Reitor O cargo m?ximo da hierarquia acad?mica

Marcelo Miranda
Rep?rter
07/03/2006
Veja o que Moacyr Borges de Mattos, primeiro reitor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), h? 45 anos, tem a dizer sobre a fun??o de administrador da universidade. Clique ao lado

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"Aquele que domina a ret?rica", "aquele que tem a palavra". S?o significados para o termo "rector", que denomina o cargo de reitor de uma universidade. Autoridade m?xima na hierarquia acad?mica, o reitor ? respons?vel por administrar todo o campus, desde as finan?as, contrata?es de professores, organiza??o de vestibular e dezenas de outros servi?os. A fun??o vem desde a cria??o da institui??o universit?ria, ainda na Idade M?dia, quando o reitor era, normalmente, o diretor da faculdade de Filosofia e Artes.

At? meados de 2006, centenas de alunos e dezenas de professores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) v?o escolher a nova reitoria, em sucess?o ao mandato de Margarida Salom?o. Nesta ?poca, ? oportuno levantar quais, afinal, s?o as qualifica?es e fun?es de um reitor e o que o trabalho lhe exige. Afinal, "reitor" n?o ? uma profiss?o propriamente, mas um degrau em que o professor pode atingir dentro da estrutura universit?ria.

"? motivo de orgulho para qualquer profissional assumir as responsabilidades da institui??o que o abriga", diz Ignacio Delgado (foto ao lado), diretor do Instituto de Ci?ncias Humanas e candidato ao cargo. "O bom reitor precisa ter capacidade de agrega??o. Qualquer dirigente deve, fundamentalmente, ser uma lideran?a".

Ignacio enumera o que ele acredita ser imprescind?vel ao reitor: "saber ouvir, estabelecer metas coletivas e fact?veis, clareza dessas metas, conhecimento da universidade para a qual se vai prestar servi?os, capacidade de montar equipes que levem adiante o trabalho coletivo e ter sempre em mente que se est? servindo ao conjunto". Ainda assim, o professor n?o tem ilus?es de que o reitor pode agradar a todos. "O problema de qualquer institui??o complexa, como ? uma universidade, ? que todo mundo quer e precisa de alguma coisa. Deve-se atender a todos, mas em alguns casos nem tudo poder? ser feito".

Outro candidato ? sucess?o de Margarida Salom?o ? Henrique Duque (foto ao lado), professor h? 35 anos e diretor da Faculdade de Odontologia h? oito. Ele acredita que ser reitor ? um passo dentro da carreira acad?mica para quem, naturalmente, vai ganhando a confian?a da comunidade de estudantes e docentes. "Acaba sendo uma coisa natural, no momento em que esse grupo passa a enxergar determinada pessoa como algu?m adequado para administrar a institui??o", diz Duque, que defende a qualifica??o do professor para que ele postule a reitoria. "? preciso uma conduta acad?mica compat?vel, com mestrado e doutorado, produ??o cient?fica e muitos contatos".

O professor cita caracter?sticas que ele cr? serem fundamentais: capacidade de negocia??o e gest?o, conhecimento, bom relacionamento interno e externo, a??o participativa e democr?tica e, principalmente, lideran?a. "Sem falar que o reitor n?o deve envolver partidarismo no seu trabalho, e sim seguir pol?ticas da pr?pria universidade, de forma a benefici?-la com isso. ? a pol?tica a favor da universidade, e n?o o contr?rio". E completa afirmando que o reitor n?o pode deixar a for?a e import?ncia do cargo se sobrep?r ? conduta de que o exerce. "Recomenda-se ter a seguinte consci?ncia: 'eu estou reitor', e n?o 'eu sou reitor'".

Rubem Barboza Filho (foto ao lado), doutor em Ci?ncia Pol?tica e professor da Faculdade de Ci?ncias Sociais da UFJF, ? outro candidato ao posto. Ele frisa o fato de que ser reitor n?o pode virar uma ambi??o. "N?o ? uma voca??o, e sim fun??o de defesa das a?es de consenso dentro da universidade", afirma. "A reitoria ? o poder executivo desse consenso e de uma comunidade democr?tica formada por estudantes, professores, t?cnicos e alunos". Na vis?o de Rubem, o bom reitor deve principalmente ser uma figura descentralizadora, que distribua o poder com as unidades acad?micas e jamais se considere "alguma divindade".

