Conheça as idas e vindas de Ramon Pavão, jogador de futsal que brilha em terras asiáticas

Matheus Brum
*Colaboração
11/06/2016
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Viajar faz parte da rotina de todo atleta. Ter uma vida repleta de idas e vindas, também. Imagina jogar campo e futsal desde criança, escolher pelos gramados, rodar em várias regiões do Brasil, perceber que não é esse seu sonho, voltar às quadras e rodar por todo esse país? Pois bem, não é todo mundo que vai do "Oiapoque ao Chuí" aos 27 anos. Em um bate papo exclusivo com o Portal Acessa, Ramon Pavão relembra seu início em Juiz de Fora, o abandono do futebol, e os caminhos que percorreu até chegar na Tailândia.

MB - Faça uma breve apresentação sobre você.

RP - Meu nome é Ramon Pavão de Souza, tenho 27 anos, canhoto, jogo nas duas alas e como fixo.

MB - Como foi seu início em Juiz de Fora no futsal.

RP - Sou criado no Poço Rico, então eu cresci jogando bola no Tupynambás, sou cria de lá. Bem novinho, por volta de 7 ou 8 anos, fui chamado para jogar no Olímpico. Passei um ano com eles. Depois eu fui para o Sport e fiquei uns 10 anos lá. Aí dei uma parada no futsal, fui para o campo e me profissionalizei no Tupi, como lateral esquerdo. Como jogador de futebol, dei uma rodada. Joguei no Paraná,  São Paulo e Espírito Santo. Em 2009, quando voltei para o Tupi, resolvi parar, largar o campo, e voltar para o futsal. Acreditei no projeto da AABB e fui para lá. Depois joguei no Imperial, de Petrópolis por duas temporadas. Na primeira, era controlado por eles mesmo, já na segunda, fizeram uma parceria com o Fluminense. De lá, fui para o Sul, jogar no Alaf-RS. Em 2013, fui para o Acre, jogar na AABB de lá. Fiquei o ano todo e foi muito produtivo para a minha carreira. Ganhamos quase tudo que disputamos, como a Copa Norte, que nunca tinha sido vencida por uma equipe acreana. Além dos títulos coletivos, ganhei muita coisa individualmente. Fui artilheiro do Metropolitano e artilheiro e melhor jogador do Estadual. Além de ter sido eleito o melhor jogador do ano no Acre. Em 2014 fui para a Xaxiense-SC. Fiquei lá até meio de 2015, quando vim para a Tailândia.

MB - Como foi sua trajetória no futebol de campo?

fotoRP - Sempre gostei mais de futsal, mas todo mundo quer ser jogador de futebol, não tem jeito, e isso falou mais alto. Quem abriu as portas do futebol profissional para mim foi o Pedrinho (com passagens no Santos, Vasco e Atlético-MG) e o Hudson, que é de Juiz de Fora, e que hoje está no São Paulo. Em 2006, ele estava jogando no Astral, time de Curitiba, e estavam precisando de um lateral esquerdo. Ele entrou em contato comigo e fui fazer duas semanas de teste. Acabei passando. Depois dei uma rodada e fui para o Tupi, em 2008. Joguei o Campeonato Mineiro daquele ano, mesmo tendo idade de jogador de base. Na virada do ano, o José Carlos Amaral resolveu me promover para o profissional.  Só que não tinha no campo, o mesmo sentimento da quadra. Aí resolvi optar pelo futsal, até porque já estava com 20 anos e não dava para ficar conciliando os dois.

MB - Você e o Léo Santana jogaram juntos?

RP - Cara, minha carreira toda foi com o Léo. Eu jogo com ele desde 1998. Jogamos junto no campo, nas categorias de base do Tupi. No futsal, fizemos parceria no Sport e na AABB. Na época, o Léo era pivô, e eu fazia a ala.

MB - Como foi sua passagem pelo Tupi?

RP - Eu não tenho nada a reclamar. Os jogadores de lá, como o Ademilson, Léo Salino e Fabrício Soares, me davam muita moral. Me incentivavam demais. Eles tentavam me ajudar de todas as formas, só que eu não queria. Aí para não atrapalhar eles, resolvi sair.

MB - Como foi seu início na Tailândia?

RP - Foram três anos de namoro entre eu e o Cat. Toda janela de transferências a gente tentava um acordo, mas por uma série de divergências não acerta. Em junho do ano passado resolvi abraçar a causa. Gosto do novo, de desafios, de competir comigo mesmo e de me superar, e senti que era a hora de dar um salto na minha carreira, com cara e com coragem. Cheguei para jogar no Cat FC. Disputei a Liga e a Copa da Tailândia. No fim da temporada, o Bangkok FC me contratou, e por ser uma equipe mais forte, com melhor poder aquisitivo, resolvi me transferir.

MB - Quais as diferenças entre o futsal brasileiro e o tailandês?

