A leitura de um jeito diferente na escola O ideal ? fazer com que as crian?as gostem de ler dando liberdade para interpreta?es das poesias

Thiago Werneck
Rep?rter
30/10/2007

"Ler ? ler, simples assim". Essa frase do escritor, Ricardo Silvestrin, defende a id?ia de que toda crian?a deve ter liberdade para interpretar poesias e textos sem fazer pesquisas e estudar g?neros liter?rios. Em outubro, m?s do Dia Nacional do Livro, o autor esteve em Juiz de Fora e defendeu a simplicidade no momento da leitura.

Os conceitos preconcebidos de cada obra e essa obriga??o de seguir uma interpreta??o definida pelo vestibular s?o apontados como as principais causas do fim do prazer de leitura em adolescentes e adultos. Para Ricardo, ? um erro querer limitar os significados de poesias para as crian?as. "Cada uma delas tem uma percep??o e com o tempo v?o adquirir experi?ncia de leitura e come?ar a entender da forma delas, o que a poesia ou texto querem dizer".

Os pr?-conceitos como: poesia sempre retrata sentimento, um texto po?tico ? feito a base de rima s?o criticados por Ricardo. "S?o erros comuns cometidos por professores. O ensino n?o pode fechar as experi?ncias das pessoas. As palavras t?m v?rios sentidos, significados e cada um tem seu tempo para sentir e entender o que leu", explica.

foto da professora Jucimar O lema defendido ? que ningu?m pode ler pelo outro, cada um tem que seguir sua leitura e cada vez mais gostar disto, sem se preocupar com pesquisas, trabalhos e conceitos j? estabelecidos. "Existem v?rios desensinamentos sobre poesia e isso tem que acabar. Os professores devem ter ensinamento melhor nessa ?rea", defende Ricardo.

A reformula??o na forma??o dos profissionais de pedagogia tamb?m ? defendida pela coordenadora de 1? e 2? s?ries de uma escola particular de Juiz de Fora, Jucimar Cunha Ribeiro de Oliveira (foto ao lado). "As universidades ficam muito presas a ensinar o pragm?tico para esses novos professores. Falta trabalhar a poesia infantil, o fluir do texto para que tudo isso seja repassado as crian?as", avalia.

Para a professora, em muitos casos, o ensino infantil deve ser reavaliado. "O primeiro passo ? tirar o medo que os alunos t?m da poesia. Depois ? preciso estimul?-los a ler, promovendo atividades recreativas e tirando a timidez do aluno para que ele goste de ler poesia", afirma.

Foto de uma mesa com palavras O processo da liberdade ? leitura na escola, s? n?o pode ser completo por causa do vestibular. "Quando eles come?am ficar perto do Ensino M?dio essa liberdade acaba, mas n?o por vontade da escola e sim por necessidade externa que ? o vestibular".

O escritor Ricardo, defende que essa postura nas provas de vestibular deve acabar. "A pessoa l? sem prazer. Ela tem que enxergar tudo sobre um ponto de vista elaborado por outra pessoa. Isso s? acaba com a vontade de ler dos adolescentes", observa.

O escritor Ricardo ? formado em Letras, UFRGS/1985. Al?m de poeta, ? autor de livros infantis, ensa?sta de literatura brasileira, m?sico e colunista do Segundo Caderno do Jornal Zero Hora. "As crian?as l?em, entendem e gostam. Se ningu?m atrapalhar dizendo que a poesia ? isso, a poesia ? aquilo, ela segue lendo a vida toda", defende.

O exemplo de incentivo a leitura

Algumas escolas de Juiz de Fora j? seguem esse perfil de dar liberdade para as crian?as no momento da leitura. Um exemplo, ? a escola onde Jucimar ? coordenadora. Atividades como feira do livro, ida de autores at? a escola, varal de poesias e trabalhos recreativos incentivam as crian?as a ler e tamb?m escrever.

foto de crin?as mexendo com palavras O ?ltimo projeto desenvolvido foi o chamado "Assalto Po?tico" que incentivou alunos de oito e nove anos a ler, escrever e declamar poesia. "Eles abordavam funcion?rios e outros alunos e declamavam a poesia que estava dentro de uma garrafa de pl?stico. Algumas de autores famosos, outras de pr?pria autoria deles", conta Jucimar.

As crian?as escreveram poemas e colocaram dentro de uma garrafa pl?stica. Em grupos de cinco ou seis, elas anunciavam um assalto sem arma dentro da escola, mas r?pido explicavam que se tratava de uma poesia. Cada um delas declamava o texto que havia colocado na garrafa.

O resultado ? a satisfa??o das crian?as com a leitura. Alunos de nove e oito anos j? tem contato com a poesia e t?m prazer em ler e escrever. O estudante, Gabriel Ribeiro Brega (foto ao lado, no meio), de 8 anos, conta que adorou o assalto po?tico. "Foi o trabalho que mais gostei em rela??o a poesia. Leio poesia de vez em quando em minha casa", conta.

foto dos alunos A pequena Isabela de Souza Villar (foto ao lado, no meio) tamb?m nove anos, vai al?m da leitura. "Desde que comecei a ler, gosto mesmo ? de escrever. O assalta po?tico foi o trabalho que mais gostei", revela.

E se muitas pessoas sequer conhecem os poemas de Manuel Bandeira, Thales Andrade Sttopa (foto ao lado, ? direita), de nove anos, j? o elegeu como escritor de sua poesia preferida. "Gosto de "C?u", do Manuel Bandeira, pelo menos uma vez por semana leio algum poema em casa".

Outra que gostou do assalto po?tico foi Gabriela De Paula Fagundes Netto (foto ao lado, ? esquerda), de oito anos. "Adoro rimas e ? muito bom escrever poesia, sempre leio em casa. Gosto de todos os tipos de poemas", diz. Esse resultado anima a professora Jucimar. "A gente desmistifica a palavra para eles e passamos esse prazer pela leitura atrav?s da poesia", completa.


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