Toma l?, da c?

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Toma l?, da c?
 Jussara Haddad 12/11/2014

Toma lá, da cá

A humanidade muito teria a ganhar se dedicasse ao amor tempo e dinheiro para estudo e compreensão de como agimos na falta dele ou quando estamos abastecidos desse sentimento que plenifica, até quando nos faz sofrer.

A verdade é que a ciência ainda não admita a contento, comprovação, veracidade, validade ao estudo do amor e do comportamento que abrange as questões da sexualidade e o que passa no âmbito neural, psicológico, cognitivo do homem que ama e que fica ainda, passível do que é julgado ridículo e sem importância sobre as questões consideradas relevantes para a humanidade, como armas de guerra, conforto material exagerado, beleza física a nível dos deuses.

É possível que o erro ocorra exatamente aí, a meu ver. Pouco interesse em atender a essa necessidade que considero básica e pouco interesse em entender como ela se processa dentro de nós. Algumas teorias são lançadas em obras de pensadores mais atentos. Em estudos de neurocientistas, médicos e psicólogos, algumas pesquisas são mais preocupadas com as questões do holismo - que propõe a cura de doenças ou a inexistência delas através do que sentimos e processamos em nossas mentes - mas nada que convença muito, infelizmente.

A exemplo disso, timidamente analisando a teoria de Fromm que propõe amar sem esperar recompensas e tentando de tudo para comprová-la, esbarro em um cotidiano onde escuto, vejo e sinto profissionalmente e pessoalmente o quanto é difícil aplicá-la no dia a dia. O quanto nosso ser mundano espera ao menos, uma percepção relativa ao não estarmos bem, diante de todo bem que rotineiramente tentamos promover ao outro.

Esta é uma queixa que observo até em budistas, mas em um plano menos elevado, observamos, principalmente nas mulheres. Dada sua natureza explícita demais, mesmo nas mais equilibradas, uma queixa que traduz a indignação quanto ao retorno recebido de seus parceiros em face a força, graça, disposição, alegria, amor, carinho e amizade que normalmente dedicam a eles e que em momentos onde elas são somente humanas, frágeis, cansadas, tepeemizadas, a incompreensão e cobrança aparecem e tomam lugar da oferta de apoio, tomam o lugar de um pequeno gesto de atenção que intencione dizer: Você não é assim, o que você tem? Como eu posso te ajudar, o que eu posso fazer para ter de volta a minha companheira forte e sorridente?

A queixa se refere ainda ao comportamento egoísta do parceiro acostumado a ser bem tratado, apesar de tantas vezes isto nem ser merecido.

Vem aqui então uma questão que não pode calar. Por que mulheres estão se anulando, representando serem perfeitas, mais do que são capazes? Por que se fazem princesas, rainhas do sexo e da beleza, além de suas forças, condições físicas e materiais? Que paranoia é essa que tira da mulher o direito de enfraquecer e ainda assim continuar amada, compreendida e desejada? Por que ainda se sentem obrigadas a doar o que muitas vezes não tem mesmo nem o que dar a elas próprias?

O ato de amar, não deve mesmo ser medido, afirmo. Contudo, a armadilha está em representar ser melhor e mais forte do que é realmente e mais, e o que é mais grave, em acreditar que o outro é mesmo o seu sonho idealizado.

Para quem já transcendeu dessa maneira simplesmente humana de ser, para quem já ultrapassou certas esferas, fica o dito pelo não dito. Para esses, não existe mesmo expectativa de justiça ou retribuição à dedicação em favor de uma boa relação de amor, mas apenas por serem humanos, acredito que fica uma pequena tristeza, uma lágrimazinha que quer escorrer dos olhos ainda confusos quanto a escolha de permanecer onde está ou de partir em uma busca cada vez maior de si mesmo.

Mesmo assim, não desistam. Partilhar em amor, é uma delícia.


Jussara Hadadd é filósofa clínica, psicoterapeuta, especialista em sexualidade feminina, escritora, palestrante.
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