Tradição européia ganha público em JF
Nascido na Europa, forte nos EUA, o Halloween conquista
jovens e crianças na cidade
*Colaboração
Madalena Fernandes
Revisão
22/10/2008
Apesar da temática "macabra", o Halloween tem nas crianças o seu público mais apaixonado. Ao contrário dos países onde a data é uma tradição, os pequenos mineiros não saem pedindo doces ou fazendo travessuras na vizinhança, mas se divertem com as fantasias de monstros e fantasmas.
Para a proprietária de uma loja de fantasias do centro da cidade, Marília
Nascimento, essa é uma maneira que as crianças encontram para tentar superar
os próprios medos. "Faz parte do amadurecimento delas querer se divertir com
o terror. Elas transformam o medo que sentem dos fantasmas em algo lúdico."
A professora de um curso de inglês da cidade, Sylvia Varotto,
concorda com Marília. A professora conta que, nessa época, eles não sentem
medo das figuras de caveiras, bruxas e monstros. Pelo contrário, eles adoram. "Na
verdade, para eles, quanto mais horripilante melhor. Eles vêm fantasiados, participam
do concurso de fantasias que fazemos todos os anos e sempre se divertem muito!"
Marília conta que o Halloween está resgatando a força que
perdeu nos últimos anos em Juiz de Fora. "Já foi uma festa muito grande na cidade, mas houve
um descaso porque a tradição não é nossa. Mas do ano passado para cá, aconteceu
um crescimento significativo, porque as pessoas investiram mais nesse tipo de evento"
,
comemora.
Segundo ela, já estão programadas quatro grandes produções com a temática do Dia das
Bruxas na cidade, em 2008. A proprietária acredita que o grande charme dessa festa é a multiplicidade
de facetas que ela apresenta.
"Há uma mistura do cômico, do pavor e do sexy,
o que dá um clima diferente ao evento"
, diz.
Prova da força do caráter sexy da festa dos adultos está nas fantasias mais procuradas.
Marília revela que os vampiros e as bruxinhas sexy sempre comparecem nessas
festas e ela tem uma explicação para isso. "Ninguém mais quer ser a bruxa
feia,
e os meninos querem se mostrar viris e fortes na figura do vampiro. É
o lado do fetiche mesmo."
Com experiência no ramo, Marília sabe que o público desse tipo de festa, tanto as crianças como os adultos, deixam sempre para procurar a fantasia em cima da hora, mas garante que já existe um bom número de reservas para os eventos já programados em comemoração à data.
A história
Parece um paradoxo. O Halloween, festa que o cinema norte-americano consagrou
como uma festa alegre e divertida em que as crianças se fantasiam de bruxas, monstros
e fantasmas para pegar doces na vizinhança, tem uma origem um pouco mais densa.
Há mais ou menos dois mil anos, era a celebração celta para o fim do verão e da colheita, marcando o início do inverno, estação associada à idéia da morte. Sylvia explica que os celtas comemoravam o ano novo no dia 1º de novembro, e o dia 31 de outubro era a data em que eles consideravam que havia uma abertura entre os mundos dos mortos e o dos vivos.
"Para eles, nesse dia, os mortos voltavam à Terra e isso tornava a noite mágica para
os druidas e padres celtas fazerem as previsões do futuro. Era uma noite esotérica
para esse povo"
, explica.
A influência do cristianismo, trazida pelos romanos, fez com que a data se misturasse
às comemorações dos dias 1º e 02 de novembro, quando os católicos celebram, respectivamente,
os dia de todos os santos e o dia dos mortos. Nessas ocasiões, as pessoas se fantasiavam
de anjos, santos e demônios, reunindo todas essas datas em uma única celebração
que ficou conhecida como Hallowman e, mais tarde, o Halloween.
Sylvia conta que a colonização dos EUA acabou levando a tradição para lá, onde
é muito forte, e que o Brasil, por conseqüência, acabou incorporando a data. "Não
chega a ser uma tradição por aqui. Algumas pessoas e, principalmente, as escolas
de inglês comemoram a data mais por curiosidade do que por costume tradicional"
, diz.
Algumas superstições
Segundo Sylvia, os celtas acreditavam na força dos espíritos no dia 31 de outubro
e, no jantar dessa noite, eles faziam as refeições mudos para que os espíritos
maus não se encorajassem a irem para a mesa também.
Outro hábito era tocar sinos para espantar os maus espíritos e
evitar cruzar com gatos pretos, por acreditarem que esses animais eram o próprio
demônio ou estavam possuídos pelos maus espíritos.
E se um morcego voasse três vezes ao redor da casa na noite de Halloween,
a tristeza já tomava conta do ambiente, porque esse era o sinal de que a morte
estava próxima.
*Marinella Souza é estudante de Comunicação Social na UFJF