Artigo
Brincar para aprender
::: 15/01/2003

Toda crian?a tem uma grande capacidade para inventar, fantasiar, criar. Um pedacinho de madeira ou mesmo uma sombra na parede transformam-se em rico material para horas de brincadeira. Tudo ? motivo para que elas saiam do concreto e entrem no mundo da fantasia em meio a muitos risinhos e hist?rias mirabolantes. ? uma atividade natural. Com o decorrer do tempo a interven??o da sociedade, a imposi??o de regras e leis, a poda constante de terceiros v?m tolher a espontaneidade e criatividade da crian?a, podendo transform?-la num adulto mecanicista e met?dico.

Dessa maneira, ? preciso educar com muito crit?rio, sempre pensando na import?ncia de cada decis?o para o crescimento saud?vel da crian?a. Permitir espa?o para o brincar espont?neo, mas tamb?m fazer as interven?es necess?rias para que ela v?, pouco a pouco, delimitando e entendendo os limites necess?rios para uma boa conviv?ncia social.

A sa?de mental, o desenvolvimento motor e intelectual de uma crian?a est? intimamente relacionado com o tipo de brincadeiras que ela desenvolve ou que permitem que ela desenvolva. Atrav?s do l?dico a crian?a aprende a decodificar os c?digos da leitura e da escrita. Cabe n?o somente pensar sobre a situa??o, assustadoramente vis?vel, das crian?as obrigadas a trabalhar para ajudar no or?amento familiar, como as que vendem bala em sinais de tr?nsito ou mesmo desempenham atividades insalubres; por n?o lhes restar op??o, crescem sem ter assegurado seus direitos mais elementares e sem gozarem do menor cuidado para com essas sutilezas da educa??o.

Pretende-se tamb?m relembrar que a din?mica da vida atual, ?poca em que a maioria das crian?as cresce presa dentro de apartamentos, tende a dificultar o brincar espont?neo dos pequenos. Envoltos pela vida profissional e dom?stica, e temerosos pela seguran?a dos filhos, muitos pais costumam recorrer aos jogos eletr?nicos como forma de divers?o para as crian?as. Apesar de ser uma solu??o r?pida e f?cil para garantir que os pequenos fiquem sossegados em casa, visto que eles adoram esse tipo de jogo, n?o ? boa para o seu desenvolvimento.

Para o psicanalista Paulo Alexandre Cordeiro de Vasconcelos da USP, ?o ato de brincar evoluiu de forma negativa?, diz que o homem est? distante do papel primordial da brincadeira, que ? de conectar as pessoas entre si e com o mundo. Se o espa?o f?sico ? limitado, a crian?a mesma se incumbir? de criar sua atividade com o que tem ? m?o. A atividade supervisionada e monitorada tamb?m ? importante para o desenvolvimento em outros aspectos, mas a crian?a precisa mesmo de uma certa autonomia para dar asas ? sua imagina??o.

Existe a preocupa??o de alguns pais em comprar brinquedos muito sofisticados, caros, com os quais os filhos devem brincar cuidadosamente, seguindo manuais complexos. Entretanto, essa preocupa??o n?o deveria ser seguida ? risca, pois o saud?vel para as crian?as ? deixar que elas criem as pr?prias regras para brincar, as discutam em grupo, inventem, briguem, fa?am as pazes. Assim, inicia-se o desenvolvimento da ?tica e a aquisi??o de valores.

Atualmente, j? ? poss?vel encontrar as brinquedotecas, um local onde a crian?a pode ser crian?a. Tem liberdade para brincar da forma que desejar e inventar ou at? ficar quieta observando. ? um lugar onde se pretende o resgate da brincadeira espont?nea, t?o em baixa entre os adultos.


Denise Mendon?a de Melo
? psic?loga, formada pelo
Centro de Ensino Superior
de Juiz de Fora.
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