Filosofia para crian?as Hist?rias servem como refer?ncia para motivar e come?ar o di?logo, atrav?s das habilidades cognoscitivas


S?lvia Zoche
22/06/2006

Quando se fala em Filosofia para crian?as, algumas pessoas podem pensar que elas v?o aprender os conceitos de pensadores como Plat?o, Nietzsche, Sartre... Mas n?o ? nada disso. O objetivo ? fazer as crian?as desenvolverem o racioc?nio e o di?logo atrav?s de atos do cotidiano. Hist?rias servem como refer?ncia para motivar e come?ar o di?logo, atrav?s das habilidades cognoscitivas (corpo e mente, ao mesmo tempo).

O diretor do Pensando Bem!, N?cleo de Pesquisa em Filosofia e Educa??o, Juarez Sofiste, desenvolve esta id?ia em Juiz de Fora desde 1995, com heran?a no Programa de Filosofia para Crian?as do norte-americano Matthew Lipman. Atualmente, seu grupo (entre alunos e professores) est? nos col?gios Jo?o XXIII, Apogeu e S?o Jos?. Eles conversam com a dire??o de escolas, tanto municipais, estaduais quanto particulares, e prop?em o trabalho. Atrav?s de situa?es do cotidiano, as crian?as formam um c?rculo em sala de aula e conversam sobre algum tema.

O primeiro momento ? de incentivo ?s crian?as para que elas conversem, escutem o outro, atrav?s de um tema, como as conta?es de hist?rias de Monteiro Lobato, no S?tio do Pica-Pau Amarelo ou teatro de fantoches ou outros jogos filos?ficos. "Podemos usar a Copa do Mundo como tema, j? que ? o que eles est?o vivendo agora", exemplifica.

O segundo momento ? a investiga??o dial?gica, ou seja, ? a fase do di?logo. "? onde o aluno aprende a escutar o outro e nesse instante coloca os neur?nios para funcionar, raciocina e sente vontade de participar", diz. O pr?ximo passo ? a fixa??o do que foi dito, como uma revis?o, mas sem conclus?es, porque cada um tem um pensamento. "N?o h? inibi??o do pensamento. A Filosofia ? uma ci?ncia aberta. N?o existe um professor comandando nem tirando conclus?es", explica o diretor.

Por fim, h? uma avalia??o do que aconteceu. "A crian?a passa a raciocinar e cria um ambiente em volta dela onde desenvolve isso. Tive um exemplo logo no in?cio do projeto, desenvolvido na Escola [Municipal] ?lvaro Braga [de Ara?jo], no Dom Bosco. Tinha um aluno, acho que era Rodrigo, que andava pelos cantos da escola, se voc? falasse com ele, se encolhia todo na cadeira. No c?rculo, durante a conversa, as crian?as aprendem pela pr?tica, que enquanto um fala o outro tem que ouvir e respeitar. Mas ningu?m falar nada que todo mundo tem que ficar quieto. Quem est? falando, segura um objeto que chamamos de falante. Pode ser uma boneca, uma bola... Quando o outro quer dialogar, levanta o dedo e pega o falante. No dia que o Rodrigo levantou o dedo, quase chorei de t?o emocionado. Todo mundo dizia que ele estava diferente", conta.

"Pensando Bem!"

"O n?cleo nasceu de uma pesquisa de campo sobre o ensino da Filosofia, sobre a realidade deste ensino em Juiz de Fora, quem ministrava, as dificuldades que encontrava... A inten??o, depois disso, era propor a?es. Os dados levantados foram desanimadores, porque n?o vimos convic??o nos diretores e professores em rela??o a Filosofia", conta.

Para mudar esta situa??o, Sofiste resolveu estudar mais sobre filosofia direcionada a crian?as e se aprofundou no Programa de Filosofia para Crian?as do norte-americano Matthew Lipman e participou de Congressos. "Isso foi no in?cio da d?cada de 60. Depois, ele juntou-se a Ann Margareth Sharp e fundaram um instituto para o desenvolvimento de filosofia para crian?a", relata.

Sofiste tamb?m fez o curso de especializa??o do Centro Brasileiro de Filosofia para Crian?as (CBFC). "Fiz de tudo para entender o programa. Mas o Centro Brasileiro leva ? risca o que Matthew Lipman escreveu. Nem ele fala que ? para ser assim. A realidade da crian?a norte-americana ? uma. Como eu vou chegar para crian?as de um lugar que nem conhece o mar e vou falar sobre baleias...".

O jeito foi adaptar e assim eles o fizeram. Mas antes, resolveram usar as hist?rias de Lipman nos trabalhos desenvolvidos semanalmente na Escola Municipal ?lvaro Braga de Ara?jo, no Dom Bosco. "As novelas dele s?o muito interessantes, mas fogem da realidade das crian?as e cansam demais por serem longas. A novidade ? que descobrimos que Monteiro Lobato ? muito interessante tanto na Filosofia quanto na Literatura. Suas hist?rias mostram situa?es do cotidiano ligadas ?s crian?as.

No come?o do projeto, houve um boom em Juiz de Fora e a equipe de Sofiste atendia em 15 escolas, ao mesmo tempo. A primeira descoberta foi que o programa gera ?timos resultados entre as crian?as. "Ela fica mais dial?gica, interrogativa".

A segunda ? que o modelo de educa??o complica a atua??o do projeto. "A dificuldade est? nas escolas que se prendem em conceitos e n?o colocam na pr?tica. Um exemplo. O col?gio fala sobre a import?ncia da alimenta??o balanceada, fazem desenhos, colocam cartazes, mas a cantina continua vendendo aqueles pacotes de salgadinhos. A Filosofia para Crian?as trabalha com atitude, com a participa??o efetiva de todos", enfatiza.

Outro empecilho foi a reclama??o de professores, diretores e at? de alguns pais. Isto porque as crian?as come?aram a questionar, a querer saber o porqu? das coisas, a reivindicar. "Imagina um pai autorit?rio com uma crian?a que pede explica??o, tenta o di?logo", analisa Sofiste. Isto sem falar no epis?dio do professor de Matem?tica que foi dar aula logo ap?s a Filosofia para Crian?as e disse: "Agora, vamos calar a boca que agora vai come?ar a aula".

Foi pensando nestes obst?culos que foi criado o "Pensando a Escola" voltado para as institui?es educacionais. A coordenadora do Pensando Bem!, La?lia Cardoso (foto ao lado), conta que descobriram que muitos diretores de col?gios n?o conseguem explicar o pr?prio projeto pedag?gico adotado. Mais um aliado ser? o livro que esperam lan?ar pela Editora da UFJF, intitulado S?crates e o Ensino da Filosofia. Um livro que Sofiste e La?lia indicam para que os educadores entendam como deve ser a educa??o ? de Rubem Alves, A Escola com que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir.

E por falar em livros, eles ainda lembram o quanto ? dif?cil encontrar literaturas infantis com perspectiva filos?fica. "Procurei e s? achei um. Chama-se ULA - Brincando de Pensar, de Sergio A. Sardi", diz La?lia. Ficam as dicas para quem quiser entrar em um novo ritmo na educa??o.