Artigo
Sobre o transtorno anti-social
da personalidade

::: 17/03/2003

Ouvir psicodiagn?sticos populares sobre determinado personagem de filme ou at? mesmo sobre uma pessoa real n?o ? raro. Os termos ?psicopata? ou mesmo ?transtorno anti-social da personalidade? costumam estar bastante presentes nessas hip?teses de classifica??o.

O que seria na realidade esse transtorno e quais seriam suas possibilidades de causa? Segundo o Tratado de Psiquiatria, transtorno anti-social de personalidade ? um padr?o de comportamento socialmente irrespons?vel, explorador e livre de culpa, evidente na tend?ncia a n?o se ajustar ?s leis, a n?o conseguir manter um emprego consistente, a explorar e manipular os outros em proveito pr?prio, a mentir e a n?o conseguir desenvolver rela?es est?veis. Este mesmo Tratado enfatiza que este transtorno tem sido reconhecido como um dos transtornos de personalidade mais dif?ceis de se tratar devido, principalmente, ? falta de empatia e de responsabilidade social que impedem o estabelecimento de uma rela??o terap?utica eficaz.

Alguns psiquiatras costumam atribuir uma causa biogen?tica para esse tipo de transtorno, entretanto, outros estudiosos atribuem causas um pouco diferentes.

Para Donald Winnicott, os dist?rbios de comportamento ou dist?rbios de car?ter s?o considerados manifesta?es cl?nicas da tend?ncia anti-social. ?Variam desde a gula e a enurese noturna, num extremo da escala, at? as pervers?es e todos os tipos de psicopatias.? (Winnicott, 1999). Este autor acreditava que a origem da tend?ncia anti-social era atribu?da ? priva??o mais ou menos espec?fica durante a inf?ncia.

Em seu livro ?Priva??o e Delinq??ncia? enfatiza que um importante fator externo na causa de delinq??ncia persistente ? a separa??o prolongada de uma crian?a pequena de sua m?e e do ambiente familiar por per?odo de seis meses ou mais, durante os primeiros cinco anos de vida. Al?m da anormalidade flagrante, representada pela delinq??ncia cr?nica, tamb?m dist?rbios moderados de comportamento, ansiedade e tend?ncia para doen?as f?sicas indefinidas podem ser freq?entemente atribu?dos a tais perturba?es do meio ambiente de crian?as pequenas. A maioria das m?es reconhece isso, na medida em que se mostram relutantes em deixar os filhos por per?odos muito longos. Percebe-se ent?o, que a unidade familiar proporciona uma seguran?a indispens?vel ? crian?a pequena. A aus?ncia dessa seguran?a poder? exercer efeito sobre o desenvolvimento emocional e acarretar danos ? personalidade e ao car?ter.

Nessa mesma linha de racioc?nio, quanto menor for a crian?a, maior pode ser o perigo de separ?-la de sua m?e. Para uma crian?a muito jovem sua capacidade para manter viva em si mesma a id?ia de uma pessoa ? pequena. Caso ela n?o vir uma pessoa, ou n?o tiver provas tang?veis de sua exist?ncia em determinados minutos, horas ou dias, essa pessoa n?o existir? mais para ela. Ainda segundo as id?ias de Winnicott, para uma crian?a menor, experi?ncia da priva??o da m?e pode significar muito mais do que a experi?ncia real de tristeza. Pode, de fato, equivaler a um blackout emocional e levar facilmente a um dist?rbio grave do desenvolvimento da personalidade que poder? persistir por toda a vida. Obviamente, n?o est? se considerando o caso de crian?as ?rf?s ou desabrigadas, pois tal situa??o implica em uma reflex?o mais complexa.

A teoria psicanal?tica postulava que a delinq??ncia e a criminalidade podem ser atribu?das ? ansiedade ou culpa resultante de inevit?vel ambival?ncia inconsciente. Fruto do conflito surgido quando o ?dio, portanto, o desejo de destruir, se dirige contra uma pessoa amada e necess?ria. Em outras palavras, a etiologia da delinq??ncia era vista principalmente em termos da luta que se trava no mundo interior, ou psique, do indiv?duo.


Denise Mendon?a de Melo
? psic?loga, formada pelo
Centro de Ensino Superior
de Juiz de Fora.
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