Intermediário de Ancelotti revela sinal verde para investir no São Paulo

Por GABRIEL SÁ

(UOL/FOLHAPRESS) - Diego Fernandes, empresário do mercado financeiro que ganhou notoriedade nacional por intermediar tratativas envolvendo Carlo Ancelotti na Seleção Brasileira, confirmou que recebeu "sinal verde" de um grupo de investidores brasileiros e estrangeiros interessados em aportar recursos no São Paulo. São-paulino declarado, ele afirma que está disposto a ajudar o clube, mas condiciona o investimento à modernização do Estatuto e ao avanço para um modelo de clube-empresa. Diego também descarta qualquer intenção de disputar cargos políticos no Tricolor.

Em entrevista exclusiva ao UOL, ele falou longamente sobre sua relação afetiva com o clube, o movimento de investidores e a necessidade de profissionalização.

Recentemente você conversou com conselheiros do clube e agora você inicia as tratativas com investidores interessados, qual a sinalização que você recebeu? Você pretende se envolver com a política do clube para viabilizar essa possibilidade?

"Fui autorizado a falar por esse grupo que estamos prontos para investir no São Paulo ? desde que o clube modernize seu Estatuto, que, até onde consta para nós, é de 1950 e extremamente ultrapassado. O modelo de eleição também é muito atrasado. Além disso, há a questão do clube-empresa. Tendo esses dois pontos resolvidos, estamos prontos para investir no São Paulo. Conversei bastante com o pessoal e deixei claro que não tenho pretensão nenhuma de ser presidente ou conselheiro do clube. Firmei um acordo com eles de que não participarei da política do São Paulo. Não vou fazer nenhum movimento político, nada disso. Minha questão aqui é acreditar que um modelo SAF pode ajudar o São Paulo com investidores. Gosto muito do modelo que o Fluminense implementou: mantém a tradição, tem investidores que amam o clube e querem preservar sua história, além de investidores que enxergam o futebol como negócio".

E como começaram essas conversas?

"Isso começou com algumas famílias de são-paulinos tradicionais, investidores qualificados e muito bem-sucedidos em suas áreas. Falei: 'ótimo, legal'. Vim para uma rodada de reuniões fora do país, e em uma das conversas falei com fundos estrangeiros e árabes. As conversas foram aumentando e recebi uma luz verde desse grupo de investidores estrangeiros e desses são-paulinos que gostariam de fazer um movimento para investirmos no São Paulo. Eles me deram luz verde para começarmos esse processo de investimento".

Recentemente você surgiu nas redes sociais distribuindo camisetas do São Paulo para pilotos e outras personalidades. Esse movimento teve como objetivo trazer o torcedor para o seu lado?

"Sei que muita gente fala que eu 'quero aparecer', mas não é nada disso. No ano passado, ninguém falava nada quando eu entregava camisa da Seleção Brasileira. Este ano, quis fazer com a camisa do São Paulo. Muitas pessoas não acreditavam na negociação do Ancelotti. Eu sempre acreditei desde o começo. Cheguei a colocar dinheiro do meu bolso ? e ainda nem me pagaram. Acho que posso fazer a mesma coisa, ajudando meu clube do coração".

A sua relação com o São Paulo tem início familiar?

"Sim. Sou são-paulino fanático; isso é memória afetiva da minha infância. Todo domingo eu ia ao estádio com a minha família, comia lanche de calabresa, via a festa da torcida, meu avô com radinho de pilha? São lembranças que o dinheiro não compra. Tenho um filho pequeno e gostaria de transmitir a ele os mesmos momentos, os mesmos sentimentos. Gostaria eu de ter comemorado o tetra da Libertadores com meus familiares e amigos em Lima".

Você destacou sua relação familiar com o São Paulo. Você, na posição de empresário e torcedor, acredita que o clube tenha uma solução dentro do associativo?

"A única maneira de voltar a fazer do São Paulo um protagonista é ser clube-empresa. Como você vai pagar essa dívida? Não adianta ficar vendendo jogadores da base e, ao mesmo tempo, contratando para qualificar o time. Como vão resolver a questão financeira? Não é mandando massagista ou segurança embora? O São Paulo acaba vendendo muito mal porque está asfixiado pela dívida e pelas taxas. Em dois anos, com uma dívida de quase R$ 1 bilhão e a taxa Selic a 15%, sua dívida real sobe para 30%... você praticamente só enxuga gelo".

