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Lula-lá de novo?

Lúcio Flávio Pinto - Julho 2016
 


Enquanto Dilma Rousseff tenta se livrar do impeachment para voltar a ocupar a presidência da república, Lula iniciou no dia 11 de julho sua campanha eleitoral visando 2018. Ele comanda a Caravana da Democracia, versão camuflada de campanha eleitoral antecipada, que vai percorrer o Nordeste, começando em Pernambuco, onde ficará até hoje, à cata dos seus votos cativos.

Publicamente, ele está trabalhando em favor da sua sucessora. Independentemente do resultado da novela do impeachment, porém, Lula colocou o bloco na rua porque se julga beneficiário do que vier a acontecer. Se Dilma for vitoriosa, se tornará ainda mais devedora do padrinho. Se o seu afastamento se tornar definitivo, ela será a vítima para ornar uma bandeira política.

Político que concorreu quatro vezes à presidência da república para conseguir finalmente ser eleito, Luiz Inácio Lula da Silva tem uma incrível capacidade de sobrevivência e renascimento. Com todos os erros que cometeu e as irregularidades que praticou ou patrocinou, reveladas exaustivamente nos últimos anos, ele está na luta pelo terceiro mandato presidencial, inédito na história da república.

Ele ainda se considera a melhor liderança política do país porque nenhuma outra, nem as novas, conhece "a mão de um trabalhador, de um pedreiro". E explica: "Esse povo que faz campanha não conhece o Brasil, só conhece o avião. Um governante tem que conhecer a alma das pessoas". Quem? Ora, Lula e ninguém mais.

Se é assim, sua nova vitória será decorrente da aritmética demográfica: a maioria dos eleitores é pobre, composta por trabalhadores que os demais políticos não frequentam.

Dilma podia ter tido destino diferente do que o atual, que deixou seu correligionário "extremamente triste". Em entrevista concedida a uma rádio pernambucana, ele se disse triste pelo fato, sim, mas já o considera consumado: "Jamais imaginei que a Dilma fosse sair daquele jeito do governo. Eu não queria ter vivido aquele momento".

Para Lula, Dilma "foi vítima de um mau humor que contaminou o Brasil desde 2013", por coincidência ao se afastar do líder maior, destinado a ser seu guia e fiador. Ela começou perder apoio quando quebrou a promessa de não mexer no bolso do trabalhador.

"Ninguém se conformou de Dilma ter dito durante a campanha que não ia mexer no bolso do trabalhador e depois ela ter colocado em prática um programa que era do adversário. Ela já tinha feito reuniões com os sindicatos, mas foi anunciado um pacote que jogou os sindicalistas contra ela".

Por esse raciocínio, a sobrevivência da presidente afastada terá que ser decidida pela utilidade que representará para Lula 2018. Mas sendo ela ou o interino Michel Temer, para ajudarem Lula bastará que repitam o que já fizeram de desastroso.

À sua maneira, o ex-presidente anunciou: "Pra mim [sic] não ser candidato em 2018 é só o Brasil dar certo. Se o Brasil desse certo, por que eu precisaria ser presidente outra vez?", argumentou, retirando-se do enredo de insucessos.

"Em dezembro de 2014 – disse ele – o Brasil chegou a 4,3% de desemprego, é uma coisa de primeiro mundo, mas de repente a coisa desandou. Houve uma mistura de coisas equivocadas na economia para evitar que a presidenta governasse. Agora precisamos parar pra consertar, primeiro evitando esse falso impeachment que inventaram para a presidente Dilma".

Logo, é hora de voltar ao exitoso receituário lulista, que é simples e quase mágico de tão certo: "Eu aprendi na minha vida que quanto mais você fizer o óbvio, mais acerto você tem. Economia não tem mágica, é uma questão de confiança. As pessoas têm que dormir sabendo que não vão ser pegas de surpresa de noite. Tenho que investir meu dinheiro numa conta que renda. O governo tem que empregar os recursos nos ativos que vão render mais para o país".

O enredo vai ser igual aos de 2002 e 2006?




Fonte: Jornal Pessoal & Gramsci e o Brasil.

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