Não passei no vestibular, e agora?Desespero e frustração são comuns, mas período serve para reflexão dos pontos fracos do estudante. Pais são peças-chave no esclarecimento dos filhos

Pablo Cordeiro
*Colaboração
2/3/2010

Para muitos vestibulandos o período entre a realização das provas e o resultado do processo seletivo é o mais pesado psicologicamente, é aquele em que a ansiedade e o nervosismo afloram. Após a divulgação das notas, todos os sentimentos caminham para a felicidade pela aprovação ou para a frustração e perda de autoestima, decorrente da reprovação no concurso. A psicóloga de um curso preparatório, Vivian Werneck, destaca que o mais importante nesta hora é manter a cabeça no lugar, identificar os pontos fracos e começar de novo a corrida.    

"O impacto causado tende a ser maior se o aluno não souber lidar com a situação. O primeiro pensamento que ele deve ter na cabeça é que a grande maioria não passa. O vestibular não é como no ensino médio em que todos estudam e passam. Se fosse assim, era só a pessoa dedicar um ano para os estudos que ela passaria. Este é um concurso como qualquer outro", explica. Para se ter uma ideia, a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) ofereceu 3.028 vagas no vestibular e no Programa de Ingresso Seletivo Misto (Pism) para ingresso em 2010. O número total de presentes nas provas foi de 15.410 candidatos, ou seja, quase cinco vezes mais que a quantidade de vagas oferecidas.

O estudante Luciano Oliveira Fonseca, de 20 anos, presta vestibular há três anos e no último processo seletivo não obteve pontuação suficiente para ingressar no curso de Engenharia de Produção. "Tentei a UFJF [Universidade Federal de Juiz de Fora], a UFV [Universidade Federal de Viçosa] e a UFSJ [Universidade Federal de São João del-Rei]. Na UFSJ, fiquei em excedente. Nas outras quase fui para a segunda fase." Fonseca diz que se fosse para a etapa complementar, estaria mais tranquilo, pois tem mais segurança nas provas discursivas.

O estudante não desanimou e já se matriculou em um curso preparatório e pretende, de início, apenas estudar para o vestibular e tentar concursos públicos. "Acredito que preciso estudar um pouco mais. No ano passado, fiquei muito em cima das minhas matérias específicas e acabei deixando um pouco de lado a Biologia, que é uma disciplina que não gosto e tenho um pouco de dificuldades. Nas provas, tento me manter calmo. O nervosismo é uma coisa que atrapalha muito", conta.

Esta é a decisão mais apropriada, segundo a psicóloga. Para ela, os estudantes precisam identificar, o mais rápido possível, onde erraram. "A pessoa deve estudar, ter uma vida regrada, um convívio social harmônico e tempo para lazer e esportes. Nada de terminar o namoro para se dedicar apenas aos estudos, como já escutei casos. O aluno e os pais devem analisar se a não aprovação foi decorrente da falta de estudos ou devido à grande concorrência. Quanto maior a frustração, mais tempo o aluno perde."

Ela conta que no início das aulas recebe muitos estudantes que se queixam e pensam em desistir do vestibular por causa do volume de matérias. "O aluno sai do ensino médio acostumado com o ritmo. Ele pensa que o vestibular é a mesma coisa. Ele deve pensar que da mesma forma que não consegue absorver todo o conteúdo, o outro candidato também não. Ele deve ter consciência que estudou, mas não é uma obrigação passar", ressalta.

Mãe, pai, tomei pau no vestibular!

Conforme a psicologa, muitos pais não sabem interpretar que o estudo não é garantia de vaga na universidade. "Não é a mesma coisa que trabalhar o mês todo para receber o salário no final. As cobranças dos pais devem ser na medida certa. Muitos pensam que a cobrança excessiva é sinônimo de preocupação e vai garantir o filho na faculdade. Pelo contrário, se o filho não estudou o retorno deve vir de forma negativa, mas se o filho fez o papel dele, o retorno deve ser positivo", enfatiza.

No caso de o problema ter sido a falta de estudos, a psicóloga aconselha aos pais uma revisão no modo de educação do filho e até mesmo a ajuda de um profissional. "O problema também pode ter sido a obrigação. Às vezes, o vestibular não é o que o estudante quer. E, principalmente, para os cursos mais concorridos, um ano não é o suficiente. Um esportista não treina apenas um ano para vencer determinada prova, ele treina vários anos."

*Pablo Cordeiro é estudante do 10º período de Comunicação Social da UFJF