Especialistas garantem eficácia da vacina contra HPV Mesmo as mulheres que já contraíram o papiloma vírus podem se beneficiar da prevenção feita pela vacina

Marinella Souza
Repórter
9/7/2009

A vacina contra o papiloma vírus humano (HPV) está disponível nas clínicas especializadas no Brasil para mulheres na faixa etária dos nove aos 26 anos. Em países como os da Europa e os Estados Unidos, no entanto, já há liberação para mulheres de até 55 anos.

Existe uma justificativa para que apenas essa faixa etária seja abrangida, como explica o ginecologista, Elson Côrrea de Mello Jr. (foto e vídeo). "Trata-se de uma vacina nova e o ensaio clínico no Brasil foi feito com mulheres nessa idade. É uma determinação da Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] que a liberação só ocorra para esse grupo. Além disso, a ideia da vacina é prevenir o contato com o vírus e há maior probabilidade de mulheres dessa idade ainda não terem relações sexuais."

Mas, segundo o infectologista e vacinologista Mário Lúcio de Oliveira Novaes, há esperança de que até o final de 2009 a Anvisa libere a vacina para as brasileiras que estejam entre 27 e 55 anos. "Em recente congresso, ficou provado que mesmo quem já teve contato com o vírus pode tomar a vacina, porque o papiloma vírus é variante", diz.

Há disponíveis dois tipos de vacinas, que atendem a subtipos diferentes do HPV. A quadrivalente previne contra dois tipos de câncer de colo de útero (HPV - 6 e HPV - 11) e contra os condilomas, que são as verrugas venéreas (HPV -16 e HPV - 18). Já a bivalente combate especificamente os condilomas, que são responsáveis por mais de 70% dos cânceres de colo do útero.

A vacina foi liberada no Brasil em fevereiro de 2008, mas o alto custo do produto faz com que seu uso ainda seja um pouco restrito. De acordo com Novaes, os preços variam entre R$ 380* e R$ 400* por dose, sendo que são necessárias três para a total imunização. Isso se explica pelo fato de se tratar de uma pesquisa recente, cujo procedimento é muito oneroso.

Novaes informa também que o HPV pode ser transmitido pelo homem, mas a Anvisa ainda não liberou a vacina para eles. "Os homens são transmissores assintomáticos. Eles podem ter a doença sem saber e acabar passando o vírus para suas parceiras, mas a vacina para eles só é liberada em alguns países. No Brasil, eu acredito que ainda vai demorar", lamenta.

Apesar de cara, os especialistas garantem que sua eficácia fica entre 95% e 100% e, além do limite etário, a única contraindicação é em relação às mulheres grávidas. "As mulheres que estejam grávidas ou pretendam engravidar em breve não devem tomar a vacina", diz Mello Jr..

O ginecologista faz uma advertência. "Segundo as estatísticas, mais de 50% da população sexualmente ativa no mundo já teve contato com o vírus, mas 70% das pessoas que o contraem desenvolvem, por conta própria, imunidade contra ele. Mais importante do que tomar a vacina é fazer o exame preventivo anualmente", pondera.

Conheça o HPV e os males que causa

O HPV é a doença sexualmente transmissível (DST) que tem maior prevalência no Brasil e no mundo, por se tratar de um vírus que é facilmente transmitido. De acordo com Mello Jr., existem mais de 200 subtipos de vírus que causam o HPV, sendo o mais comum os subtipos 6 e 11, que causam as condilomatos, ou seja, as verrugas genitais, popularmente conhecidas como "cristas de galo".

O grande problema do HPV é que se trata de uma doença assintomática, que só é detectada através do exame ginecológico anual. Mello Jr. comenta que há uma corrente de médicos, da qual ele faz parte, que acredita que o mais preocupante não é a presença do vírus no organismo, mas a lesão que ele causa.

Foto do dr. Élson Côrrea de Mello Jr."Essas lesões podem ser pequenas, tratadas com procedimentos simples, como a cauterização (queima química da parte lesionada), a retirada da parte lesionada através de biópsia ou procedimentos mais invasivos. Em muitos casos, apenas o acompanhamento da lesão basta para garantir o controle, mas também pode desenvolver um câncer no útero", explica.

O exame preventivo é uma maneira barata e indolor de evitar um problema mais sério. Segundo o ginecologista, essa prática conseguiu reduzir consideravelmente o número de casos de morte por câncer no colo do útero. "Há tempos atrás, essa era a doença que mais atingia as mulheres, mas graças à conscientização da importância do exame anual, agora o câncer do colo de útero está em quarto lugar", comemora.

Através desse exame detecta-se a lesão, não o vírus. A partir daí começa-se a fazer exames mais aprofundados para descobrir o que provocou a lesão e estabelecer a melhor forma de tratamento. O médico ressalta que a melhor maneira de se prevenir contra o HPV continua sendo o uso do preservativo, uma alternativa muito mais acessível a todos.

Além disso, o médico destaca que o câncer de colo de útero não é o único tipo de doença que o contágio pelo HPV causa. "É uma doença sexualmente transmissível e pode atingir  outros sítios também. São comuns doenças na vulva, na vagina e na orofaringe (que abrange boca e a garganta)."

Preços pesquisados em julho de 2008

Os textos são revisados por Madalena Fernandes