Cem dias de Bruno: "Maior problema é o financeiro, que reflete em todas as secretarias"

Prefeito explica que orçamento está comprometido. A dívida herdada é maior que a anunciada, e é preciso buscar recursos estaduais e federais para "tocar" obras

Raphael Placido
Repórter
8/4/2013
Entrevista coletiva

O prefeito Bruno Siqueira reuniu a imprensa na manhã desta segunda-feira, 8 de abril, e, na companhia da maioria dos secretários, fez um balanço dos primeiros cem dias de seu governo. Por mais de uma hora, ele comentou os problemas enfrentados no mandato, sobretudo os financeiros, que acabam refletindo em todas as áreas de atuação da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), e o que tem sido feito para sanar a situação.

Bruno voltou a explicar que encontrou a Prefeitura com uma dívida de R$ 34 milhões com fornecedores, boa parte referente ao setor de saúde. "Financeira e administrativamente falando, as dificuldades que encontramos ao assumir foram semelhantes às de 2009, período em que a cidade vinha de uma grave crise. Foram feitas muitas propagandas dizendo que a cidade estava preparada para o futuro, mas, infelizmente, isso não corresponde à realidade e a população precisa saber disso. Temos graves problemas financeiros, mas vamos enfrentá-los de peito aberto e com muito trabalho", afirma.

Segundo o prefeito, a partir de agosto de 2012, muitas despesas deixaram de ser pagas, incluindo as contas de telefone da Prefeitura. "Alguns recursos para hospitais que têm convênio com a PJF não foram pagos, por exemplo. Estamos chamando os fornecedores para conseguirmos renegociar. No entanto, está sendo preciso pagar contas de 2012 com o orçamento deste ano, que já era apertado", lamenta.

Trabalho conjunto

O secretário de Fazenda, Fúlvio Albertoni, afirmou que, em cem dias, 40% da dívida herdada já foi paga, o que equivale a cerca de R$ 17 milhões. "Estamos pagando contas de 2012 com o orçamento atual. Não é uma reclamação. É uma constatação. É uma demanda que requer muita austeridade. Queremos frisar, sobretudo aos fornecedores, que a Prefeitura não vai dar calote. Estamos trabalhando e buscando soluções financeiras, com todas as secretarias unidas na redução de custos. A maioria já está recebendo em dia. Mas há outros problemas. O orçamento de 2013 está furado. Há uma previsão de recolhimento de ISS de R$ 20 milhões, que não se concretizou, já que a nota fiscal eletrônica só será implementada no meio do ano", explica.

Presa a contratos preestabelecidos, a Prefeitura pouco pode fazer para pagar as dívidas, a não ser negociar. Para evitar que problemas semelhantes se repitam no futuro, um grande esforço tem sido feito para melhorar as condições da PJF em contratos futuros. Outro ponto considerado importante por Bruno diz respeito à reabertura de concursos públicos. "Queremos desonerar a dependência dos serviços terceirizados. Há um grande déficit, e, por isso, queremos abrir concurso. Além disso, durante os quatro anos do mandato, muitas pessoas estarão de aposentando", afirma.

Como a Secretaria de Saúde tem sido a mais impactada pelas dívidas, o titular da pasta, José Laerte, também comentou a situação. "Qualquer interrupção no serviço de saúde é muito grave, e tínhamos fornecedores sem receber desde outubro. Desde maio não havia uma compra de medicamentos para a atenção primária, por exemplo. Temos contratos por metas que não eram cumpridas integralmente, mas que recebiam 100%. Estamos revendo isso", comenta.

Importância dos apoios federal e estadual

Bruno Siqueira faz uma comparação para situar melhor a atual situação do município: "A Prefeitura, hoje, é como uma família que gasta mais do que ganha, e que, além disso, ainda tem dívidas no cartão e contas de meses anteriores pendentes". Com tudo isso, pelo menos neste ano, não é possível fazer qualquer tipo de trabalho que demande altos valores. Assim, a busca insistente por recursos estaduais e federais tem sido a única solução para tocar as obras de grande porte, como as do Hospital Regional e as viárias. Para ele, a articulação com as outras instâncias governamentais é fundamental para desonerar o município.

Sabe-se que em 2009, a Prefeitura recebeu, do governo do Estado, recursos para a execução das obras viárias, mas que esse dinheiro acabou sendo remanejado para outras áreas. Com isso, buscou-se recursos no governo federal, através do DNIT. O prefeito explica que os recursos para as pontes, viadutos e trincheiras na região central ainda não está garantido. "Hoje, temos R$ 10 milhões para essas obras, mas precisamos de R$ 80 milhões. Desde 2012, comecei a fazer um trabalho político, junto a deputados federais, senadores e até o vice-presidente, Michel Temer. Nesse contexto, é importante ressaltar a participação dos políticos da região, que, independentemente da filiação partidária, têm trabalhado bastante em Brasília para garantir esses recursos. Esperamos, em breve, conseguir mais R$ 55 milhões e 'tocar' as obras. A expectativa é terminar as duas pontes ainda este ano."

Outra obra importante, a do Hospital Regional, está com a nova licitação em andamento e deve ter a construção retomada em breve. Em vários momentos, o prefeito frisou a importância do auxílio do Secretário de Estadual de Saúde, Antônio Jorge, em vários pontos, como a situação da dengue.

Realista, Bruno comenta que sua equipe está atenta a todos os problemas da cidade, mas que nem tudo pode ser feito neste momento. "Queremos fazer coisas muito importantes nos próximos quatro anos, cumprir o que falamos durante a campanha, mas, para isso, precisamos buscar recursos além do orçamento municipal. Não podemos ficar escondendo os problemas da cidade, que não são problemas só do prefeito, mas impactam todos os cidadãos. Alguns são imediatos, outros de médio e longo prazo, e alguns a gente pode não ter recursos para resolver. Queremos informar e também ser cobrados. A cobrança da população nos ajuda a ser mais eficientes", finaliza.

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