A tragédia anual das chuvas na regiãoMais de 200 municípios mineiros já decretaram situação de emergência. Sete pessoas morreram vítimas dos temporais em três cidades da região
Imagine se quase toda a população de Barbacena — segunda maior cidade da Zona da Mata — ficasse desalojada. Mais de 100 mil pessoas fora de suas casas! Aconteceu em Minas Gerais. Mais uma vez, como resultado do período chuvoso. Aliás, do previsível, já sabido e esperado período chuvoso.
É sempre assim: de outubro a março, aumenta o volume de precipitações. Em janeiro, a incidência costuma ser ainda maior. População e Governos têm ciência. Também já sabem o que vai acontecer: as tragédias repetem-se. Deslizamentos. Enchentes. Prejuízos. Mortes.
O período chuvoso 2011/2012 ainda não acabou e o balanço já é lamentável: nos primeiros dias deste ano, principalmente, milhares de mineiros sofreram as consequências da falta de planejamento, de fiscalização e de prevenção. Cidades da região foram arrasadas. Além de bens móveis e imóveis, centenas de famílias também viram a água levar a esperança e a dignidade.
Segundo dados da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil*, de outubro de 2011 até agora, já são 8.900 pessoas desabrigadas, 186 feridas e 18 mortas — sendo sete óbitos na região (um em Visconde do Rio Branco, dois em Guidoval e quatro em Além Paraíba). Mais de 26 mil moradias e cerca de 1.200 pontes foram danificadas ou destruídas. Estradas sumiram do mapa... Duzentos e dezesseis municípios mineiros decretaram situação de emergência!
Durante os temporais, imagens de devastação, muitas vezes alusivas a um cenário de guerra, correm os meios de comunicação. Nas bancas de jornais, em frente à TV ou à tela do computador, os cidadãos comovem-se e mobilizam-se. Iniciam-se as campanhas por donativos pelos desabrigados e desalojados. Arrecadam-se toneladas de mantimentos, roupas, utensílios... A chuva dá uma trégua e … só.
Para quem não viveu as mazelas dos temporais, o assunto cai no esquecimento. Até chegar outubro. Afinal, a tragédia é anual. Praticamente tem data marcada. Então, onde está o verdadeiro problema? Onde está a verdadeira tragédia? Possivelmente na incapacidade de comoção e mobilização para planejar, fiscalizar e prevenir. Que fique dito: falta ação por parte dos Governos — principalmente e em primeiro lugar — e, também, dos cidadãos.
A mobilização que surge para ajudar as vítimas da chuva é legítima, humana e necessária. No entanto, cidadãos e Governos também devem colocar em prática um dito popular: antes prevenir que remediar. E para ficar bem claro, busco no dicionário Michaelis significados para prevenir: dispor com antecedência, precaver, preparar, avisar antecipadamente, impedir que se execute ou que aconteça, evitar, preparar-se.
As campanhas rotuladas como preventivas e os esforços empenhados até agora ainda têm sido insuficientes para impedir as catástrofes. O período chuvoso ainda não terminou. O sinal de alerta deve continuar ligado. Principalmente de abril a setembro.
*Informações do Boletim Estadual de Defesa Civil de Minas Gerais nº 30, de 30 de janeiro de 2012
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Aline Maia é jornalista e professora universitária. Graduada e Mestre em Comunicação pela UFJF, tem experiência em rádio, TV e internet. Interessa-se por pesquisas sobre televisão, telejornalismo, cidadania e juventude.Também é atuante em movimentos populares e religiosos.