Do Uberabinha ao título Brasileiro: A trajetória de força, talento e superação de Maria Eduarda
Da base em Juiz de Fora à conquista do Brasileiro A3, Duda transforma desafios em combustível para alcançar o topo do futebol feminino.
A história de Maria Eduarda, a Duda, poderia ser contada apenas pelos títulos, pelos clubes grandes que defendeu ou pelas conquistas recentes no Piauí. Mas nada na vida da jogadora de 22 anos foi simples, e talvez por isso sua trajetória seja tão poderosa. Hoje atleta do Clube Atlético Piauiense, ela carrega na memória cada sacrifício, cada porta fechada e cada campo de terra onde começou a alimentar o sonho de viver do futebol.
“Eu comecei no Uberabinha, jogando com os meninos. Fico triste até hoje que o projeto acabou no Cerâmica, porque foi ali que tudo começou de verdade pra mim”, relembra. Era perto de casa, era simples, mas foi fundamental. “O Dudu sempre me acolheu, mesmo eu sendo a única menina. Nunca me trataram diferente. Ali eu entendi que eu queria isso pra minha vida”.
A menina que saia antes da aula para treinar
A jornada ganhou novos capítulos quando o professor de educação física, Guilherme, apresentou um projeto em Matias Barbosa. Duda tinha apenas 13 anos. “Eu saía da escola, minha avó me encontrava no portão e a gente ia com o Guilherme pra Matias. Fazia o treino, voltava tarde. Era cansativo, mas era o que eu queria”.
Quando estourou a idade no projeto, veio a primeira peneira, no futsal do Buscapé, atual Clube Bom Pastor. Ela passou, disputou Copa Bahamas e ganhou visibilidade. Logo surgiu o convite para testar no Santos. Tentou três vezes, e só na terceira passou.
“Eu fiquei uma semana lá e consegui mostrar quem eu era. Foi ali que minha carreira começou de verdade”, lembra.
Santos, Corinthians e a pandemia
No Santos, viveu 2019 como vice-campeã brasileira e paulista sub-17. No ano seguinte, o Corinthians, potência nacional, a contratou depois de uma boa campanha.
“No Corinthians eu tive minha primeira renda, minha primeira estrutura profissional. Mas aí veio a pandemia e tudo parou.”
De volta ao Santos no fim de 2020, foi campeã paulista sub-17. Depois, começou outra etapa da carreira: o Grêmio.
Grêmio: o amadurecimento e o primeiro gol como profissional
No clube gaúcho, Duda encontrou o ambiente que acelerou seu crescimento.
“No Grêmio eu vivi meu melhor momento. Foi onde tive meu primeiro contrato, meu primeiro jogo, meu primeiro gol e meu primeiro título profissional. Ali eu vi que eu estava pronta.”
Também ali enfrentou a transição mais difícil: disputar espaço com atletas de alto nível.
“Eu fazia base e profissional ao mesmo tempo. Jogava com meninas de 29, 30 anos. Jogava com a Lorena, goleira da seleção. Nunca foi fácil, mas eu sabia que meu momento ia chegar.”
Uma temporada turbulenta e o renascimento no Piauí
Depois de deixar o Grêmio, Duda viveu altos e baixos em passagens pelo JC-AM e pelo Atlético Matogrossense. Até chegar ao Atlético Piauiense.
“No Atlético, a gente ganhou o estadual, fomos pro Brasileiro A3, renovamos… e fomos campeãs brasileiras. Foi meu melhor ano. Joguei praticamente tudo, fiz gols e participei da minha primeira Copa do Brasil”.
A equipe, recém-criada, fez história. “O primeiro título profissional do clube foi com o feminino. O primeiro título nacional também. O Piauí abraçou a gente de um jeito diferente".
Lesão, superação e maturidade
Em seu primeiro jogo após renovar com o Atlético, Duda viveu uma fatalidade: lesionou o ligamento medial que tirou a atleta da semifinal e final do Campeonato Brasileiro A3.
“Eu estava fazendo uma temporada perfeita. Do nada, tudo desmoronou. É o futebol. Mas a psicóloga do Atlético me ajudou muito. A mente precisa estar forte”, afirma.
O papel da família: apoio que virou combustível
Se há algo constante na vida de Duda, é o apoio da família.
“Minha mãe largou tudo pra ir pra São Paulo comigo. Minha avó sempre esteve ao meu lado. Meus tios, Mogango e Cabrito, que todo mundo conhece, sempre me incentivaram. Em casa, ninguém nunca duvidou de mim.”
Em campo, com meninos, também nunca viveu preconceito. “Sempre me respeitaram. Sempre fui a única menina, mas nunca me senti menor.”
A evolução do futebol feminino, e a crítica a Juiz de Fora
Duda reconhece os avanços da modalidade.
“Antes a gente só via jogos pelo aplicativo. Hoje passa na Globo, no SporTV. A evolução é enorme, mas ainda falta muito”.
Sobre Juiz de Fora, porém, ela é direta.
“Aqui o único campeonato de verdade é a Copa Bahamas. Falta tudo. Tem talento sobrando na cidade, mas falta visibilidade. Falta oportunidade. Falta enxergar que o futebol feminino não é futuro, é presente”.
O recado para si mesma no futuro e de olho na Copa do Mundo
Quando pensa na Duda de 32 anos, ela deixa um conselho simples, mas profundo.
“Manter o foco. O trabalho sempre devolve. Sempre. E eu sei que tudo vai se realizar na hora certa”.
E o sonho ganha data e cenário. Em 2027, quando o Brasil sediar a Copa do Mundo Feminina, Duda quer estar lá. "Seja em 2027 ou em 2031, eu ainda vou chegar lá".
Com colaboração de Fellipe Enzo, estudante do 6° período de Rádio, TV e Internet da Universidade Federal de Juiz de Fora e diretor do documentário BASES. Com previsão de lançamento em janeiro de 2026, o projeto contará histórias das categorias de base esportivas de Juiz de Fora, com foco no futebol e no vôlei.