cine-Theatro Central pela UFJF, depois de meses de negociação com a Companhia Franco-Brasileira, antiga proprietária. A partir daí, o Central passou a ser gerenciado pela UFJF e pela Prefeitura Municipal de Juiz de Fora, que iniciaram a restauração.

Janeiro de 1996 marcou o começo do período em que o Central foi restaurado. Ao final de oito meses e dez dias, toda a parte estrutural, elétrica e de pintura foram recuperadas. As obras de Ângelo Biggi estavam escondidas por até sete camadas de tinta. O Trabalho foi árduo para os restauradores profissionais e estudantes de Artes e Arquitetura e Urbanismo da UFJF.

Em novembro daquele mesmo ano, o Cine-Theatro Central reabriu as portas para a população de Juiz de Fora. Mais 2 mil pessoas conferiram os resultados da reforma, que somaram investimentos de cerca de 2 milhões de reais.

 

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Palco da cultura

Atualmente o Cine-Theatro Central é parada obrigatória de artistas no circuito nacional de shows musicais, teatros e espetáculos de dança. Já recebeu shows de artistas como Cássia Eller, Tom Jobim, Djavan, Flávio Venturini, Caetano Veloso, Beto Guedes, Zizi Possi, Maria Bethânia, Ana Carolina, Almir Sater, Capital Inicial, Oswaldo Montenegro e Adriana Calcanhoto. No teatro, o Central é palco dos maiores espetáculos do país e já foi visitado por nomes históricos como Eva Tudor e Bibi Ferreira. Na dança, teve apresentações das Companhias de Débora Colker, Cia Nacional de dança da Bielo-Rússia, Primeiro Ato e o grupo norte-americano Monix.

*Guilherme Arêas é estudante de Jornalismo da UFJF