Dólar vai a R$ 5,46 com remessas e cenário eleitoral no radar

Por Antonio Perez

O dólar apresentou alta firme no mercado local nesta terça-feira, 16, na contramão da tendência predominante da moeda americana no exterior. Operadores atribuíram a depreciação do real ao aumento de remessas de lucros e dividendos ao exterior e às expectativas para a corrida presidencial de 2026, em dia de divulgação de pesquisa de intenção de voto.

Com máxima de R$ 5,4759, no início da tarde, o dólar à vista encerrou a sessão em alta de 0,76%, a R$ 5,4630, passando a acumular valorização de 0,96% nos dois primeiros pregões da semana e de 2,40% em dezembro, após baixa de 0,85% em novembro. No ano, a moeda americana recua 11,60%.

O real amargou o pior desempenho entre as principais emergentes e de países exportadores de commodities mais relevantes, em sessão negativa para divisas ligadas ao petróleo, como o peso colombiano e a coroa norueguesa. A commodity recuou quase 3%, para os menores níveis de 2021.

Parte do mercado atribuiu a arrancada do dólar aqui ao movimento do xadrez eleitoral. Rumores pela manhã de que Pesquisa Genial/Quaest traria uma melhora da avaliação de governo Lula e um favoritismo expressivo do petista na corrida presidencial teriam levado a uma piora mais forte dos ativos domésticos. Ala relevante dos investidores teme uma degringolada das contas públicas em caso de reeleição de Lula, que não estaria disposto a promover uma política fiscal capaz de reduzir a relação dívida líquida/PIB.

Divulgado no início da tarde, o levantamento revelou alteração mínima na aprovação do governo. Já as estimativas de intenção de voto mostram vitória do petista em segundo turno contra todos os candidatos da oposição, incluindo o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), cujo nome foi incluído pela primeira vez em simulações, e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

O filho do ex-presidente Jair Bolsonaro tem intenção de voto similar a de Tarcísio, preferido pelos investidores por, em tese, ter perfil mais moderado e chances maiores de derrotar Lula. Analistas ponderam que a consolidação do nome de Flávio diminui a possibilidade de uma vitória da oposição no pleito de 2026.

O economista-chefe da corretora Monte Bravo, Luciano Costa, vê impacto na queda do petróleo e dos ruídos políticos na formação da taxa de câmbio, mas chama a atenção o provável aumento do fluxo de saída de recursos, com empresas antecipando remessas ao exterior diante de dúvidas que ainda cercam a tributação de dividendos após a aprovação da reforma do Imposto de Renda.

Costa ressalta que grandes empresas, com lucros retidos de exercícios anteriores, anunciaram pagamento de dividendos extraordinários neste fim de ano. Há também a possibilidade de números mais expressivos de remessas de filiais de multinacionais sediadas no Brasil às matrizes no exterior.

"Já sabíamos que haveria um aumento mais forte das remessas neste fim de ano, até por uma questão de precaução por conta das dúvidas com a tributação. Esta é praticamente a última semana do ano para o mercado, já que a liquidez tende a cair bastante nas próximas semanas com o Natal e o Ano Novo", afirma Costa.

Principal evento da agenda doméstica, a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) trouxe um tom menos duro do que o comunicado da semana passada, quando a taxa Selic foi mantida em 15% ao ano. Parte dos analistas identificou sinais sutis de abertura de uma janela para eventual início de ciclo de queda de juros em janeiro, em especial na avaliação do comitê sobre a dinâmica do mercado de trabalho. A maioria, contudo, ainda aposta que o BC vai começar a afrouxar o torniquete monetário em março.

Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY operou em queda ao longo do dia e rondava os 98,100 pontos no fim da tarde, após mínima aos 97,869 pontos. Houve um pequeno aumento das chances de corte de juros pelo Federal Reserve em janeiro após a divulgação do relatório de emprego (payroll) de novembro, mas a aposta majoritária, com mais de 70%, ainda é de manutenção da taxa no início de 2026.