Longe de Casa


Estudantes que saem da casa dos pais t?m que aprender a se virar... e escolher um bom lugar para morar n?o ? tarefa f?cil

Djenane Pimentel
Rep?rter
23/02/05

Wilma Barbosa explica como funciona o projeto do Banco de Vagas e mostra como se formam os v?nculos entre alguns alunos e quem os hospeda

Ou?a!

foto ilustra??o Em busca de melhores oportunidades nos estudos, muitos jovens saem cedo de casa para cursarem uma faculdade ou mesmo um cursinho pr?-vestibular, em outras cidades. Alguns at? optam pela mudan?a durante o segundo grau, para se prepararem melhor.

Mas, sair da casa (e da prote??o) dos pais n?o ? tarefa das mais f?ceis. Por mais que a possibilidade de ficar longe agrade aos estudantes, na pr?tica, a tarefa de encontrar um novo "lar" pode n?o ser t?o boa assim. Muitos enfrentam dificuldades, passam por pens?es, rep?blicas, quitinetes, at? encontrarem um lugar em que se sintam realmente em casa.

Foi assim que se sentiu - em casa - a estudante de farm?cia e bioqu?mica, Ludmila Loures Barbosa, quando passou no vestibular da UFJF, em 2001, e veio morar em Juiz de Fora. Procurando um lugar para ficar, Ludmila encontrou a casa de Hilda Rodrigues Valle (foto abaixo), atrav?s de uma amiga que tamb?m estava ficando l?. "Adorava morar l?. A conviv?ncia com dona Hilda e as meninas era ?tima; todas ?ramos amigas. Tanto ? que, hoje, moro com outras cinco meninas que tamb?m moraram l?", conta.

Hilda Valle A estudante fala dos pr?s e contras de se viver em uma pens?o: "os gastos s?o menores, assim como as preocupa?es com pagamentos, etc. Por outro lado, a pessoa n?o tem tanta liberdade como estar em sua pr?pria casa", diz.

Isso, porque certas pens?es exigem certas responsabilidades e regras a serem cumpridas. Por exemplo: a pens?o de Hilda ? restrita a mulheres e a senhora n?o permite que namorados entrem na casa, somente pais e irm?os. "O que n?o ? errado", opina Ludmila. "Se n?o tiver algumas regras de conviv?ncia, vira bagun?a", completa.

A estudante explica que o ?nico motivo pelo qual optou sair da pens?o foi que Hilda parou de oferecer almo?o e jantar em casa. Da?, ficaria mais caro continuar morando l?, do que em uma rep?blica. "Mas, hoje fica mais barato porque moramos em seis. Se fosse menos gente, n?o ficaria", diz. "Adoro a dona Hilda e a visito sempre. Ela j? faz parte da fam?lia", afirma.

Nova fam?lia

Hilda Rodrigues Valle ? uma senhora de 75 anos, que encontrou nesta fun??o - oferecer sua casa como pens?o a estudantes universit?rias - sua raz?o de viver. Ela resolveu fazer isso desde que o marido faleceu, h? alguns anos atr?s, para n?o ficar t?o sozinha. "J? que a casa ? grande, achei que pudesse funcionar", diz. E funcionou.

Segundo Hilda, assim como Ludmila, muitas meninas v?m e v?o, mas sempre levam a lembran?a de sua casa como um segundo lar. "Porque eu tento dar, o m?ximo poss?vel, de conforto, seguran?a e carinho para que as meninas se sintam em casa".

dona Hilda e sua nova
h?spede, Daniela Uns v?m de longe, outros nem tanto. Mas, o sentimento de solid?o pode ser compartilhado, e sufocado, quando se tem amizade e um local bacana para se viver. A estudante de Medicina, Daniela Cardoso (foto ao lado), 18 anos, chegou h? apenas dois dias, de Volta Redonda, direto para a pens?o da 'dona' Hilda. "Fiquei sabendo atrav?s de amigas e vim. Estou adorando, mesmo", informa.

Na pens?o, Hilda oferece caf? da manh?, com leite, caf?, ch?, p?es, manteiga e biscoitos. Durante a tarde, coloca na mesa novamente este lanche e o deixa at? ? noitinha. "Porque elas t?m hor?rios diferenciados, ent?o, deixo a mesa posta", esclarece.

Hilda tem uma sobrinha que a ajuda na limpeza da casa, onde mora h? 50 anos, e ? enorme: uma sala grande (com tr?s ambientes), nove quartos, cozinha, tr?s banheiros, varanda, ?rea para lavar e secar, al?m de um quarto para passar roupa. Todos os dormit?rios possuem duas camas, dois guarda-roupas, escrivaninha e, alguns, at? c?moda. Apenas dois quartos possuem uma cama s?, pois sempre h? quem queira ficar sozinho.

Banco de Vagas

Wilma Barbosa Milhares de jovens largam o conforto de seus lares, todos os anos, para estudar em outras cidades, estados ou at? pa?ses. Muitos chegam sem conhecer ningu?m na cidade, sem nenhum contato. Para casos assim, e devido a uma demanda sentida h? algum tempo, ? que a Universidade Federal de Juiz de Fora resolveu criar o Banco de Vagas, servi?o que disponibiliza um cadastro de vagas para casas de fam?lia, pens?es ou rep?blicas de estudantes, destinadas a alunos da institui??o e candidatos ao vestibular.

Segundo a coordenadora Wilma Alves Barbosa (foto ao lado), este ? um projeto de importante valor para a Universidade, pois al?m de ajudar os alunos com seriedade, acaba sendo uma renda a mais para a comunidade juizforana. "Apesar de o servi?o ser gratuito, o nome da Universidade est? envolvido. Por isto, nenhum local ? cadastrado sem que a gente visite antes e aprove as condi?es ofertadas. Temos a preocupa??o de verificar se a casa pode oferecer o servi?o com dignidade, al?m de orientar quem vai receber o aluno", explica.

Wilma ressalta ainda que, segundo pesquisa realizada, mais de 60% dos vestibulandos da UFJF s?o de outras cidades, e a maioria enfrenta algum tipo de dificuldade, seja administrativa ou financeira. O programa, com isso, facilita a vida dos vestibulandos e graduandos, para que encontrem, mais rapidamente, op?es de moradia melhores e com pre?os acess?veis.

Sorte de principiante

Walter Galv?o Neto Na hora em que a ACESSA.com estava indo conversar com a coordenadora do banco de vagas, encontrou com um calouro, meio perdido, indo para o campus universit?rio. Walter Galv?o Neto (foto ao lado), de 18 anos, ? da cidade de Nepomuceno, no sul de Minas, e passou para o curso de administra??o, na UFJF. Mas ele n?o tem nem no??o de onde ir? morar e, por n?o conhecer a cidade nem a UFJF direito, n?o sabia da exist?ncia do servi?o do Banco de Vagas.

Wilma forneceu alguns endere?os de rep?blicas e pens?es para o estudante, fez liga?es para ver se havia vaga e at? marcou visita. Esperamos que tudo d? certo para Walter, assim como para todos os outros "perdidos" pelos campus do pa?s. Porque sair de casa n?o ? f?cil, mas retornar, anos mais tarde, com um diploma na m?o e uma profiss?o para a vida, vale qualquer sacr?ficio.