Artigo
Perversões sexuais:
prazer e distúrbio se confundem
 

02/05/2002

Questões sexuais, desde os primórdios, permeiam o pensamento das pessoas, constituem o cerne de muitas histórias, felizes ou tristes e estão sempre presentes de uma forma ou de outra na vida de todos.

Para Freud, a necessidade sexual do homem e do animal é de cunho biológico e é tão forte que pode ser comparada à necessidade básica de alimentação. Entretanto, algumas pessoas estabelecem formas particulares e até mesmo doentias de satisfação dessa necessidade. Tais formas podem estar inseridas na categoria das perversões sexuais.

Podem ser consideradas como perversão sexual aquelas práticas que fogem ao que é estabelecido, socialmente, daquilo que constitui um ato sexual normal. Conceito bastante amplo e que pode gerar dúvidas quanto ao que gostaria de abranger, quando se refere ao que foi chamado de ato sexual normal. Entretanto, não é difícil, mesmo para uma pessoa leiga, identificar algumas anomalias no âmbito das práticas sexuais. Referindo-se a estas práticas bizarras é possível citar, dentre muitas, a ‘coprofilia’, a ‘zoofilia’, a ‘necrofilia’ e ainda o ‘voyerismo’, o ‘fetichismo’ e também a ‘pedofilia’.

A coprofilia pode ser entendida como a estimulação por contato sexual com fezes, enquanto na zoofilia esse contato é realizado com animais e na necrofilia com cadáveres. Já o voyerismo consiste na observação de pessoas durante o ato sexual ou em comportamentos relacionados ao sexo. Quanto ao fetichismo, seria a substituição imprópria do objeto sexual original. Esse substituto poderia ser uma parte do corpo como mãos, pés ou joelhos, por exemplo, ou ainda objetos tais como meias ou calcinhas entre outros. Tal comportamento pode ter intensidade variável percorrendo os campos da normalidade até a patologia de foro sexual.

A pedofilia, que também se encontra entre esses desvios, é caracterizada pelo desejo sexual de adultos por crianças ou adolescentes. Atualmente, tal tema, vem preenchendo as páginas das revistas e as cenas dos telejornais. Revelam o comportamento sexual comprometedor de alguns indivíduos e, surpreendentemente, de alguns membros do clero.

Alguns autores, estudiosos da sexologia, aventam a possibilidade de que o pedófilo sofreu abuso sexual na infância remota e tal fato teria sido apagado da memória consciente. Entretanto, o trauma não teria sido esquecido e o comportamento desviante do adulto de hoje poderia significar vingança, retaliação, “vitória” sobre o agressor da infância. O trauma, então, não estaria esquecido, mas reprimido.

Também se fala que tal comportamento pode ser originado de pessoas, a maioria homens, covardes, impotentes, tímidos ou imaturos sexualmente que vêem na criança uma forma de dar vazão à sua energia sexual. Tais pessoas, provavelmente, são portadoras de distúrbios do comportamento, às vezes, não somente de âmbito sexual, seja por questões psicológicas ou até mesmo biológicas.

O tratamento recomendado para esses casos não seria fundamentado em apenas uma especificidade. Aconselha-se que se faça um acompanhamento médico em que é ministrada medicação adequada, conjuntamente com tratamento psicológico. O acompanhamento do psicólogo se fundamentaria, de acordo com o DSM III R (Manual de Psiquiatria), na identificação e resolução de conflitos, traumas, humilhações primitivas, na tentativa de remover a ansiedade do indivíduo em relação a parceiros adequados e capacitá-lo a abandonar as fantasias advindas da perversão sexual.

 


Denise Mendonça de Melo
é psicóloga, formada pelo
Centro de Ensino Superior
de Juiz de Fora.
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