Juliano Nery Juliano Nery 6/11/2012

Lições cívicas

licoescivicasFoi no início da tarde de um mês de agosto que cheguei em Santo Antônio do Rio Abaixo, para passar algumas informações para uma escola da rede pública municipal. Aliás, a única da cidade, que tem pouco mais de 1.500 habitantes. Era a entrada dos alunos do turno da tarde, perfilados de acordo com o enturmamento das classes do 1º ao 5º ano do ensino fundamental. E foi um tanto admirado, que vi aquelas dezenas de crianças de 06 a 10 anos, dar demonstrações de cidadania, entoando o hino nacional brasileiro. Não só a primeira parte da letra do Joaquim Osório Duque Estrada, mas a segunda parte também, aquela que a gente deixa esquecida em algum canto da memória, uma vez que nas solenidades, para abreviar os protocolos, insiste-se em desestimular sua lembrança. Deixo claro que nem sou um exemplo de patriota inveterado e nem tão pouco tenho rompantes ufanistas, mas a cena me tocou: talvez, fosse a energia da garotada, talvez, o fato de que entoassem com tanta propriedade a canção da nossa terra-mãe.

"Do que a terra, mais garrida,
Teus risonhos, lindos campos têm mais flores;
"Nossos bosques têm mais vida",
"Nossa vida" no teu seio "mais amores.""

A minha admiração ganhou os olhos de algumas mães de alunos que estavam de saída da escola e fizeram questão de frisar que eles cantavam o hino todas as sextas-feiras. E eu achando que era a proximidade com a semana da pátria... Não sabia que as crianças ainda entoavam hinos na escola. Confesso que fiquei surpreso com a dose cívica semanal. Em um país afeito a lembrar do hino nacional somente durante a Copa do Mundo e, quando mais, em um ou outro feito olímpico ou dos pilotos de Fórmula-1, Santo Antônio do Rio Abaixo e seus alunos afi(n)ados me deixaram boas reflexões. O patriotismo, o sentimento de pertença de um povo, os laços de uma mesma língua que nos une, noções de civismo... Quanta coisa passou pela minha cabeça até que, embasbacado, pude ouvir a sequência do que cantavam. Foram além: agora, era o hino do município, discorrendo sobre as maravilhas da "cidade margeada pelo Rio Santo Antônio" e a alegria de morar por lá.

Fiquei emocionado. E para arrasar completamente com este pobre observador da realidade, ao final, os meninos entoaram o hino da escola municipal. Hino da cidade e da escola municipal, era demais... Eu, em 31 anos, nunca havia visto algo parecido. Nem nos meus tempos de Tiro de Guerra, quando cantávamos logo cedo diversos hinos. Ainda por cima, obrigado pelos comandantes. O nacional, o dos militares, o da bandeira... Naquela escola, no entanto, senti um legítimo espírito patriótico que acaba por habitar naqueles que entoam esses cânticos. Coisa linda.

"Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada,
Brasil!"

Aproveitando a caixa-de-som ligada e o microfone com o qual a diretora conduzia a atividade, agradeci ao espetáculo de lição cívica apresentada pela cidade. Não sou lá muito a favor de tanta exaltação, mas acho que educar as crianças com o conhecimento sobre o lugar onde vivem, em escalas escolares, municipais e nacionais, é uma grande sacada. É bom para fortalecer raízes. Mesmo de quem quer ganhar asas e correr mundo. Acho que isso sempre esteve em falta por aqui. Mas, tem de sobra lá na nova geração do Rio Abaixo. Turma boa, essa nova safra de brasileiros.

Juliano Nery acredita que Minas Gerais é mais que um Estado. É um estado de espírito. Santo Antônio do Rio Abaixo pode ser encontrado na latitude 19° 13' 40" S e longitude 43° 15' 14" W.


Juliano Nery é jornalista, professor universitário e escritor. Graduado em Comunicação Social e Mestre na linha de pesquisa Sujeitos Sociais, é orgulhoso por ser pai do Gabriel e costuma colocar amor em tudo o que faz.

* Ilustração: Lucí Sallum

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