Artigo
Entre os conflitos
e os relacionamentos amorosos

27/07/2001

Ah! ... O amor! ...
"Que pode uma criatura sen?o, entre outras criaturas, amar?
Amar e esquecer, amar e malamar, amar, desamar, amar?
Sempre, e at? de olhos vidrados, amar?"

Assim escreveu o poeta Carlos Drummond de Andrade, dentre muitos outros poetas, sobre esse sentimento t?o sublime. Entretanto, nem t?o sublimes quanto a abordagem po?tica acerca do amor parecem ser as rela?es amorosas estabelecidas por homens e mulheres. N?o s?o poucas as pessoas que procuram ajuda psicol?gica na tentativa de administrar melhor suas quest?es nesse tipo de relacionamento. O que permearia, ent?o, a vincula??o afetiva das pessoas no terreno do "cora??o"?

Em princ?pio parece ser algo simples e perfeito, uma magn?fica sensa??o de completude. Uma paquera, um namoro, uma nuvenzinha cor-de-rosa passeando sobre as cabe?as apaixonadas. Por?m, muitos fatores est?o envolvidos nas escolhas dos parceiros e na manuten??o da rela??o.


Representa??o do "Complexo de ?dipo", na mitologia greco-romana
Sigmund Freud Sigmund Freud, o fundador da psican?lise, que elaborou uma extensa teoria sobre o desenvolvimento sexual da inf?ncia do ser humano, acreditava que esse desenvolvimento estaria diretamente ligado ? vida afetiva do adulto, principalmente no que tange ? escolha de parceiro. ? predominante nessa teoria o "Complexo de ?dipo" que, de maneira bastante sucinta, pode ser definido como o "conflito em que ? vivida uma representa??o inconsciente pela qual se exprime o desejo sexual ou amoroso da crian?a pelo genitor do sexo oposto e sua hostilidade para com o genitor do mesmo sexo." (Vocabul?rio da Psican?lise)
A explica??o desse complexo apavora e deixa indignada muita gente. N?o ? raro questionamentos desse tipo: "- Como uma crian?a pode ter desejo sexual, e ainda por cima pelo pai ou pela m?e? Que horror!" Tal revela??o realmente causa espanto quando n?o ? analisada de forma correta e vista fora do contexto em que deve estar inserida.


Representa??o de ?dipo e sua m?e, Jocasta, na mitologia greco-romana
A quest?o ? que meninos e meninas t?m como seu primeiro objeto de amor a m?e, pessoa que cuida, que alivia a dor, que alimenta, proporcionando-lhes, assim, sensa??o de bem estar e prazer. No decorrer do desenvolvimento a menina transfere para o pai a energia afetiva que at? ent?o direcionava para a m?e. Nessa ?poca passa a apresentar sentimentos hostis, n?o conscientes, para com a m?e, visto que precisa dividir com ela as aten?es dispensadas por seu pai. O menino mant?m o mesmo objeto de amor desde o nascimento apenas intensificando-o em determinada fase, quando torna-se, hostil para com o pai, pois o encara como um rival. Aquela pessoa t?o maravilhosa e que a crian?a tanto deseja com exclusividade ? proibida para ela.

Futuramente v?o percebendo, ainda de maneira inconsciente, que n?o t?m como disputar com seu pai ou sua m?e e, ent?o, tendem ? identifica??o com a figura parental do mesmo sexo que o seu. Isso ocorre na fantasia da crian?a, pois imagina que j? que o pai ou a m?e s?o t?o interessantes um para o outro, ela dever? se parecer com aquele do seu mesmo sexo para, assim, tamb?m ser igualmente interessante aos olhos do outro. Dessa forma, a menina passa a admirar a m?e e o menino passa a admirar o pai at? que criem identidade pr?pria e fa?am escolhas afetivas fora do ambiente familiar, mas, com resqu?cios desta fase do desenvolvimento infantil, pois em seus relacionamentos amorosos emerge o primitivo.

Diante disso pode-se dizer que as escolhas que as pessoas fazem dos seus parceiros e a manuten??o da rela??o tem liga??o direta com essas quest?es da inf?ncia. Tendem a se relacionar com r?plicas de seus pais, figuras n?o conquistadas, outrora, da maneira desejada. Quando a crian?a n?o consegue superar satisfatoriamente a fase do Complexo de ?dipo costuma repetir com parceiros diferentes a rela??o dos pais em sua vida adulta, independente da qualidade desta rela??o. ? nesse complexo e na proibi??o que o caracteriza que ? identificada a principal fonte das dificuldades de relacionamento entre homem e mulher. A postura materna e paterna ? muito importante para a elabora??o do Complexo de ?dipo, no sentido de estabelecer para a crian?a os verdadeiros pap?is de cada um na vida familiar.

Alguns daqueles que n?o fizeram essa elabora??o na inf?ncia v?m realiz?-la posteriormente pela via da dor ps?quica. S?o amadurecidos pelo sofrimento de rela?es desastrosas. Essas experi?ncias, juntamente com a psicoterapia, fazem com que as repeti?es diminuam e que possa haver um enlace amoroso satisfat?rio.

S?o muitas as quest?es que permeiam os encontros e desencontros entre homem e mulher, mas o fato ? que a mulher existe enquanto ser humano e se configura como tal frente ao homem, assim como este se faz homem diante da mulher. Um ? o complemento do outro por serem diferentes. Um procura no outro aquilo que n?o tem. A mulher precisa desenvolver seu lado masculino para se completar, ao passo que o homem, seu lado feminino.

? na rela??o que o humano atua e se revela, tornando-se feliz ou triste, por isso o amor continua sendo o tema preferido de tantos poetas, criaturas t?o sens?veis.


Denise Mendon?a de Melo
? psic?loga, formada pelo
Centro de Ensino Superior
de Juiz de Fora.
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