RP - A Tailândia é muito diferente do Brasil. Aqui faz 40ºC todo dia! E no time que estava no ano passado, precisava jogar 30, 35 minutos por jogo. O futsal aqui é mais correria, não é tão técnico como no Brasil. Agora está mudando, o esporte está evoluindo. A chegada de jogadores estrangeiros está fazendo o nível subir. Alguns times estudam o futsal brasileiro e espanhol, igual meu treinador. Fazem treinamentos com algumas jogadas características desses locais.

MB - Teve alguma dificuldade com a língua?

fotoRP - Aqui eles falam apenas o thai. O inglês é bem raro de ouvir alguém falando. Quando cheguei não sabia nada, nem inglês. Fui aprender sozinho, entrava nos sites e estudava, tirava uma ou duas horas do dia para aperfeiçoar. Quando aprendi a língua inglesa , percebi que eles falavam o thai (risos). É bem difícil, aos poucos vou melhorando, mas não consigo me comunicar com um tailandês. No time, alguns jogadores falam inglês, então já da uma ajuda.

MB - E o fuso? A diferença de 10 horas te atrapalhou?

RP - No ano passado me prejudicou bastante, mas consegui lidar com isso. No início, perdi 5Kg. Dentro de quadra, isso meatrapalhou, porque estava magro. E como tinha que jogar entre 30 e 35 minutos cada partida, emagrecia ainda mais. Então precisei pensar em outras formas para melhorar isso. Ia no supermercado, comprava umas carnes, para poder me alimentar melhor e recuperar esse peso. Em relação ao fuso horário, tive dificuldade na hora de dormir. Acabava indo dormir muito tarde e ficava com sono na hora do treino e do jogo.

MB - Qual o tamanho dos times que você já atuou e atua?

RP - O Cat FC é muito conhecido na Tailândia, só que eles não investem nos jogadores locais. Aqui só pode ter dois estrangeiros por time, normalmente essas vagas são preenchidas por brasileiros. Então eles faziam boas contratações de atletas de fora, mas não mantinham o mesmo nível de investimento para os jogadores locais. Com isso, o time ficava na zona mediana do campeonato. Já no Bangkok é diferente. Eles fizeram um investimento bom nos tailandeses. O outro brasileiro que tem aqui é o Renato, que é de Teófilo Otoni e jogou comigo na AABB de Juiz de Fora. Eles têm o sonho de vencer a Liga, então resolveram contratar, e vim justamente acreditando nesse projeto.

MB - Quais os campeonatos e as fórmulas de disputa que tem na Tailândia?

RP  - O futsal tailandês hoje tem a primeira e segunda divisão. Nas duas competições são 14 equipes disputando, em ida e volta. O sistema de disputa é de pontos corridos, com a vitória valendo três pontos, empate um, e derrota zero. Na Thai League, primeira divisão, o vencedor vai para o Campeonato Asiático e o segundo vai para um asiático, mas de menor expressão, como se fosse a Copa Sul-Americana. E temos a Copa da Tailândia também. O sistema dela é igual ao da Copa do Brasil. Também é mata-a-mata, juntando mais de 80 equipes. As principais equipes só entram no meio do campeonato. A diferença é que a disputa é em jogo único. Ao final de cada partida, vem uma pessoa da Federação com uma caixinha, definindo o sorteio da próxima fase e também o mando de jogo.

MB - E quais são seus planos para o futuro?

RP - Voltar para o Brasil é o último dos meus planos, só para férias mesmo. Eu tenho sonho de alçar voos maiores. Por enquanto, pretendo ficar mais uns cinco anos na Tailândia, e depois voltar para o Brasil.

MB - Como é a sua relação com Juiz de Fora?

fotoRP - Falo para todos os brasileiros que não tem cidade igual Juiz de Fora. Sou fá número um e apaixonado pela cidade. Vou apenas nas minhas férias, que normalmente é em dezembro ou janeiro. Sempre que estou em casa fico com a minha família e com meus amigos, sou muito apegado a eles.


MB - Com o projeto indo para a frente, você se imagina atuando pelo Tupi?

RP - Sim, com certeza, Tenho um carinho muito grande pelo Tupi, cresci lá jogando futebol de campo. Imagina eu, em Juiz de Fora, vestindo a camisa do Tupi, com meus amigos, e ainda voltando a parceria com o Léo? Seria um sonho. Nossa Senhora! Até arrepia pensar nisso.  

MB - O Tupi retomou o projeto do futsal. Você tem acompanhado?

RP - Sim, tenho acompanhado. Estou achando fantástica essa volta. Sempre que vou à Juiz de Fora, eu disputo uns campeonatos pelo time deles, tanto que até faço parte do grupo do WhatsApp que eles têm. Estou sempre por dentro de tudo, participando, dando ideias. Me considero como um integrante do projeto. Vou fazer o possível para ajudá-los. Já trabalhei com toda a comissão técnica, e eles são muito bons.

MB - O que falta para Juiz de Fora ser reconhecida como um celeiro de atletas?

RP - Material humano não falta. Já joguei em vários locais no Brasil e o nível é forte. O que falta é alguém chegar, bater no peito e colocar dinheiro nos projetos. Em todos os esportes temos atletas que fazem sucesso. Então, falta mesmo é o investimento.

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