
Leoni Cantor faz pré-estréia do seu novo álbum, "Outro Futuro", em Juiz de Fora
Réporter
04/09/2006
O cantor de compositor Leoni voltou a dar o ar da graça em Juiz de Fora. Dessa vez, com uma pitada de especialismo, diga-se de passagem. Foi no palco do Cine-Theatro Central, que no último sábado, um dos maiores nomes da "nova velha geração do rock nacional se apresentou: dessa vez para o lançamento de um turnê nacional.
"Vocês vão ter um show único aqui hoje, porque ele mistura inúmeras
sensações: euforia, primeira vez, felicidade. Um monte de coisas que
espero que esteja a altura de vocês"
. Entre essas e outras frases, Leoni
declarou seu amor à cidade. "Eu vou ter que andar muito para encontrar uma
platéia tão calorosa quanto Juiz de Fora"
, arrematou para não deixar
dúvidas.
Quem esteve no Central no último sábado, pôde conferir de perto o trabalho gravado em Paris, com junto com seis índios Ashaninka, do Acre. A idéia do DVD, segundo o artista, foi possibilitar a divulgação da cultura indígena.
O "dono" de algumas gemas pop do cancioneiro brasileiro (Pintura Intima, Fixação, Os Outros, Lágrimas e Chuva entre muitas outras), falou com a equipe do portal ACESSA.com. Confira a entrevista abaixo:
ACESSA.com: Por que você escolheu Juiz de Fora para a estréia da sua
nova turnê?
Leoni: Juiz de Fora é uma cidade que está no meu coração. Sempre
falo isso, onde quer que eu vá. Esse lugar lindo também foi a primeira
cidade a criar uma comunidade no Orkut para mim, que, alías, é muito ativa.
Os shows na cidade sempre foram muito bons. Durante um bom tempo eu fiz shows
em Juiz de Fora com um público cada vez maior e cada vez mais empolgado. Até
que o Cultural ficou pequeno. Foram mil pessoas dentro e muitas de fora.
Naquela noite nasceu a idéia de tocar no teatro. Foi um espetáculo
inesquecível. Um dos melhores de toda a turnê do "Ao Vivo" . Essa é
a razão de querer retribuir tanto carinho e apresentar o show novo primeiro
em Juiz de Fora, antes de qualquer capital, antes mesmo do Rio que é a minha
cidade.
ACESSA.com: Qual o conceito que mais cabe ao público de Juiz de Fora
então?
Leoni: O pessoal é caloroso, muito animado mesmo. Como disse foi um
dos lugares mais animados que apresentei a minha turnê do disco "Ao Vivo".
Esse público animado, em um lugar lindo, gera uma combinação perfeita. O
Cine Theatro Central, além de ser um teatro de sonho, um dos melhores do
Brasil, tem uma importância muito grande na minha carreira.
ACESSA.com: Como se encontra seu público hoje? São sempre os mesmos
dos 20 anos de carreira, ou se diversificou?
Leoni: Eu tenho esse público, mas a maior parte das pessoas que vão
aos shows hoje é a garotada. E é engraçado que como eles não viveram o meu
início de carreira, a maioria das músicas passam como inéditas. Então se
cria o mesmo apego com as inéditas e as antigas. Aliás as músicas mais
recentes como "As cartas que eu não mando", "temporada das flores" e "50
receitas" fazem mais sucesso do que as mais antigas.
ACESSA.com: Como você se sente sendo considerado um dos maiores
hitmakers do momento?
Leoni: Eu gosto do título, mas não me considero um grande hitmaker.
Se pegar o Herbert (Vianna) é uma coisa absurda o número de sucesso dele no
Paralamas. Outro é o Lulu Santos. Posso até ser um hitmaker, mas existem
outros também. Outro que admiro muito é o Nando Reis.
Mas eu gosto do título, pois as pessoas começam a pedir mais
músicas minhas (risos). O Barão, por exemplo, me pediu música, o Paralamas
gravou música minha, então o pessoal fica mais atento né?
E tem muitas bandas novas querendo gravar Leoni também. E isso é
muito legal.


ACESSA.com:Qual a sua opinião sobre a retomada musical dos "anos 80"?
Leoni: Tem dois lados nessa história: tem o lado da moda, e moda vai
e volta e não deixa rastro depois. Inclusive tenho uma sobrinha de 15 anos
que é punk. A moda punk foi da época "80".
O outro lado é o repertório que é legal. A gente tem uma geração
de compositores que é muito forte. No mesmo momento tinha: Renato Russo,
Cazuza, Herbert, Humberto Gessinger, Nando Reis, Arnaldo Antunes, Roger, Léo
Jaime, Evandro Mesquita, Lulu Santos, eu no Kid Abelha, o pessoal do Biquíni
Cavadão. Enfim, tinha um grupo de compositores muito grande na época. E a
garotada de hoje redescobre esse repertório todo. O Heróis da resistência
hoje tem mais fãs do que quando terminou.
ACESSA.com:E como foi essa sua saída do Kid Abelha e a Criação do
Heróis da Resistência?
Leoni: Na realidade, eu já tinha o Heróis da Resistência em paralelo
ao Kid Abelha. Mas pra mim ficou mais atraente o trabalho no Heróis, onde eu
cantava as músicas que eu compunha e não apenas tocava. Mas foi tranqüila
essa minha saída, pois eles (se referindo ao Kid Abelha) já estavam meio que
avisados.
ACESSA.com: E por que o Heróis da Resistência não foi a frente?
Leoni: Teve uma hora que as idéias se divergiram. Eu queria
desenvolver um trabalho mais "soft", e o resto da banda queria fazer um
trabalho pesado. Bem hard rock. E eu não tinha nem voz e nem repertório pra
isso. Tiveram várias músicas do Heróis III, nosso disco de despedida , que
achei que foram desperdiçadas por arranjos pesados demais. Elas seriam
melhor gravadas se tivessem sido produzida num som mais light. Então chegou
uma época que eu disse "- não vou pra esse lado" e chegamos a conclusão que o
grupo devia se separar mesmo. Mas não aconteceu nada de deconforto, não...Foi
só uma decisão.
ACESSA.com:Então o Leoni é mais pop, menos pesado?
Leoni: É. Acho que menos definido, eu não queria cair numa coisa de
hard rock. Eu queria fazer canções, eu faço canções. Não interessa se é mais
brasileiro, se é mais rock, não quero ser muito assim. Eu acho até que
consegui, porque depois dos shows, vem muita gente comentar e têm
interpretações completamente diversas. Tem gente que fala: Eu adoro seu som,
adoro MPB. Outros dizem: ainda bem que você veio tocar porque aqui só vem o
pessoal de MPB, tinha que vir alguém de rock. Isso no mesmo show. Então o
pessoal não sabe muito onde me encaixar, e eu acho isso bom.
Leoni: É muito do que eu vivo no dia-a-dia com as pessoas que estão ao meu redor. E muita literatura. Teve um livro, chamado O chão que ela pisa, de Salman Rushdie, que eu escrevi cinco letras a partir dele. Quando achava a idéia bacana, anotava uma frase e daí desenvolvia a música. A chave da porta da frente é uma música inspirada nesse livro. Não dá para ser só auto-biográfico, porque não acontece tanta coisa interessante na nossa vida o tempo todo. Tem tantas histórias interessantes pelo mundo, é só ir catando. Mas, também ouvir músicas me inspira muito.