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Medita??o
::: 01/09/2004

Ainda na juventude, come?amos nossa viagem na pr?tica da medita??o. Um mestre indiano, Sri Maha Krisnha Swami, iniciou-nos no caminho da ?ndia, de onde trouxe a Maha-Yoga.

Fizemos treinamento com ele durante muitos anos em S?o Paulo, at? que se fez maha-samadhi (desencarnou).

Aprendemos e passamos a ensinar que meditar ? estar consigo mesmo alguns minutos por dia. Portanto, n?o est? fora do alcance do cidad?o normal e n?o ? nada de extraordin?rio. A pr?tica da medita??o n?o requer esfor?o algum e, na verdade, s? pode ser feita com bons resultados na aus?ncia de qualquer esfor?o. Querermos for?ar a nossa mente a adotar um estado meditativo ? t?o in?til quanto pretendermos empurrar um carro enquanto estamos dentro dele.

Cada um de n?s ? um resumo do universo inteiro, somos o micro dentro do macrocosmo. O estado natural da mente humana inclui a possibilidade de ver ou perceber a ess?ncia de todas as coisas ao mesmo tempo.

Quando isto acontece, atingimos o ?xtase, o samadhi, o satori. S? n?o alcan?amos com facilidade este estado natural porque ficamos presos a mensagens dos cinco sentidos f?sicos, que s?o registradas, organizadas e catalogadas a cada segundo em nossa mente em fun??o de lembran?as do passado e antecipa?es do futuro.

Esse fluxo incessante de id?ias e est?mulos forma uma esp?cie de videogame que nos hipnotiza e coloca diante de uma tela mental estreita. Nos planos inferiores de consci?ncia, obedecemos a um jogo de opini?es e desejos, simpatias e antipatias, atra?es e repuls?es e nos comportamos como se f?ssemos o centro do universo. Meditar ? sair deste c?rculo vicioso. ? abrir a janela e respirar ar puro. ? perceber o espa?o livre entre um pensamento e outro.

A pr?tica da medita??o n?o consiste em se trancarem no arm?rio as nossas emo?es e id?ias, mas em se perceber, observar e compreender tudo o que existe dentro e fora de n?s. Pode parecer estranho mas, para meditar com efic?cia, ? necess?rio deixar de lado toda id?ia preconcebida de efic?cia na medita??o.

O primeiro passo ? sentar-se em uma cadeira, com a coluna ereta, em local t?o silencioso quanto poss?vel, bem arejado e respirar ampla e calmamente. Podemos ent?o observar o desfile de pensamentos e sentimento como se fossem nuvens no c?u, empurradas pelo vento da alma. N?o importa se as nuvens s?o claras ou escuras nem se os pensamentos v?m carregados de paz ou de ansiedades.

Interessa-nos o c?u inteiro da nossa mente e n?o o espet?culo passageiro que desfila por ele. Na verdade, os pensamentos passam no ar como nuvens ocultando a luz do sol interno que ? o eu superior. Perceber a passagem dos pensamentos leva gradualmente a um c?u limpo e sem nuvens, onde o sol brilha e a medita??o ? irrestrita.

Continuando nossa busca e passando por treinamentos com outros mestres orientais da medita??o, aprendemos que h? milh?es de maneiras de meditar.


Junto com K?tia, aprendemos com Sensei Kohen as t?cnicas e atitudes da Escola Soto-Zen, a medita??o silenciosa do Jap?o. Na verdade, nem uma s? pessoa consegue fazer a mesma medita??o duas vezes. A cada dia, a medita??o ? diferente. Ela n?o ? um processo morto nem um ritual mec?nico. Nada tem a ver com a mera paralisa??o do c?rebro f?sico em torno de uma imagem congelada por meio da for?a de vontade ou repeti??o de palavras.

Nos Cursos de Medita??o, explica-se que n?o existe uma t?cnica ?nica, igualmente eficaz para as pessoas de todas as idades e temperamentos. Quando um buscador da verdade tenta meditar e n?o consegue, o fracasso n?o ? dele, mas da t?cnica usada. O ?nico fracasso ? n?o tentar e tentar significa ter uma atitude experimental, obedecendo a certos princ?pios b?sicos e sendo livre para caminhar com as pr?prias pernas.

Bhagavan Sri Ramana Maharshi ensina que, quando o praticante de medita??o tenta serenar a mente, o conte?do do seu subconsciente - tudo o que est? esquecido ou reprimido - vem para a luz do dia. O correto ? dar as boas-vindas a todo esse conte?do mental desordenado. ? preciso revirar o solo de vez em quando para que ele fique f?rtil. ? essencial se purificar a base da vida di?ria. Isto se chama auto-observa??o.

