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Como falar de sexo com filhos com defici?ncia? A limita??o da pessoa com defici?ncia n?o impede desejos. Educa??o sexual, amor, compreens?o. Anote as dicas da psic?loga Sandra Vieira

Fernanda Leonel
Rep?rter
08/03/2007

Discutir e encarar a sexualidade das pessoas com defici?ncia ? discutir o preconceito e a falta de informa??o sobre as limita?es de algu?m. F?cil n?o ?, afirmam os especialistas. Ali?s, n?o poderia ser mesmo: se h? dois assuntos que rendem muito, esses s?o sexualidade e defici?ncia. Juntos, j? era de se esperar que provocariam muitas d?vidas e pol?micas.

Antes de qualquer tipo de discuss?o, vale a regra: as pessoas com defici?ncia se diferem das que n?o possuem defici?ncia pela limita?es f?sicas, ps?quicas, motoras. Somente. N?o perdem a "humanidade" de qualquer jovem ou adulto.

Pessoas que andam de cadeira de rodas, que t?m s?ndrome de down ou qualquer outra limita??o, sentem desejos, vontades e constroem rea?es de afeto como qualquer outra. E apesar de claro, n?o ? bem isso que a grande maioria da popula??o pensa ou at? mesmo os pais aceitam.

"Pode ser que seja mais dif?cil sim. E n?o deixo de entender os pais que t?m medo do que pode vir a acontecer. Mas n?o podemos privar ningu?m do direito ? sua sexualidade. Sempre h? formas de se evitar desconfortos", comenta a psic?loga Sandra Vieira (foto acima).

Para a psic?loga, o medo dos pais e o grande pudor que a sociedade ainda imp?e sobre o assunto sexo, faz com que eles, na grande maioria das vezes, tendam a encarar seus filhos como eternas crian?as, imaginando que os est?o protegendo da sua pr?pria libido.

"Isso ? mais comum do que se possa imaginar. Pais n?o querem deixar a crian?a crescer e nem encarar de frente algo que faz parte da sua humanidade. H? que se ter maturidade para lidar com a sexualidade, entender as diferen?as disso nas pessoas com defici?ncia para programar uma educa??o sexual", completa.

Para a psic?loga, ? poss?vel entender que a fam?lia tenha uma certa desconfian?a e que cuide muito para que o filho ou filha n?o sofra nenhum tipo de abuso, j? que essa situa??o, infelizmente, tamb?m apresenta n?meros significativos.

Pessoas de promiscuidade muito forte ou mesmo ped?filos, tendem, segundo informa?es da especialista, a aproveitar da ingenuidade de pessoas com determinadas limita?es, principalmente mentais, para fazer seu aliciamento. E nessa triste estat?stica, as mulheres lideram o ranking.

ilustra??o
de sexo e defici?ncia A ingenuidade tamb?m ? muito presente nas pessoas surdas, de acordo com explica?es da psic?loga. Esse tipo de defici?ncia acaba trocando menos informa??o com o mundo, o que faz com que as pessoas, muitas vezes, n?o fa?am uso de conota?es simb?licas das palavras e acabem interpretando de maneira inocente um convite sexual.

"Uma mulher que escuta, certamente n?o vai gostar de ser chamada de gostosa na rua, ou se gostar, sabe que tipo de situa??o essa palavra representa. Ela escuta isso sempre, e tamb?m escuta hist?rias relacionadas ao assunto. Uma surda n?o, ela tende a achar bonito. E vai se sentir elogiada com a classifica??o positiva. A? que entra a educa??o sexual, como solu??o para tudo", afirma a psic?loga.

Sandra conta que conhece hist?rias de pais que j? deram at? rem?dios para acabar com a libido dos filhos, afirmando que eles, sem entendimento, se masturbavam em qualquer lugar. "Mas n?o ? assim que se resolve, n?? Sexo tamb?m ? sa?de, ? vida, a gente precisa do orgasmo", enfatiza a psic?loga.

