Aline Maia Aline Maia 30/1/2012

A tragédia anual das chuvas na regiãoMais de 200 municípios mineiros já decretaram situação de emergência. Sete pessoas morreram vítimas dos temporais em três cidades da região

Foto de enchenteImagine se quase toda a população de Barbacena — segunda maior cidade da Zona da Mata — ficasse desalojada. Mais de 100 mil pessoas fora de suas casas! Aconteceu em Minas Gerais. Mais uma vez, como resultado do período chuvoso. Aliás, do previsível, já sabido e esperado período chuvoso.

É sempre assim: de outubro a março, aumenta o volume de precipitações. Em janeiro, a incidência costuma ser ainda maior. População e Governos têm ciência. Também já sabem o que vai acontecer: as tragédias repetem-se. Deslizamentos. Enchentes. Prejuízos. Mortes.

O período chuvoso 2011/2012 ainda não acabou e o balanço já é lamentável: nos primeiros dias deste ano, principalmente, milhares de mineiros sofreram as consequências da falta de planejamento, de fiscalização e de prevenção. Cidades da região foram arrasadas. Além de bens móveis e imóveis, centenas de famílias também viram a água levar a esperança e a dignidade.

Segundo dados da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil*, de outubro de 2011 até agora, já são 8.900 pessoas desabrigadas, 186 feridas e 18 mortas — sendo sete óbitos na região (um em Visconde do Rio Branco, dois em Guidoval e quatro em Além Paraíba). Mais de 26 mil moradias e cerca de 1.200 pontes foram danificadas ou destruídas. Estradas sumiram do mapa... Duzentos e dezesseis municípios mineiros decretaram situação de emergência!

Durante os temporais, imagens de devastação, muitas vezes alusivas a um cenário de guerra, correm os meios de comunicação. Nas bancas de jornais, em frente à TV ou à tela do computador, os cidadãos comovem-se e mobilizam-se. Iniciam-se as campanhas por donativos pelos desabrigados e desalojados. Arrecadam-se toneladas de mantimentos, roupas, utensílios... A chuva dá uma trégua e … só.

Para quem não viveu as mazelas dos temporais, o assunto cai no esquecimento. Até chegar outubro. Afinal, a tragédia é anual. Praticamente tem data marcada. Então, onde está o verdadeiro problema? Onde está a verdadeira tragédia? Possivelmente na incapacidade de comoção e mobilização para planejar, fiscalizar e prevenir. Que fique dito: falta ação por parte dos Governos — principalmente e em primeiro lugar — e, também, dos cidadãos.

A mobilização que surge para ajudar as vítimas da chuva é legítima, humana e necessária. No entanto, cidadãos e Governos também devem colocar em prática um dito popular: antes prevenir que remediar. E para ficar bem claro, busco no dicionário Michaelis significados para prevenir: dispor com antecedência, precaver, preparar, avisar antecipadamente, impedir que se execute ou que aconteça, evitar, preparar-se.

As campanhas rotuladas como preventivas e os esforços empenhados até agora ainda têm sido insuficientes para impedir as catástrofes. O período chuvoso ainda não terminou. O sinal de alerta deve continuar ligado. Principalmente de abril a setembro.

*Informações do Boletim Estadual de Defesa Civil de Minas Gerais nº 30, de 30 de janeiro de 2012

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Aline Maia é jornalista e professora universitária. Graduada e Mestre em Comunicação pela UFJF, tem experiência em rádio, TV e internet. Interessa-se por pesquisas sobre televisão, telejornalismo, cidadania e juventude.Também é atuante em movimentos populares e religiosos.

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