Ningu?m pode meditar - olhar o c?u - sem ter os p?s firmemente plantados no ch?o. Voc? senta para meditar, respira profundamente, pensa na fraternidade universal, lembra que ainda lhe falta pagar o condom?nio do pr?dio ou a presta??o do apartamento.

Contempla interiormente a longa marcha evolutiva da humanidade em dire??o ? sabedoria eterna e percebe que est? com pouco dinheiro na sua conta corrente banc?ria. Decide concentrar-se no centro de paz eterna que h? em seu cora??o, sente uma dor na coluna, co?a a cabe?a, esfrega o olho e se descobre pensando como ser? o dia de hoje no trabalho. Calma... calma... calma...!

Normalmente, pode-se dividir a consci?ncia humana em tr?s n?veis principais: acima, o supraconsciente; abaixo, o subconsciente e, no meio, o consciente. O supraconsciente ? o seu potencial divino, Deus, Atma-Baddhi, Cristo, o Eu Superior.

Essa energia universal fica acima de toda express?o verbal. As palavras, por mais inspirada que sejam, s? podem apontar para ela como um dedo apontando para a lua.

O subconsciente armazena as nossas impress?es do passado, expectativas do futuro, frustra?es, desejos, ilus?es, decep?es e nossa identifica??o com o mundo em termos de percep??o animal e instintiva. O consciente ? o princ?pio tipicamente humano em n?s, que vincula c?u e terra, quer erguer-se e cai, d? um passo ? frente e outro atr?s, pensa que ? divino e, ?s vezes, comporta-se como um animal.

Meditar ? abrir uma janela dupla que rompe ambas as linhas, ampliando a liga??o vertical que une todos os nossos n?veis de consci?ncia. Temos de integrar, ent?o, mais luz e mais sombra ? nossa percep??o da vida. Come?amos a subida da montanha e, a cada passo, o perigo do tombo fica mais grave. A seguran?a est? em dar as boas-vindas ao conte?do subconsciente, praticar serenamente a auto-observa??o e organizar a nossa vida cotidiana em fun??o do ideal de auto-aperfei?oamento.

A medita??o ?, para muitos buscadores da verdade, o momento mais importante do dia, o aspecto mais elevado da disciplina espiritual. Por?m, n?o basta. Al?m dela, a auto-observa??o iluminar? o subconsciente, dando um alicerce seguro para a contempla??o da vida celeste, o estudo de bons livros ampliar? nossa mente e o trabalho altru?sta far-nos-? deixar de lado o ego?smo.

Todos esses elementos s?o insepar?veis.

Em nossos treinamentos e inicia??o com a escola Chagdu Tulku Rimpoch?, observamos que, para a tradi??o tibetana de sabedoria, a terra, o homem e o c?u formam a grande tr?ade. O s?bio aprende a ser amplo como o c?u e firme como a terra, ajudando na amplia??o da escada de Jac? que liga o mundo dos homens e o mundo divino - segundo a vis?o b?blica.

Esta liga??o se d? dentro de n?s. A escada de Jac? em nosso interior tem o nome s?nscrito de antahkarana - a ponte entre o eu superior e o eu inferior, que se amplia atrav?s da pr?tica regular da medita??o.

Praticar medita??o deve ser uma atividade freq?ente. H? dias em que a medita??o rende mais. Ler a respeito de medita??o ? um fato, praticar medita??o ? outra realidade totalmente diferente. Por exemplo, voc? pode ler livros de nata??o mas, se cair no rio e n?o souber nadar, morre afogado e com a medita??o ? semelhante. Teoria sem pr?tica ? como f? sem obras.

H? dias em que a mente do praticante parece um macaco furioso e gritador que pula de galho em galho, faz caretas e muitas vezes desvia a aten??o. Nesses dias dif?ceis, ? mais importante do que nunca prosseguir a pr?tica com toda paci?ncia e sem nenhum des?nimo. O progresso, feito na medita??o, raramente se mostrar? durante a pr?tica di?ria. Os efeitos ser?o sentidos em forma de maior paz interior durante o dia todo, mais clareza de objetivos pessoais, maior capacidade de concentra??o mental. Uma esp?cie de contentamento incondicional tender? a ir iluminando, gradualmente, todas as situa?es do dia-a-dia.

Meditar faz parte desse trabalho de autoconstru??o e nada tem a ver com supostos poderes extraordin?rios ou ilus?es de auto-import?ncia. Trata-se apenas de se desenvolver uma amizade mais profunda com nosso eu superior, em torno de um projeto de evolu??o em dire??o ? luz. ? morrer para a agita??o superficial, de modo a poder renascer em uma dimens?o mais elevada da vida.

Com sinceros votos de muita paz a tudo e a todos, ficamos ? disposi??o para responder e esclarecer pontos relacionados a esse tema.
Encerramos com sauda?es hol?sticas!


Armando Falconi Filho
? terapeuta hol?stico, consultor e advogado
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