Iniciativa juiz-forana permite reciclagem de lixo eletrônicoCerca de 94% do lixo tecnológico, encontrado em aparelhos eletrônicos diversos, pode ser reutilizado no processo produtivo das indústrias

Victor Machado
*Colaboração
10/8/2011
Reciclagem

Cerca de 94% dos materiais encontrados em computadores, videogames, videocassetes, cartuchos, celulares, monitores, disquetes, entre outros produtos, são recicláveis. A constatação é de Katia Colaci, especialista em meio ambiente e cofundadora de uma empresa especializada em recolhimento e reciclagem de lixo eletrônico, criada há dois meses em Juiz de Fora.

A iniciativa surgiu mediante a percepção de que o descarte ideal de lixo eletrônico ainda é difícil de ser encontrado em Juiz de Fora. "Não existiam locais para o descarte ideal e, por isso, via muitas pessoas jogando em lixo comum", conta André Carvalho, também responsável pela empresa.

A ideia dos sócios é implantar postos de coleta em diversos bairros e criar uma consciência da população em descartar este tipo de lixo. "A falta de espaços destinados é que faz estarmos nesse cenário. Acreditamos que criar uma opção e apresentar à população os perigos que podem ser causados pelo lixo eletrônico serão boas formas de conscientização."

Para Carvalho, a principal função da reciclagem é retornar esses materiais para o processo de produção das indústrias. "As empresas são responsáveis pelo lixo sólido e, a grande maioria, não tem para onde enviar os eletrônicos. A nossa função é receber esses materiais, por meio de doação, separá-los e depois recolocá-los no processo produção como matéria-prima."

O processo de reciclagem começa na doação feita pelas empresas e pessoas físicas. Após esta coleta, os produtos são enviados para uma triagem. "Tem pessoas que descartam eletrônicos que ainda têm alguns componentes em funcionamento. Caso isso aconteça, enviamos para algum projeto social e comunicamos ao doador", explica Carvalho.

Depois, os componentes são enviados às empresas especializadas e certificadas em reciclagem e manufatura reversa, que extraem os metais pesados e separam ouro, cobre, chumbo, ferro, entre outros. Após a reciclagem, as matérias-primas como plástico, vidro, ferro são levados para a produção industrial.

A preocupação não é só relacionada ao reaproveitamento. Nos produtos eletrônicos são utilizadas substâncias necessárias para uma maior durabilidade, desempenho e proteção, entre essa substâncias estão os metais pesados, que podem gerar riscos à saúde da população. "São muitos metais. Tem o chumbo, que pode trazer danos para a saúde e para os lençóis freáticos, em caso de descarte incorreto. Muitos catadores veem esses produtos e pegam só o que interessa, deixando expostos outros materiais perigosos", afirma Kátia.

Iniciativa recebeu 500 quilos de materiais

Até o momento, os gerentes afirmam já ter recebido, aproximadamente, 500 quilos de materiais eletrônicos. "A aceitação nas empresas tem sido muito boa. As empresas têm demonstrado um interesse muito grande nesta questão ambiental. Por enquanto, estamos visitando os locais, mas a expectativa é de que três toneladas de lixo sejam recicladas."

Brasil é maior gerador de lixo eletrônico per capita

O Brasil gera cerca de 96 mil toneladas métricas de computadores e só perde para a China, com 300 mil toneladas. É o país emergente que gera o maior volume de lixo eletrônico per capita a cada ano, segundo um único relatório da Organização das Nações Unidas (ONU). O fato gerou a advertência para que o país se preocupe com o fenômeno. O Brasil lidera na média per capita com meio quilo para cada brasileiro. Na China, a taxa é de 0,23 quilo e na Índia de 0,1. Apesar do crescimento na utilização de eletrônicos, os brasileiros ainda não sabem como descartar e o que pode ser feito com esses produtos.

*Victor Machado é estudante do 8º período de Comunicação Social da Faculdade Estácio de Sá

Os textos são revisados por Thaísa HosKen