Educa??o Sexual

Conversar, orientar e construir na familiaridade uma rela??o de confian?a ? o principal segredo para ajudar quem possui alguma limita??o a lidar com a sexualidade. Segundo Sandra, os pais t?m total condi??o de estabelecer esse v?nculo e, caso acreditem que a situa??o ? um pouco mais complexa, devem procurar um profissional especializado.

sandra Vieira "Intelig?ncia n?o tem nada a ver com defici?ncia", frisa a psic?loga. A constru??o de uma "maturidade sexual" ?, portanto, plenamente poss?vel. "O problema ? que os pais tendem a fingir que nada aconteceu. Que d? pra adiar. Quando chegam no meu consult?rio a situa??o j? est? naquele ponto - 'eu n?o sei mais o que fazer, doutora'".

? preciso que os pais levem as filhas ao ginecologista, segundo Sandra, j? que essa ? uma visita m?dica que n?o est? s? relacionada a pr?tica do sexo. A orienta??o sexual come?a tamb?m no exemplo que os pais d?o com a preocupa??o com a sa?de dos filhos e deles mesmos. Tamb?m vale a regra dos ensinamentos sobre os uso da camisinha e de anticoncepcionais.

"? importante desenvolver a id?ia de limites", frisa Sandra. Para deficientes mentais, autistas, ou outros casos de defici?ncia, n?o h? maldade nas conota?es sexuais. "Se ele entende que quando tem vontade de tomar ?gua, vai l? e toma, ele entende tamb?m, que se sentiu desejo, pode ir l? e se masturbar", completa a psic?loga.

Uma dica de Sandra ? que os pais, em alguma situa??o constrangedora como a da masturba??o, por exemplo, n?o brigue, nem xingue, nem, fa?a nada que possa deixar a pessoa traumatizada, ou sem entender a situa??o. Para ela, ? preciso retirar o filho ou filha daquele lugar p?blico, e o levar para um lugar privado.

"S? assim ele come?a a entender onde ? o lugar certo, e onde ? o lugar errado. Que vai acontecer a masturba??o, vai, porque acontece com pessoas com e sem defici?ncia. Resta s? ensinar onde ? adequado e onde n?o ?", comenta Sandra.

Caso Espec?fico: Deficientes Mentais

O namoro dos portadores de Deficientes Mentais (DM) nem sempre tem a mesma conota??o que tem nos n?o deficientes. Como muita freq??ncia eles confundem amizade com namoro, Mas, o grande problema do namoro nestas condi?es ? a aceita??o dos familiares, bem como os riscos que ter?o de assumir.

Em rela??o ? gravidez h? um discurso, sen?o correto, ao menos politicamente interessante sobre o direito ? maternidade/paternidade. Pois bem. Esse pretendido direito esbarra com o n?vel de independ?ncia do portador de DM, bem como com a vontade e condi??o da fam?lia em assumir a supervis?o das atividades do casal e da crian?a, provavelmente para sempre.

O ass?dio sexual por parte do portador de defici?ncia mental ?, normalmente, caracterizado por perguntas diretas e socialmente muito desinibidas, por propostas e atitudes inconvenientes e repetidas com insist?ncia. Deve-se levar em conta que essa importuna??o pode ser devida a muitos fatores al?m do sexual, como por exemplo a ingenuidade, curiosidade e at? manifesta?es afetivas.

Aqui tamb?m, como no caso da masturba??o, a regra ? colocar limites. Explicar de forma clara e paciente as inconveni?ncias sociais de tais atitudes, os riscos que elas representam para piorar das rela?es sociais, esclarecer a confus?o que se faz entre rejei??o e coloca??o de limites, por?m, a repress?o pura e simples das manifesta?es sexuais do deficiente n?o ? a solu??o.

Os pais e os profissionais que assistem aos portadores de DM devem lembrar que a viv?ncia sexual do deficiente, quando bem conduzida, melhora o desenvolvimento e equil?brio afetivo, incrementa a capacidade de estabelecer contatos interpessoais, fortalece a auto-estima e contribui para a inclus?o social.