O adeus ao Amigo

Carlos Alberto Lemes de Andrade
Jornalista

Foto Josino Arag?o Amigo. Assim mesmo, com "a" mai?sculo... Foi esta a ?nica forma que encontrei para t?tulo reduzido de um dos mais dif?ceis e dolorosos dos textos que jamais escrevi em toda a minha vida de jornalista. Vida profissional que, em seus melhores momentos, devo ? figura extraordin?ria e marcante de Josino Andrade de Arag?o Filho, o Josino do nosso Di?rio Regional.

Momento dif?cil e doloroso para todos n?s que convivemos com aquele que considero o ?ltimo dos grandes pioneiros da vida mineira nas ?ltimas d?cadas. Hora mais dif?cil ainda por nos obrigarmos a vivenciar o vazio deixado por sua partida. Um vazio de empreendimentos; de criatividade, de inova?es e de vida. Uma vida de 64 anos de mudan?a permanente e cria??o constante.

Engenheiro sem diploma; construtor de mil obras; comunicador avesso ao holofote; radialista que se realizava longe dos microfones, seu orgulho o teve na justa vaidade de ostentar dois t?tulos conquistados com luta ingente contra tudo e contra todos: professor e editor de jornal di?rio.

Para os que tiveram a honra de privar da amizade e da conviv?ncia com essa figura sem par na hist?ria recente das nossas Geraes, Josino era a express?o exata de um tipo de homem que j? n?o encontramos mais em uma sociedade agora mais voltada ? apar?ncia e ? superficialidade.

Sua trajet?ria profissional iniciada com a aventura bem sucedida de um jovem sonhador a criar o sucesso do Curso pr?-Universit?rio Baependy, se desdobrou generosa na caminhada do fundador de col?gios e fomentador de voca?es com os col?gios Pio XII e Jo?o Paulo, institui?es que lhe deram a honra e a justa homenagem do t?tulo do qual jamais abriu m?o e ?nico que ostentava com genu?no prazer: professor.

Mas, a inquieta??o mental de Josino n?o se acomodaria apenas com seus col?gios e o constante derrubar de paredes e salas para edificar seus muitos sonhos. De seu curso de eletr?nica no Pio XII veio o chamado irresist?vel para adentrar caminhos diversos com a coloca??o em pr?tica da radiofonia que o tirou das salas de aula para a R?dio Pio XII e a Nova Cidade, primeiros passos para levar a comunica??o al?m de seu mundo pessoal na Rua Esp?rito Santo.

Da R?dio para a TV Educativa e depois a Tiradentes foi passo pequeno para quem sonhava alto, muito alto. Foi in?cio de um caminho que sempre o viu ? frente do dia-a-dia de suas emissoras. Ora era o Josino iluminador a detalhar coloca??o de spots e a abertura da luz sobre as bancadas; ora era o projetista a idealizar tapadeiras e pesquisar cortinas para o sucesso de muitos de n?s que convocou para nos dar vida e prest?gio em suas emissoras.

Seu orgulho nas obras de constru??o de est?dios e audit?rio era coisa que ele n?o sabia esconder. Sua presen?a permanente, acompanhando sempre seus oper?rios - mais amigos que empregados - era incans?vel no ritmo de mudan?as que impunha a todos esses empreendimentos.

Consolidado o gosto pela comunica??o, seu passo mais ousado o deu em 1994 quando colocou em pr?tica um projeto de jornal para um mercado dif?cil e de improv?vel retorno econ?mico-financeiro como o ? o da m?dia impressa.

Mas, sua determina??o inflex?vel se fez palavra de ordem e dela n?o recuou mesmo diante dos maiores desafios. Comprou rotativa que s? lhe permitia jornal em preto e branco e dizia que "not?cia n?o tem cor" como resposta aos que o admoestavam por buscar tecnologia passada.

E foi adiante, mesmo com todos os obst?culos poss?veis e imagin?veis. Formou equipe, negociou tinta e papel, direcionou pol?tica editorial, mudou e aprovou projetos gr?ficos e fez de sua sala na Oscar Vidal um centro permanente de a??o, deslocando seu mundo do antigo gabinete no Pio XII para as horas cansativas do fechamento de edi??o em noites e noites seguidas. Era o diretor incans?vel, exigente e detalhista que, pelo gosto, se fez editor e condutor ?nico da vida do Di?rio.

Para n?s jornalistas que faz?amos o jornal, era um desafio permanente atender ? idealiza??o do chefe que aos poucos descobria o mundo mut?vel, desgastante e tenso da edi??o di?ria de um matutino e por ele se apaixonava de forma permanente.

Neste anos de edi??o do Di?rio Regional n?o foram poucos os embates nos quais sua palavra era final e definitiva. Mas, foram muitos os momentos em que a confian?a e a amizade fizeram do dono do jornal o conselheiro mais pr?ximo, o irm?o a nos abrigar sob asas generosas que cimentavam fidelidade e perman?ncia.

Em todos os treze anos de exist?ncia do seu jornal, pouqu?ssimos foram os dias em que a edi??o foi fechada sem "o toque pessoal do Josino" como diz?amos com a familiaridade de quem n?o via outra forma de se fazer o Di?rio e lev?-lo ?s bancas com a vis?o de seu diretor e verdadeiro editor.

E foi nesse af? de perfeccionismo por fazer do jornal uma sua express?o pessoal que Josino deu seu ?ltimo passo em vida. Na noite de segunda-feira, 29 de outubro, 4.854 dias depois do long?nquo lan?amento do Di?rio em 1994, aprovou a corre??o da legenda de uma foto da primeira p?gina e se queixou de mal-estar.

Ali, fazendo o que mais gostava, nos deixou do jeito com que sempre viveu. A vida de um homem que semeou empreendimentos a m?os cheias. A vida de uma personalidade avessa ? badala??o vazia; amigo de muitos e fi?is amigos; cr?tico de palavra ?cida para aqueles que nada constru?ram em suas vida e generoso para todos os que dele se aproximavam em busca de abrigo e apoio.

E, ao mesmo tempo, nos legou a mais extraordin?ria hist?ria de um juizforano contempor?neo. No rastro de sua passagem pela vida incentivou e patrocinou carreiras e conhecimento com suas escolas; edificou pr?dios e sonhos como quem faz da vida momento ?nico de semeadura; abrigou companheiros com a m?o generosa de quem plantava em solo f?rtil; escreveu em linhas indel?veis uma hist?ria de vida que poucos ousaram erguer.

Aquele que um de seus oper?rios bem definiu por "um construtor de sonhos", n?o partiu em v?o: deixou-nos a imagem inesquec?vel de uma das pessoas mais not?veis que j? pisaram este ch?o sofrido das Minas Gerais.

Por isso, neste adeus ao Amigo o completamos com a esperan?a de breve estarmos juntos de novo.

E, por fim, s? nos cabe dizer: obrigado Josino por sua vida, por sua amizade e por tudo que voc? nos deixou de dedica??o, esperan?a e vontade.