"Ele ? um professor como outro qualquer, que coordena a institui??o, mas n?o ? o ?nico respons?vel por ela. Deve permitir a participa??o de todos, discutir caminhos, buscar apoios e parcerias e, claro, ter poder de decis?o", analisa o professor. "O cotidiano de um reitor ? uma aventura permanente no processo de evolu??o da universidade". Essa aventura deve sempre ter em mente a excel?ncia da institui??o, concorda Ignacio Delgado, do ICHL. "O reitor ? o catalisador dos diferentes interesses acad?micos na constru??o de um projeto universal que fa?a a universidade chegar sempre a patamares mais altos", diz Delgado.

Quem vencer a elei??o, prevista para acontecer at? meados do ano, vai assumir a UFJF depois de oito anos sob a chefia de Margarida Salom?o. Depois de assumir, mant?m-se o sal?rio de professor e ganha-se uma gratifica??o do Minist?rio da Educa??o. O or?amento da UFJF para 2006, o qual o novo reitor ir? gerir, ainda n?o foi votado pelo governo federal - em 2005, foram disponibilizados R$ 17 milh?es pelo Tesouro Nacional.

O pioneiro
Se exercer o cargo ? complicado para quem pega a fun??o sucedendo a outro, imagine como deve ter sido para aquele que "inaugurou" o posto em Juiz de Fora. Moacyr Borges de Mattos, advogado aposentado, est? vivo e muito l?cido para contar, aos 93 anos, as experi?ncias de ter sido o primeiro professor a chegar ao cargo mais alto da UFJF, um ano depois da funda??o do campus. Era 1960 quando o ent?o presidente Juscelino Kubitschek criou a universidade, agregando as j? existentes faculdades de Direito, Medicina, Farm?cia e Odontologia, Ci?ncias Econ?micas e Engenharia.

Moacyr (foto ao lado) dava aulas de advocacia desde o final dos anos 30. Formado h? 70 anos no Rio de Janeiro, lembra, que t?o logo o campus passou a existir, formou-se um conselho universit?rio composto por dez membros - dois de cada faculdade. "Eu era diretor do Direito na ?poca e fui pro conselho. L? deveria ser definida uma lista tr?plice a ser enviada ao presidente da Rep?blica (J?nio Quadros, ?quela altura), que escolheria dali o nome do reitor. A elei??o era indireta, e n?o em vota??o, como ? atualmente". Inicialmente o advogado n?o tinha interesse em assumir o cargo. "Estava no melhor momento da minha profiss?o e n?o queria pegar aquela responsabilidade. Quando soube que o escolhido tinha sido meu nome, fiquei muito surpreso. N?o esperava, realmente", conta.

Nomeado em junho de 1961, Moacyr se manteve como reitor at? 1967, cumprindo dois mandatos. Sobre que tipo de pessoa deve exercer a fun??o, frisa a necessidade de ser "um cidad?o com muitas qualidades de lideran?a e administra??o, ativo, inteligente, honesto, ousado, destemido". Ele se recorda de que, na sua gest?o, o or?amento da universidade chegava a ser maior que o da prefeitura. "O reitor lida com valores muito altos e deve ter extrema responsabilidade".

Sobre o significado dessa figura acad?mica, o ex-professor afirma ser "uma posi??o de alta express?o cultural e social, pois representa a universidade, ?rg?o m?ximo da educa??o de um pa?s". "O reitor n?o tem termos de compara??o com mandatos pol?ticos, por exemplo. Ele deve ser pol?tico, mas n?o de forma ideol?gica, e sim para saber fazer acordos". Moacyr chega a afirmar que, ao menos em Juiz de Fora, o reitor est? entre as maiores autoridades locais, junto ao prefeito, o arcebispo e o presidente da C?mara dos Vereadores.

"N?o ? ? toa que a denomina??o seja a de 'magn?fico reitor'. H? at? uma conota??o religiosa na fun??o: na Universidade de Coimbra, em Portugal, a sala dos capelos [t?pico traje acad?mico] ? semelhante a uma igreja, e em grande solenidades, os professores andam em prociss?o sendo liderados pelo reitor", conta Moacyr.