Juliano Nery Juliano Nery 2/9/2011

Lugar de professor é na rua

Foto de manifestaçãoEmbora eu me arrisque dando aulas em algumas especializações Minas Gerais afora, não sou um professor integralmente, o que não me impede de ter contato com uma triste realidade. Em meus trabalhos com Comunicação Social, tenho visitado muitas escolas e acompanhado de perto a realidade educacional no estado e em nosso município. Não há dúvidas de que alguns itens que interferem na qualidade da educação melhoraram: a merenda, a estrutura física, o material escolar... E quando digo "melhoraram", não digo que esteja "perfeito". Sempre pode melhorar mais e mais e mais... Na condição de filho de professora de primário já aposentada, então, nem se fala. Acompanhei e acompanho, não sem tristeza, a negligência com a questão salarial, já que as melhoras na educação ainda não apareçam com substância no bolso dos professores. Aliás, longe disso: as greves do ensino municipal e estadual são a maior prova disso.

Que o lugar de professor é na sala de aula, contrariando o meu título, isso não resta a menor dúvida. Mas, no entanto, o tempo em sala de aula, fornecendo aprendizado e conhecimento aos alunos nos diversos níveis de ensino, não tem recompensa condizente ao professor. Na verdade, demonstra o descaso quando a discussão é o faz-me-rir no fim do mês. Sem entrar no mérito das negociações, que a cada dia ganham novos capítulos, o que não dá para entender é como o piso para a mais nobre das profissões, o magistério, não chegue aos quatro dígitos, ou seja, algo a partir de R$ 1 mil, que vale dizer, ainda seria pouco... Longe disso, o piso do Estado sequer chega ao valor do salário mínimo, o que dentro da Constituição não chega a ser permitido... Dessa forma, acredito que não seja difícil entender porque a adesão aos movimentos grevistas em Juiz de Fora ultrapasse os 80% e cada vez mais ganhe as ruas.

É aviltante pensar que uma profissão que requer instrução específica e anos de dedicação valha algo em torno dos R$ 700, que ainda será impactado, vale lembrar, pelos descontos previdenciários cabíveis. Sem contar as imediatas consequências no próprio ensino da sala de aula, já que é difícil pensar nas alternativas que um professor mal-remunerado lançará mão para se reciclar com um salário desses. Como o professor comprará livros técnicos da sua área para ampliar os seus horizontes de conhecimento? — Não vejo soluções com esse holerite. E olha que não mencionei nem a utilização do salário para coisas mais simples, como comer, pagar aluguel, enfim, viver... Um drama!

Está na hora da coerência das nossas esferas políticas entrar em ação e verificar que não é assim tão descabido deflagrar uma greve. Os motivos são fáceis de entender e a própria população entende e compreende. E enquanto essas discussões tramitam e o bom salário não chega, os alunos estão longe da sala de aula. Alguns, inclusive, em vias de fazer provas importantes, como o Exame Nacional do Ensino Médio, que está bem próximo de acontecer. Como se preparar?

Como lá em casa a questão salarial da minha mãe-professora não foi menor do que o seu exemplo de profissão, meus dois irmãos estão, também, nas fileiras do magistério, ganhando a vida da mesma forma. Será que não aprenderam com os grupos políticos do estado e município? Ou será que foram nossos políticos que não conseguiram aprender, com o exemplo de dedicação dos professores de Minas Gerais, lhes concedendo melhores proventos? — Vai saber... E em tempos de O astro, espero que a canção de abertura, aquela do João Bosco, possa inspirar nossos governantes: "em setembro tudo irá mudar"... Ou, então, que providenciem as pedras ametistas para os professores. Com uma remuneração dessas, só com muita sorte e com muito misticismo.

Juliano Nery é solidário à luta dos professores.

Mais artigos

Juliano Nery é jornalista, professor universitário e escritor. Graduado em Comunicação Social e mestre na linha de pesquisa Sujeitos Sociais, é orgulhoso por ser pai do Gabriel e costuma colocar amor em tudo o que faz.