Ana Paula Ladeira Ana Paula Ladeira 16/01/2014

Big Brother, The Voice e Rebelde: qual a receita do sucesso em tantos países?

Big Brother BrasilUma nova temporada do Big Brother Brasil está começando e, apesar das inúmeras críticas sobre seu conteúdo e sobre as atitudes excêntricas de alguns participantes, os altos números de audiência continuam garantindo sua transmissão, ano após ano. No Brasil, a versão do reality show já está na 14ª edição, reforçando o êxito desse programa holandês, já exportado para 40 países.

Mas, afinal, o que se esconde por trás deste sucesso mundial? Claro que o formato do programa, tão inovador no final da década de 90, é o primeiro ponto a ser mencionado. Até então, existiam poucos reality-shows que explorassem tão bem o voyeurismo de nossa sociedade. Mas outro ponto-chave é a forma como o Big Brother é distribuído mundialmente pela Endemol.

Assim como tantos outros sucessos do horário nobre, o Big Brother é vendido através de um sistema de franquia. O processo de venda é bastante parecido com o de franquias de lojas ou de restaurantes, por exemplo. Assim, a empresa que criou o programa auxilia a emissora na adaptação local, fornecendo todo seu conhecimento prévio na produção. Iluminação, cenário, música, jogos, logomarca, horário de transmissão: todos esses detalhes são minuciosamente estudados e adaptados para o gosto do público brasileiro. É isto que tem garantido a reciclagem do programa, apesar do desgaste natural do formato (que já deixou de ser inovador). Para não ocorrerem erros, geralmente as empresas criadoras de um programa enviam um consultor para fazer o acompanhamento do processo de adaptação, de forma que todas as mudanças no formato original sejam previamente autorizadas.

Aos poucos, esta tendência de comprar franquias vem se consolidando na televisão aberta e fechada. Geralmente, programas como The Voice, Big Brother, Rebelde, CQC, O Aprendiz ou Dança dos Famosos já foram testados em muitos outros países antes de chegarem ao Brasil. São mercados de televisão diferentes, mas que servem para indicar o nível de sucesso, os erros e os acertos dos programas, e para criar um know how na produção.

Claro que as adaptações de programas estrangeiros não são recentes. Sucessos internacionais como Vila Sésamo e Topo Gigio são exemplos de programas adaptados na década de 70. Aliás, já na década de 50, as radionovelas brasileiras se baseavam frequentemente em versões cubanas. Mas se antes o processo de adaptação era realizado sem muito controle da empresa estrangeira, desde a década de 90 existe um rígido controle para evitar cópias não autorizadas.

As franquias respondem, então, a uma dupla tendência: de um lado, estão as emissoras de televisão ávidas por programas de sucesso, capazes de levantar seus índices de audiência. O reality The Voice Brasil, por exemplo, alcançou média de 26 pontos de audiência em sua última edição – excelente marca para uma noite de quinta-feira. Foi capaz, inclusive, de alavancar a audiência do programa transmitido logo em seguida.

De outro lado, as empresas que originaram o programa vêem na adaptação a possibilidade de comercializar seus produtos para novos mercados. Segundo estudo realizado pela FRAPA, órgão alemão de controle e proteção de franquias, os maiores mercados exportadores de franquias são Reino Unido, Estados Unidos, Holanda, Argentina, Alemanha e Suíça. Isto, é claro, não diminui a importância de mercados emergentes, como Israel, que tem trazido produções de destaque, como o seriado Sessão de Terapia, e os game shows Faça ou Disfarça e Quem Fica em pé?.

Por sua vez, o Brasil, gigante na venda de novelas, ainda não se despontou nesse mercado. A Rede Globo, sua principal exportadora, parece investir mais em co-produções do que na venda de franquias. Com isso, foram comercializados apenas alguns formatos, como Vamos brincar de Forca, do SBT, e Dance Dance Dance, da Band. Por outro lado, empresas estrangeiras instaladas no Brasil, como Endemol e Eyeworks, começam a investir na criação de programas nacionais, levando a crer que, em breve, passarão a exportar programas criados em nosso território, elaborado por roteiristas e produtores brasileiros.


Ana Paula Ladeira é Jornalista pela Universidade Federal de Juiz de Fora e Doutora em Comunicação Social pela Universidade Federal Fluminense. Pesquisa assuntos relacionados especialmente à TV.

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