Artigo
Alimentos transg?nicos

27/04/2002

Organismos transg?nicos ou geneticamente modificados s?o aqueles produzidos atrav?s de recursos da engenharia gen?tica, onde genes de um organismo s?o transferidos para outro. Os genes chamados ?estrangeiros? quebram a seq??ncia do DNA, fazendo com que o receptor sofra uma ?reprograma??o? e, com isso, seja capaz de produzir novas subst?ncias.

Segundo estudiosos do assunto, o melhoramento gen?tico de plantas sempre ocorreu, desde que o homem come?ou a cultivar seu pr?prio alimento. Usando conhecimentos e t?cnicas dispon?veis, o melhoramento era feito atrav?s de m?todos hoje chamados convencionais, que empregam essencialmente a reprodu??o sexuada e sele??o.

O subseq?ente conhecimento sobre o material gen?tico de diferentes esp?cies possibilitou o emprego de t?cnicas para a transfer?ncia de genes espec?ficos entre esp?cies diferentes, sem a necessidade da reprodu??o sexual. Essa tecnologia recebeu o nome gen?rico de engenharia gen?tica, a qual permite um processo muito mais controlado e preciso de introdu??o de uma caracter?stica na planta do que no processo de cruzamento sexuado.

Em 1973 foi realizada a transfer?ncia de um DNA de uma bact?ria para uma planta. Em 1994 j? era comercializado o tomate transg?nico nos EUA, constru?do pela Calgene. Desde essa data, por interesses econ?micos, tem havido r?pida libera??o das plantas transg?nicas nos EUA. S?o altos investimentos em pesquisa, mas sem a devida considera??o dos riscos a longo prazo para a sa?de humana e animal, assim como para o meio ambiente.

Os EUA s?o os maiores detentores das aplica?es comerciais da moderna biotecnologia. S?o tamb?m os maiores exportadores de culturas geneticamente modificadas. Atualmente 35 milh?es de hectares no mundo s?o plantados com variedades agr?colas geneticamente modificadas, como soja, milho, canola, batata e algod?o. T?m sido plantadas em larga escala nos EUA, Canad? e China. Estima-se que cerca de 80% a 90% da produ??o mundial de ?leo de soja prov?m de soja geneticamente modificada.

At? o presente, as plantas obtidas pelo processo da ?transgenia? referem-se a genes espec?ficos, como toler?ncia a herbicidas e resist?ncia a insetos. Novas variedades com propriedades mais amplas, como melhor qualidade nutricional, t?m sido obtidas e est?o em fase de experimenta??o.

Embora se compreenda que os avan?os da biotecnologia podem ser extremamente ben?ficos para a melhor qualidade de vida no planeta, ? importante considerar os riscos que os alimentos transg?nicos podem trazer ? sa?de humana. Algumas experi?ncias negativas j? foram relatadas, como o aparecimento de alergias provocadas por alimentos geneticamente modificados, assim com o aumento da resist?ncia a antibi?ticos e o aparecimento de novos v?rus (combina??o com v?rus j? existentes).

As empresas de biotecnologia alegam que fazem testes suficientes para comprovar que tanto o cultivo quanto a ingest?o de alimentos transg?nicos s?o seguros. A principal alega??o ? a de que todas as transforma?es gen?ticas s?o submetidas ? sele??o, ou seja, todas as transforma?es indesej?veis (letais ou invi?veis) s?o automaticamente eliminadas.

Por outro lado, sabe-se que o conhecimento produzido at? o momento no campo da engenharia gen?tica ainda ? bastante limitado para se estabelecer o grau de seguran?a na utiliza??o de tais produtos. Como em cada ser vivo existem milhares de genes, seria necess?rio conhecer o maior n?mero poss?vel desses genes antes de estabelecer, com seguran?a, o risco de tais modifica?es gen?ticas. Como exemplo, a soja possui entre 100 mil e 200 mil genes. Desses, s? 20 foram devidamente estudados.

Discuss?es sobre a seguran?a quanto ao uso dos alimentos transg?nicos t?m sido mantidas pela comunidade cient?fica internacional. Muitos cientistas defendem a id?ia de que ? muito cedo para fazer alguma afirma??o quanto ao uso de tais produtos. A discuss?o sobre o tema ? complexa e exige que novas pesquisas sejam conduzidas.

A libera??o indiscriminada, sem a devida considera??o, de produtos geneticamente modificados tem trazido problemas bastante s?rios em alguns pa?ses. No Jap?o, em 1989, 37 pessoas morreram e 1.500 se tornaram permanentemente inv?lidas ap?s consumirem um suplemento alimentar ? base de triptofano produzido por uma bact?ria que havia sofrido modifica??o gen?tica. A modifica??o fez com que a bact?ria produzisse uma subst?ncia altamente t?xica, fazendo adoecer 5.000 pessoas naquele pa?s. A subst?ncia s? foi detectada quando o produto j? estava no mercado.

