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Salvação da Vale está em Carajás

Lúcio Flávio Pinto - Abril 2015
 

Ao longo deste ano a Vale não iniciará nenhum projeto novo. Desenvolverá apenas os empreendimentos já aprovados, mas seus investimentos ainda serão expressivos: de 10 bilhões de reais. No próximo ano a dieta será ainda mais rigorosa: investirá quatro bilhões de reais na manutenção de quatro projetos e R$ 3,6 bilhões na execução de projetos que iniciou antes. Suas inversões de capital, que chegaram a R$ 16,3 bilhões em 2011, não atingirão um bilhão em 2019. Dos R$ 9 bilhões pagos em 2011, os dividendos do ano passado ficaram em menos da metade: R$ 4,2 bilhões. E para este ano a previsão é de R$ 2 bilhões.

A receita bruta em 2014 foi de 38,2 bilhões de reais, não por causa do preço do minério de ferro, que atingiu os níveis mais baixos do mercado, mas pela produção recorde de 319 milhões de toneladas. A dívida bruta da empresa foi para quase 40 bilhões de dólares.

A Vale está apertando fortemente o cinto. Está cortando todas as despesas que pode, inclusive as de pessoal, com a demissão crescente de funcionários, sobretudo em Minas Gerais. Vende todos os bens e ativos que não estão vinculados à mineração. Sabe que os próximos três anos serão de vacas muito magras. Mas, a julgar pela exposição de uma das suas analistas, Andrea Gutman (Estratégia da Vale na área de mineração), acredita no futuro. Em 2018 o fluxo de caixa livre e dividendos da maior mineradora brasileira e das maiores do mundo "alcançará níveis sem precedentes", prevê ela no trabalho, elaborado neste mês.

A confiança da Vale está depositada na ampliação das minas de Carajás, no Pará, que contribuirá decisivamente para que a produção atinja 460 milhões de toneladas de minério de ferro em 2019. O investimento original no projeto S11D, que quase duplicará a produção de Carajás, para 230 milhões de toneladas, era de US$ 19,6 bilhões. Submetido a revisão, o orçamento baixou para US$ 16,4 bilhões, dos quais US$ 6,2 bilhões já foram aplicados.

O cronograma na mina de Serra Sul está mais adiantado, com a realização de 56% da meta, de US$ 6,9 bilhões, enquanto a conclusão na ferrovia é de 32% dos US$ 9,5 bilhões projetados.

A elevada qualidade do minério de Carajás fará a diferença tanto em relação ao preço mais baixo do ferro no mercado como em relação aos competidores. O custo de produção da Vale no Brasil é atualmente de US$ 23,5 a tonelada. Em Carajás, é US$ 21,2. Quando foi definida a execução do S11D, a previsão era de que cada tonelada seria extraída por US$ 15. Agora esse vale é de US$ 11 por tonelada.

Se for assim, a Vale ressurgirá dos seus problemas em 2018 como a mais poderosa mineradora de ferro do planeta, graças a Carajás. Superando as graves dificuldades atuais, a antiga CVRD terá voltado ao seu perfil original, de mineradora: mais de dois terços da sua receita originada de minério de ferro e pelotas, complementados por níquel, cobre e carvão. E companhia de logística, com duas das melhores ferrovias e dois dos mais invejáveis portos do mundo.

Tudo isso graças a Carajás, ao que parece, por mera casualidade, localizada no Pará.

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Lúcio Flávio Pinto é o editor do Jornal Pessoal, de Belém, e autor, entre outros, de O jornalismo na linha de tiro (2006), Contra o poder. 20 anos de Jornal Pessoal: uma paixão amazônica (2007), Memória do cotidiano (2008) e A agressão (imprensa e violência na Amazônia) (2008).

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Fonte: Jornal Pessoal & Gramsci e o Brasil.

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