A ?ltima esperan?a


Estudantes devem ficar de olho nas vagas excedentes, que podem garantir o ingresso. Ter?a UFJF anuncia mais 36 nomes de aprovados

Ricardo Corr?a
Rep?rter
24/03/2006

Veja o edital que a UFJF soltou ontem com o n?mero de vagas para cada um dos cursos. Ser?o 36 excedentes chamados. Clique!

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Passado o vestibular, matr?culas feitas e o stress que permeou os muitos meses que antecederam as provas e a divulga??o do resultado ficou para tr?s. Isso para quem entrou na faculdade. Porque para muita gente, os pr?ximos dias ? que ser?o os mais dif?ceis. E, para v?rios, ? a ter?a-feira, dia 28 de mar?o, que pode entrar para a hist?ria. ? quando a UFJF divulga a lista de reclassificados do Vestibular e Pism 2006. Significa dizer que existe mais uma chance para, quem por muito pouco n?o foi aprovado, entrar na universidade no ?ltimo processo seletivo.

Essa nova chance se d? porque ? comum que algumas pessoas, por terem passado em outra institui??o, ou por v?rios motivos particulares, deixem de fazer a matr?cula e por isso abram novas vagas para os chamados excedentes, ou seja, aqueles candidatos que ficaram nas primeiras posi?es entre os n?o classificados no vestibular. De acordo com a UFJF, a lista com o nome dos novos poss?veis alunos da institui??o ser? divulgada apenas pela internet, no site da universidade.

Isso deixa claro que, at? ter?a-feira, alguns candidatos v?o esperar, com tens?o e expectativa, a sa?da da listinha que pode mudar suas vidas. E esse ano vem com um ingrediente a mais. A UFJF n?o divulgou a ordem dos excedentes por nome, ent?o a expectativa pela presen?a ou n?o dos nomes na lista ? ainda maior.

Quem conhece muito bem essa ansiedade ? a estudante do curso de Letras, Tatiane Abrantes da Silva (foto acima). Isso porque n?o foi uma, mas duas vezes que ela ficou como excedente. Viveu as duas situa?es. A frustra??o de n?o conseguir entrar por muito pouco, e a felicidade de ter uma segunda chance, que est? aproveitando at? hoje. Mas demorou meses at? que isso acontecesse. E n?o foi f?cil.

Muitas coincid?ncias

A hist?ria de Tatiane ? daquelas que pode render um livro. Ela fez vestibular pela primeria vez em 2001, ap?s sair do Pism. Vinda de escola p?blica, tentou uma vaga para psicologia. N?o passou para a segunda fase por dois pontos. Ficou com aquilo na cabe?a, mas tentou novamente. S? que dessa vez para Letras, curso que hoje reconhece ter sido a melhor op??o. Mas ainda estavam por vir os momentos mais tensos.

No vestibular de 2002, a chegada na segunda fase foi tranq?ila. Na hora do resultado final, no entanto, n?o faltaram dois pontos. N?o faltou sequer um ponto. Mas faltaram 4 d?cimos. Diferen?a pequena, mas suficiente para que ficasse apenas como quinta excedente. O tempo passou, alguns candidatos desistiram, mas parecia que n?o era ainda a vez de Tatiane. Chamaram os quatro primeiros excedentes. E ela sobrou, na ponta da fila, para fazer vestibular de novo. Tatiane lembra do pior: fez vestibular para o curso diurno. E se tivesse tentado o noturno passaria.

Em 2003 Tatiane resolveu mudar a t?tica. Ao inv?s do diurno, tentou vestibular para o noturno. E n?o ? que, assim como Tatiane, as notas tamb?m mudaram?! Mais uma vez ela n?o passou e amargou saber que, se tivesse tentando o diurno, como no ano anterior, teria passado.

Excedente de novo

Mas a hist?ria da Tatiane com o vestibular ? impressionante mesmo por causa de sua rela??o com as vagas excedentes. Se no ano anterior tinham faltado quatro d?cimos, dessa vez faltou menos ainda: dois d?cimos. E Tatiane ficou como primeira excedente. O vestibular foi em dezembro, o resultado saiu em fevereiro de 2004. E, at? setembro daquele ano sua agonia continuou. Saiu a lista de excedentes, e nada da vaga para Letras. Foi quando ela resolveu se matricular em uma faculdade particular, na qual passou sem problemas na prova. Fez a matr?cula, entrou em acordo com a institui??o e trancou o curso at? o meio do ano. Apesar das experi?ncias ruins dos anos anteriores, a estudante ainda acreditava que poderia ser chamada.

"Eu minha m?e resolvemos fazer matr?cula para come?ar no primeiro semestre. Na UFJF era para o segundo semestre. Resolvi esperar mais um pouco. Fiz a matr?cula, mas tranquei porque era uma pessoa s? que precisava desistir. Nem podia, mas conversei, expliquei a hist?ria", contou a estudante que aguardava a reclassifica??o que seria divulgada no meio do ano. Foi um dos momentos mais marcantes, que Tatiane se lembra como se fosse hoje.

"No segundo semestre saiu uma reclassifica??o. Muita gente desistiu. Mas eu fui olhar a lista e passava direto de hist?ria para matem?tica. Eu pensei que estava errado. Fui olhar de novo. Ia olhando, olhando e n?o tinha ningu?m. N?o tinha Letras. Chorava uma quantidade, mas n?o teve jeito", conta a estudante que s? a? resolveu passar a freq?entar as aulas na faculdade particular, j? sem acreditar que a vaga da UFJF poderia surgir.