A soja transg?nica nos EUA, produzida pelo grupo Monsanto, ? a terceira causa de problemas de sa?de entre os agricultores norte-americanos. Exemplos como esses mostram ser de fundamental import?ncia o devido estudo desses produtos antes de sua libera??o para cultivo e posterior consumo humano.

Algumas dificuldades existem no estabelecimento do risco desses produtos, o que torna o assunto bastante controverso. Em v?rios casos, o novo gene introduzido n?o est? presente no alimento geneticamente modificado, tornando imposs?vel a sua detec??o. No ?leo de soja refinado n?o se consegue detectar DNA ou prote?na geneticamente modificada, uma vez que o processo de refino do ?leo elimina esses componentes. Isso mostra como a especificidade de cada caso deve ser considerada. N?o se pode afirmar, de forma generalizada e imprecisa, se o alimento transg?nico ? seguro ou n?o.

D?vidas como a insufici?ncia de conhecimento cient?fico para se avaliar os eventuais impactos dos alimentos transg?nicos para a sa?de humana e o meio ambiente geraram a necessidade de regulamentar a libera??o desses alimentos para a comercializa??o e, conseq?entemente, para o consumo humano. A biotecnologia ? regulamentada de forma diferente na Europa e nos EUA. Ao contr?rio da Europa, nos EUA n?o existe regulamenta??o espec?fica para os transg?nicos.

O sistema regulat?rio brasileiro se assemelha muito ao europeu, considerando o controle dessa tecnologia de forma distinta dos demais processos tecnol?gicos. Sendo assim, a engenharia gen?tica no Brasil ? duplamente controlada ? sofre o controle das legisla?es j? existentes adicionada dos controles estabelecidos pela Lei de Biosseguran?a, de 1995.

A Lei de Biosseguran?a trata da inocuidade do alimento para o consumo humano, a qual exige que este n?o produza danos com o seu uso previsto nas condi?es de consumo. Essa lei tende a assegurar a adequa??o das pesquisas envolvendo a biotecnologia moderna e a regulamentar o uso da engenharia gen?tica, assim como a libera??o no meio ambiente de organismos modificados por essas t?cnicas, com vistas ? preserva??o do meio ambiente e da biodiversidade e a sa?de da popula??o. Em s?ntese, podemos assim classificar as vantagens e desvantagens atualmente consideradas para os produtos transg?nicos:

Vantagens

  • Aumentar o tempo de prateleira (validade) do produto.
  • Reduzir ao m?ximo o uso de agrot?xicos (at? mesmo eliminar o uso dos mesmos).
  • Ganho no balanceamento de nutrientes, levando ? melhor adequa??o da dieta.
  • Possibilidade de modifica??o, a menores custos, em certos alimentos (exemplo: leite sem lactose).
  • Possibilidade de vacina??o atrav?s dos alimentos (uso de ant?genos).

Desvantagens

  • Organismos modificados s?o altamente alerg?nicos (induzem ? alergia). Exemplo: soja transg?nica.
  • Transfer?ncia da resist?ncia a antibi?ticos para bact?rias presentes no intestino humano.
  • Efeitos t?xicos a partir do desenvolvimento de subst?ncias indesej?veis.
  • Aparecimento poss?vel de novos v?rus (recombina??o com outros j? existentes no meio ambiente).
  • Culturas transg?nicas podem produzir novas pragas na agricultura. intera??o no meio ambiente com as variedades naturais.
  • Elimina??o de insetos e microorganismos ben?ficos ao equil?brio ecol?gico.
  • Aumento de contamina??o do solo e len??is fre?ticos devido ao uso intensificado de agrot?xicos.
  • Desenvolvimento de plantas e animais resistentes a uma ampla gama de antibi?ticos e agrot?xicos.
O uso de organismos transg?nicos tem o potencial de oferecer benef?cios reais ? agricultura, ? qualidade da alimenta??o e ? sa?de. Por?m, os riscos precisam ser devidamente avaliados e controlados, o que exige uma pesquisa cont?nua e uma divulga??o ampla de seus resultados. De modo a permitir que todos os setores da sociedade sejam devidamente informados e possam participar das decis?es quanto ? libera??o ou n?o de tais produtos para a alimenta??o humana, assim como para o seu cultivo em larga escala.


Cristina Garcia Lopes
? nutricionista formada
pela Universidade Federal de Vi?osa.
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