Delegado, policiais civis, comerciantes e até produtores de eventos estão entre os envolvidos em grande operação contra o tráfico de drogas e outros ilícitos em Juiz de Fora e na Zona da Mata

Mandados de brusca e apreensão foram executados a partir de investigações realizadas ao longo de dois anos. A apreensão de bens chega a R$ 55 milhões

Por Ricardo Ribeiro

Operação Conjunta culminou com a prisão de 25 pessoas

Em operação conjunta realizada nesta quinta-feira (20), foram cumpridos 250 mandados, sendo 31 de prisão preventiva, 61 de busca e apreensão, 148 de sequestro de veículos, dez de sequestro de indisponibilidade de imóveis incluindo veículos aquáticos. As informações foram repassadas à imprensa em coletiva realizada na 4ª Região Integrada de Segurança Pública (Risp). Denominada de "Operação Transformers", a ação é resultado de dois anos de investigação, iniciada por uma suspeita de roubo e adulteração de veículos para o uso no tráfico de entorpecentes. Dos 31 mandados de prisão, foram efetivadas 25 prisões nesta quinta-feira(20), os demais, conforme as autoridades devem ser realizadas nos próximos dias. Entre os presos, agentes públicos: sete policiais civis, um delegado e seis investigadores. Conforme previsão legal, os nomes dos envolvidos não foram confirmados.

As ordens judiciais expedidas pela 1ª Vara Criminal de Juiz de Fora, geraram o  sequestro de dez imóveis e indisponibilidade financeira com a apreensão de bens, de um pedido de R$55 milhões de reais. Conforme o promotor de justiça, Thiago Fernandes de Carvalho, é uma investigação que ainda está em andamento e terá outros desdobramentos. "Nesse núcleo combatido hoje,, quando associamos esse núcleo a outros núcleos, de outras investigações, a gente se aproxima de um montante de R$1 bilhão, em movimentação financeira identificada nos últimos cinco anos." Além do tráfico, a ação também inclui lavagem de dinheiro, organização criminosa, entre outros delitos correlatos. "A investigação demonstra o quanto é sofisticada a rede. A situação vai do furto, do roubo do carro, da receptação, da modificação até a lavagem do dinheiro, com muitos shows artísticos, casas de comércio de ramos como roupas, varejo, alimento".

“Foi descoberto grande esquema de pagamento de propina a agentes públicos, os quais “blindavam” membros da organização criminosa em troca de vantagem indevida”, destacou o despacho assinado pelo juiz Daniel da Motta endossa o trabalho de investigação do Ministério Público de Minas Gerais, através do  Grupo de Atuação Especial ao Combate ao Crime Organizado (Gaeco). A Corregedoria da Polícia Civil atuará em conjunto com o Ministério Público, para que possa trabalhar as apurações a nível administrativo enquanto transgressão disciplinar dos agentes da segurança pública envolvidos, conforme destacou a chefe do 4º Departamento de Polícia Civil em Juiz de Fora, Flávia Mara Camargo Murta.

Segundo, Flávia, a Polícia Civil ainda não tomou conhecimento das informações acerca da atividades dos policiais civis envolvidos. A instituição participou da atividade com a execução dos mandados, que foi feito pela Corregedoria. "Foi uma surpresa essa notícia, mas a Polícia Civil não coaduna com esse tipo de conduta e sempre que ocorrer, a Corregedoria de Polícia está sempre à frente, para que a gente possa fazer uma apuração transparente, dando a eles o direito de defesa, mas sempre demonstrando que não somos complacentes." Os policiais foram encaminhados para a Casa de Custódia da Polícia Civil, em Belo Horizonte. A princípio, uma das formas de participação dos agentes era o compartilhamento de informações sobre as demandas operacionais. Também foram detidos dois advogados, com acompanhamento de representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), por conta da prerrogativa da atividade, ambos foram encaminhados para a Sala do Estado Maior, em Uberlândia.

"Nosso objetivo é sempre fazer um trabalho em cooperação, porque a criminalidade é extremamente organizada e complexa. Se não unirmos as nossas expertises e qualidades de cada instituição, não conseguimos fazer frente a essas atividades É isso o que aconteceu hoje. Foram cumpridos também mandados fora de Juiz de Fora, em mais outras três cidades em Minas Gerais: Três Corações, Esmeraldas, Botelhos e Juiz de Fora. Posso confirmar que a operação foi muito exitosa, cumpriu quase 100% de todos os objetivos desejados hoje", avaliou o promotor Thiago Fernandes de Carvalho. A ação desta quinta contou com o reforço das polícias Civil, Militar e Rodoviária Federal. Dois helicópteros, da PM e da PRF, participam da operação, além do Ministério Público. 

Uso dos veículos

Os veículos eram utilizados dentro da estrutura de diversas maneiras, de acordo com o promotor de Justiça, Thiago Fernandes de Carvalho "Carros salvados, que são baixados e vendidos, eram utilizados como plataformas para aquecer carros roubados. Então, as peças eram retiradas de carros roubados, eram utilizadas na montagem de carros requentado e esse automóvel vai abastecer de maneira permanente outras atividades ilícitas." Segundo Thiago, 90% desses veículos são utilizados para o tráfico de drogas, seja no transporte, ou para pagamento.

Ao longo da investigação entra nesse braço, até chegar ao núcleo, onde mais se utiliza e se compra esses veículos. Nesse caso, o tipo de tráfico atendido, segundo o procurador, não é o que é feito nos pontos de venda, de aglomerado. É de fornecedor, mais volumoso, que é responsável pelo abastecimento do mercado. Que tem ramificação em todo o país. A ação do grupo contava com setores dentro do núcleo, com braços de logística, financeiro, corrupção de agente público e controle operacional da investigação.

"O que mais chama a atenção é a necessidade que o Estado tem de nos unir. Ninguém consegue trabalhar um caso como esse de maneira isolada. Por isso que precisamos unir e trazer essa resposta coletiva, de que as forças de segurança pública, com o Ministério Público, não toleram a criminalidade. É inocência achar que o crime é o que você vê. O crime, você não vê. O que vê é estatístico. O grande crime a gente não está enxergando", avalia o promotor. Em um dos trechos da decisão judicial, parte da investigação, mostra indícios de pagamentos frequentes de R$ 30 mil e em dado momento, possivelmente, de até R$ 500 mil.

Agentes públicos

Em nota, ao longo do dia, a Polícia Civil se pronunciou. “Foram cumpridos mandados de prisão preventiva e de busca e apreensão, em desfavor de policiais civis investigados por suposto envolvimento em crimes de tráfico de drogas e corrupção passiva”. A PCMG esclarece que, além do processo criminal, os servidores responderão a procedimentos administrativos disciplinares na Corregedoria”, conclui a nota. Todos os envolvidos pertenciam a uma mesma equipe.

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