Como ela mesmo diz, "deixou quieto" aquele assunto e passou a se dedicar ? sua nova faculdade. Isso era em agosto, mas logo em seguida a UFJF entrou em greve. E durante a greve, as coisas mudaram. Um estudante de Letras passou em um concurso p?blico e deixou a faculdade. A vaga estava aberta. Depois de tanto sofrimento, Tatiane n?o acreditou de cara.

"Um homem ligou para o meu vizinho e deixou recado. Vieram aqui em casa falar comigo: 'Olha, tem um cara dizendo que tem uma vaga para voc?. E que ? para voc? ligar'. Minha m?e disse para eu ligar e ver o que era. E vi que era o n?mero do Dara. Eu j? tinha ligado tantas vezes para l? que decorei. Liguei, disse meu nome e ele explicou que tinha havido uma desist?ncia e que tinha uma vaga. Expliquei que n?o era poss?vel que j? estava e outubro. Perguntei: 'Voc? est? falando s?rio comigo?'. E ele disse que sim", conta a estudante, que resolveu levar uma amiga junto, segundo ela, "para o caso de passar mal se descobrisse que era uma brincadeira".

"Cheguei e disseram que era l? mesmo. Que j? era para fazer a matr?cula porque tinha que come?ar no outro dia j?. E foi at? estranho porque me disseram que um outro cara j? tinha ido l? antes e que a vaga era dele. Na verdade era meu namorado que foi l? para saber antes. Foi uma confus?o", diverte-se hoje.

Vaga conseguida, Tatiane n?o se esqueceu do motivo. Deu um jeito de arranjar o telefone de Andr?, o aluno que tinha desistido do curso por causa da aprova??o no concurso p?blico, abrindo assim a vaga para ela.

"Liguei para ele, agradeci, desejei sucesso onde ele estava. Ele disse que passou em um concurso e eu disse quase chorando que tinha sido eu que entrei no lugar dele", conta Tatiane, que hoje est? no terceiro per?odo e n?o se arrepende da escolha pelo curso de Letras.

"Isso s? me fez gostar mais, Dar mais valor. Quando cheguei na faculdade, estava todo mundo j? meio inteirado. J? tinha tido choppada, calourada. S? conhecia uma pessoa que estudou comigo h? muito tempo atr?s.Cheguei a trancar matr?cula de algumas disciplinas. Eu tinha prova de latim no dia seguinte. E nunca tinha feito latim na minha vida. Tranquei. Estou devendo latim at? hoje", diz ela que v? at? um lado bom nisso tudo.

"At? pensei fazer psicologia, mas acredito que se tivesse passado n?o teria aproveitado tanto quanto agora. Nao tinha muita no??o. Os meus pais n?o t?m terceiro grau. Ent?o n?o tinha base pra saber o que era uma faculdade. Depois ? que eu comecei a entender porque eu deveria fazer e vi que psicologia n?o era uma boa pra mim. E Letras ? um curso muito interessante", conta a estudante, que at? planejava fazer vestibular novamente, caso n?o fosse chamada. Mas sem fazer cursinho, e sem que as pessoas soubessem. N?o foi necess?rio.

Conto de fadas

A hoje administradora L?cia Fortini tamb?m sabe como ? a agonia de quem quase passou no vestibular, e esperou um pouco mais para comemorar. S? que no caso dela n?o foram meses, e sim dias. Na verdade quase um m?s, mas que valeram como muitos para quem estava ansiosa para come?ar o curso. Aconteceu j? h? algum tempo, em 1998, mas ela n?o esquece dos detalhes.

L?cia fez vestibular para administra??o em uma faculade particular de Juiz de Fora. Na ?poca, n?o existiam tantas, e por isso era bem mais dif?cil conseguir entrar. Anunciado o resultado, L?cia n?o tinha sido aprovada. Ficou como d?cima excedente, mas acabou conseguindo entrar, cerca de um m?s depois, porque outros aprovados passaram na UFJF e desistiram da matr?cula. At? l?, L?cia esperou confiante.

"Eu fiquei na esperan?a porque em Juiz de Fora ? dif?cil as pessoas prestarem um ?nico vestibular. N?o s? aqui, mas em outras faculdades da regi?o. Ent?o eu fiquei torcendo para que algumas dessas pessoas passassem e a? eu teria a chance. Eu n?o estava desejando mal para ningu?m. Estava desejando bem. E queria muito", lembra ela, que foi vendo, aos poucos, os excedentes entrando e suas chances aumentando.

"O pior de tudo foram os ?ltimos quatro. Eu rezava ligava para l? todo dia, at? que me disseram que s? tinham mais quatro na minha frente. Mas faltavam s? 15 dias para come?ar as aulas e eu ficava pensando: 'imagina se eu n?o consigo'. At? que consegui. E depois de mim s? entraram mais dois", conta L?cia Fortini.

Tanta demora e tens?o at? chegar o resultado fizeram com que L?cia desse ainda mais valor ? conquista. Na verdade ela n?o sabe medir isso, por dizer que n?o fez outro vestibular para saber. Mas a felicidade, n?o s? com o an?ncio da aprova??o, mas com o in?cio das aulas, ? mais do que uma prova de quanto ela esperou esse momento.

"No meu primeiro dia, parece que foi ontem. Eu olhava aquele pr?dio branco e n?o acreditava. Ningu?m da minha fam?lia nunca tinha ido para a faculdade. A fam?lia veio da ro?a, tinha muitos primos, muitos parentes, mas aquilo era algo novo para a fam?lia. Para a maioria das pessoas ? comum, mas para mim foi t?o dif?cil entrar, pagar cursinho e tudo, que foi emocionante", explica a administradora, que faz a compara??o com um conto de fadas para dizer, docemente, como se sentiu. "Eu me sentia a Cinderela no Baile".


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