Quando começou a surgir na sua cabeça a possibilidade de ajudar o São Paulo?"Acabei tendo uma visibilidade grande com o Ancelotti, então nesta quinta-feira (11) é comum que os torcedores me parem. Toda essa história começa no jogo São Paulo x LDU, pela Copa Libertadores. Fiz um camarote fechado para mim e meus amigos, e me abordaram dizendo: 'Pô, ajudou a Seleção e nunca ajudou seu time do coração'. A história começa assim. Primeiro, eu queria agradecer à torcida do São Paulo por todo carinho e pelas mensagens que recebo. Estou aqui como um são-paulino que quer ajudar. O que fiz foi procurar algumas pessoas. Tenho carreira sólida no mercado financeiro, tenho um grande networking e venho sendo procurado por muita gente que quer investir no Brasil. Fiz alguns contatos, e muitas dessas pessoas se mostraram interessadas em participar e ajudar"

Nesse processo atual de convencimento e reunião de ideias, o que você pretende fazer para conseguir viabilizar seu plano?

"Primeiro, providenciei uma pesquisa para entender o quanto o torcedor deseja uma SAF e o quanto compreende do assunto. É importante ouvir a opinião da torcida. Vamos fazer um painel de debate em março, onde vou trazer vários especialistas para discutir SAF: advogados extremamente conceituados, economistas, convidar todos os conselheiros, convidar o presidente do São Paulo e o presidente do Conselho. A ideia é fazermos um debate aberto ao público para discutirmos o melhor modelo de profissionalização do clube e como estruturar um futuro institucional que salve a situação atual. Isso é o que posso fazer por agora, como são-paulino que quer ver meu time dar alegrias. Estamos prontos para investir. Temos um grupo. Gostaríamos que o Estatuto fosse alterado para permitir um clube-empresa, com governança e compliance ? e não a situação atual. Não consigo visualizar, em sã consciência, colocar investidores para injetar dinheiro na governança atual".

E como foram as suas conversas iniciais com os conselheiros?

"Acho que é um momento de união. Existe um ditado famoso: 'casa que falta pão, todo mundo briga e ninguém tem razão'. É preciso união dos conselheiros e pressão dos sócios para promover mudança. É impossível um clube que tem um Estatuto tão atrasado querer continuar brigando em alto nível. Existe um conflito de geração: pessoas mais velhas resistindo à mudança. Muita gente me liga, mas está fora de cogitação entrar na política do São Paulo".

Qual seu recado para a torcida do São Paulo?

"Meu recado é: estou pronto para ajudar o São Paulo ? eu e meus investidores. Desde que o São Paulo esteja pronto para receber a gente, com Estatuto moderno e clube-empresa. Vou colocar dinheiro do meu bolso para fazermos a pesquisa e o painel de discussão".

QUEM É DIEGO FERNANDES?

Diego Fernandes é um empresário brasileiro de 40 anos, fundador da O8 Partners, empresa do mercado financeiro parceira do C6 Bank. Operando como CEO desde 2021, Diego gerencia a vida financeira de mais de 100 atletas profissionais, incluindo nomes de destaque como Neymar e Vinícius Júnior. Ele ganhou notoriedade nacional recentemente por seu papel na articulação da chegada do técnico Carlo Ancelotti à Seleção Brasileira.

Declaradamente torcedor do São Paulo, Diego se apresenta como potencial investidor interessado em aportar recursos e apoio no clube. Nos últimos dias, ele tem agitado a torcida nas redes sociais ao publicar fotos distribuindo camisetas do São Paulo a pilotos que competem na Fórmula 1, como Valtteri Bottas, Isack Hadjar e Pierre Gasly, além do ex-jogador de futebol Ronaldinho Gaúcho.

Nesta quinta-feira (11), Diego publicou uma foto ao lado do empresário Khalfan Belhoul, CEO do fundo árabe Dubai Future Foundation, dos Emirados Árabes Unidos. Ne legenda, ele revelou que o São Paulo foi uma das pautas da reunião.

"Reunião estratégica sobre finanças, inovação, tecnologia, e esportes como plataformas globais. O São Paulo FC também esteve na mesa. No contexto certo", publicou.